CÃO GURU
CÃO GURU
Eu queria ser um cão
Porque o cão vive sem preocupação
Um cão não sabe que horas são
Vive plenamente o agora, vibra em outra vibração
O cão, meu amigo, nem sabe que é um cão
Ele apenas é! Pura essência, nenhuma ilusão.
O cão não tem preconceito, é livre de pensamento, esta humana maldição
Não conhece rancor, raiva, vingança, estes venenos que corroem o coração
Eu queria ser um cão
Porque o cão nunca ouviu falar de expectativa, logo desconhece a frustração
Não há forma, palavras e conceitos na vida de um cão
O cão não sabe o que é Deus, flor, lua ou Platão
O cão é livre de pecado, nunca pode ser culpado e não precisa de religião
Vive calmo e tranquilo, não é refém de opinião
Valoriza coisas simples: um carinho na barriga, um passeio no calçadão
Eu queria ser um cão
Porque o cão da morte não tem noção
Sabe sem saber que aquela pode ser sua última respiração
Por isso prefere ser feliz do que ter razão
E talvez esta seja a principal lição de um cão.
Sentar ao lado de um cão é sentar em meditação
Inspira-se alegria, exala-se gratidão
Eu queria ser um cão
Porque para o cão nenhum segundo é em vão
Seja primavera, outono, inverno ou verão
O cão tem na alegria a sua única estação
O balançar do seu rabinho é o pulsar do seu coração
O cão não quer iate, ouro ou mansão
Uma soneca pós almoço já satisfaz sua ambição
Aprende-se com o cão a viver em contemplação
Se você tem um cão
Sabe que o poema acima não é enganação
Sabe que o cão é antônimo de solidão
E se você não tem um cão, preste bem atenção:
Tenha um cão, então!
Este artigo foi escrito por Mauro Buffalo e publicado originalmente em Prensa.li.