Carnaval, vírus e dúvidas
Foto de Emanuel Tadeu no Pexels
Há um vírus entre nós e ainda não sabemos lidar com ele. Trouxe novidades amedrontadoras e sublinhou nossas desigualdades - quando não foi pretexto para que as aumentassem. Estendemos à saúde pública o que já vivíamos em outras esferas políticas no que tange a discórdia, bateção de cabeça, pressa para que a ciência resolva logo o que é preciso para voltarmos à normalidade (?) anterior.
2021, o ano da graça das vacinas mas nem por isso atenuador. Variantes que eram mais do que previsíveis diante de ganâncias desde sempre. As máscaras serviram não para esconder, mas pra expor de vez quem é quem, arrebentando com a metáfora. Ao menos deixamos de ser estagiários incendiários e paramos de tacar álcool em tudo.
De alguma forma estávamos todos nos guardando para quando o Carnaval chegasse. Foi nosso último respiro de vida antes da debacle em março de 2020. Nada mais justo e roteirizável do que o retorno se dar justo nessa ocasião.
Mas aí varia…
A variante da vez nos encurralou a todos, assim como os governos e gente que já contava com o faturamento dos grandes eventos. É assumir o risco a todo custo?
Nada, oras, porque os donos do mundo sabem o que fazer em primeiro caso. Retirar os pobres e as multidões de cena, e rápido.
As aglomerações trazem maior chance de contágio? Suspendamos o carnaval dos blocos, da rua, dos populares. Mas mantenhamos as festas exclusivíssimas, com poucos milhares reunidos gastando seus milhões. O vírus não há de aparecer, mesmo que tenha chegado ao país por pessoas dessas classes (afinal, quem tem euros sobrando para uma viagem à Europa no Brasil de hoje?).
Ah, e quando tudo se acabar na quarta-feira, mantenhamos ônibus, trens e metrôs bem lotadinhos de trabalhadores na labuta diária, porque há aglomerações e aglomerações, não é mesmo?
Isquindô a quem doer.
Este artigo foi escrito por Marcos André Lessa e publicado originalmente em Prensa.li.