Carros elétricos: mudanças surpreendentes
Os recentes e surpreendentes “breakthrough” em tecnologias para armazenamento e geração de energia estão impulsionando a rápida adoção de carros elétricos, com impactos significativos no segmento automotivo, na matriz energética e para os consumidores.
Os carros elétricos (CE) já estão sendo produzidos e comercializados há algum tempo, mas os recentes “breakthrough” em tecnologia de geração e, principalmente, armazenamento de energia disparou uma acirrada competição entre as montadoras de veículos, com vários lançamentos de novos modelos de carros elétricos e o início de uma demanda em massa pelos consumidores, caracterizando o começo do MAINSTREAM mercadológico desses produtos, impulsionados por vários fatores.
Fatores determinantes para adoção massiva de carros elétricos
Na história dos seres humanos, várias vezes, algumas tecnologias surgiram, demoraram algum tempo sendo utilizada por poucos, até que houve a adoção em massa que resultaram em mudanças significativas. Isso ocorreu com os carros a combustão no início do século 20, TV colorida nos anos 70, telefone celular nas duas últimas décadas, dentre outros, impulsionados por fatores como preço, oferta e demanda.
Segundo a Electrek, o número de consumidores que desejam comprar carros elétricos globalmente atingiu 52%, de acordo com o último Mobility Consumer Index (MCI).
A Bloomberg NEF afirma que a adoção de veículos elétricos deve continuar a aumentar acentuadamente até 2025, à medida que a pressão política global cresce, mais modelos de carros elétricos se tornam disponíveis e o interesse do consumidor aumenta.
A Bloomberg NEF estima que as vendas de veículos elétricos aumentarão de 6,6 milhões em 2021 para 20,6 milhões em 2025. Isso representa cerca de 23% das vendas de veículos novos de passageiros em todo o mundo, contra pouco menos de 10% em 2021.
Quase todas as montadoras de veículos como a GM, Ford, Mercedes, Toyota e outras já anunciaram que não investirão mais em motor a combustão e sim em carros elétricos e estão acelerando os novos lançamentos e prometendo mudar todo portfólio em, no máximo, até 2035.
A Toyota lançou neste ano vários modelos para 2023 e promete chegar a 70 novos carros elétricos até 2025. Metas parecidas estão sendo adotadas por várias montadoras, entre elas a GM, Ford, VW, Nissan, BMW, Mercedes, com muitos benefícios para os consumidores e para o cumprimento de metas referentes a diminuição de emissão de carbono.
A boa notícia para os consumidores é que os veículos elétricos serão mais baratos que os veículos a combustão. Além disso, eles exigem muito menos reparos.
O CEO da Ford, Jim Farley, acredita que o mercado de carros elétricos entrará em breve em uma guerra de preços, com os próximos modelos na faixa de US $ 25.000. Ele acrescentou ainda que isso ocorre porque os custos de produção desses veículos são menores e citou como exemplo o fato de se utilizar metade das luminárias, metade das soldas, 20% menos fixadores etc. “Trata-se de um produto tão simples em relação aos anteriores que permite mudar radicalmente a fabricação”, disse Farley.
A General Motors acaba de anunciar um desconto grande para os preços da linha 2023 do Bold EV e do Bolt EUV (o primeiro é um hatch, o segundo é um SUV). Com cortes chegando a US$ 5.305, dependendo da versão, agora o Bolt é o elétrico mais barato disponível no seu país de origem, os EUA.
A VW tem seu conceito ID.Life que a montadora alemã diz ser uma prévia de seu próximo carro elétrico de US$ 24.000. A Tesla também tem falado sobre o lançamento de um carro elétrico de US$ 25.000, mas o CEO Elon Musk disse recentemente que parou de trabalhar no modelo, pois a empresa se concentra em aumentar a produção de seus veículos existentes.
Além de demanda e preço, fatos recentes tornam quase que irreversível as rápidas mudanças que estão ocorrendo no segmento automotivo, no sentido de substituir todo portfólio para carros com propulsão limpa.
Fatos que contribuem para adoção massiva e rápida para carros elétricos
À medida que o mundo procura reduzir as emissões de carbono, o transporte elétrico é uma das maneiras que está sendo utilizada para atingir as metas de emissão que os países estabeleceram. Para que isso possa ser sustentável, os fabricantes de veículos elétricos precisam garantir que os próprios carros não se tornem motivo de preocupação e acabar com a queima de gasolina e do diesel nos motores o mais rápido possível. “Essa é a única maneira de ainda cumprir o limite acordado de 1,5 grau Celsius acima do período pré-industrial e limitar a crise climática global a um nível suportável”, diz Gero Rueter, editor da DW.
A decisão tomada por ampla maioria no Parlamento da União Europeia (UE), no dia 08/06/2022, foi um ponto de virada histórico. A partir de 2035, nenhum carro ou veículo leve comercial novo com motor de combustão poderá ser registrado na UE. O fim do motor de combustão foi selado na Europa, e isso também se aplica a veículos maiores. Depois de 150 anos no mercado, os motores de combustão em breve serão história e estarão em museus, assim como a locomotiva a vapor.
A Noruega, que possui um território um pouco maior que os estados do Rio de Janeiro e São Paulo juntos, tenta se tornar o primeiro país a eliminar a comercialização e uso de carros com motores a combustão de gasolina e diesel até 2025. Os carros elétricos foram cerca de 64,5% da venda de veículos novos no país no último ano, quase dois a cada três veículos.
Vários Países estão adotando a mesma política em relação ao fim do carro com motor a combustão interna. Os EUA, por exemplo, estabeleceram o prazo de 2030 para que a metade da produção de carros já sejam elétrico. O Japão definiu 2035 como o encerramento da produção de carros a combustão. Outros Países seguem na mesma direção.
Em 2019, os 14 membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e os aliados liderados pela Rússia se reuniram e decidiram reduzir a produção de petróleo, a fim de manter o preço em alta, que logo foi sentida pelos consumidores.
A recente invasão da Ucrânia pela Rússia e os consequentes embargos aos combustíveis dessa potência militar resultou na disparada de preço da gasolina, querosene, diesel e gás e, também, foi sentido pelos consumidores de todo mundo. Intuitivamente, isso despertou nas pessoas o desejo de buscarem alternativas mais baratas e menos dependentes de cartéis de combustíveis fósseis para seus meios de transporte, mas que não tenha muito risco de fornecimento na cadeia de valor dessa nova tecnologia de propulsão.
Redução dos riscos de insumos do sistema de propulsão elétrica
Há, ainda, algumas dúvidas sobre o aumento de insumos para fazer as baterias e a infraestrutura elétrica necessária para abastecer os carros.
Sobre as baterias, os investimentos massivos em pesquisa têm resultado numa evolução surpreendente. A Tesla de Elon Musk se uniu a um dos maiores especialistas do mundo em tecnologia de baterias, Jeff Dahn, um dos pioneiros das baterias de íon-lítio que são usadas na maioria dos dispositivos elétricos hoje. Ele (Dahn) publicou um artigo no início deste mês que fornece detalhes de um projeto de bateria que pode ter um ciclo de vida de mais de 100 anos, informou a Electrek.
A Ford está fazendo parceria e investindo US$ 50 milhões na Redwood Materials, empresa de reciclagem de baterias, liderada por um cofundador da Tesla, JB Straubel. Ele afirma que sua tecnologia de reciclagem pode recuperar, em média, mais de 95% de materiais como níquel, cobalto, lítio e cobre que são encontrados em baterias de veículos elétricos.
Esses materiais podem ser reutilizados. “Nossa parceria com a Redwood Materials será fundamental para nosso plano de construir veículos elétricos em escala com o menor custo possível e com uma abordagem de desperdício zero”, disse o CEO da Ford, Jim Farley.
O problema da infraestrutura, para reabastecer os carros elétrico e não sobrecarregar o fornecimento de energia elétrica já existente, parece estar caminhando para ser solucionado muito rapidamente, pois vários novos players como Toyota, Yamaha, Kawasaki, GM e outros estão se movimentando para explorar esse nicho de mercado. Até mesmo a gigante alemã Bosch anunciou seu próprio desejo de entrar nesse mercado.
A ideia de quase todas elas é utilizar célula de combustível de hidrogênio para gerar a energia em postos de abastecimentos de carros, residências, estação de trens, indústria etc. O objetivo é produzir “hidrogênio verde”, usando energia renovável para alimentar um processo de eletrólise, com as novas tecnologias, tornando essa cadeia de valor mais barata e totalmente limpa.
Parece que a década de 2020 será a conhecida pela adoção massiva do carro elétrico pelos seres humanos e o ano de 2022 entrará para a história como tendo sido o ponto de inflexão para essa mudança.
Este artigo foi escrito por Narcelio Ramos Ribeiro e publicado originalmente em Prensa.li.