Carta Aberta a um Amigo Anticomunista
Querido amigo.
A quanto tempo não nos vemos não é verdade? E antes de mais nada, quero expressar a minha alegria e contentamento em saber que tanto você quanto a sua família estão bem e felizes, e sei disso pois sou seu seguidor fiel nas redes sociais.
Além de poder perceber que tanto você quanto a sua prole gozam de boa saúde e de boa segurança, através de suas postagens, pude perceber (e entender) os seus posicionamentos políticos (que você defende com afinco e galhardia), e isso me deixa feliz, pois sei que um cidadão atuante politicamente só enriquece e fortalece o Estado a que pertence.
No entanto querido amigo, suas postagens também evidenciam um visceral ódio ao comunismo e a tudo o que se parece com ele, por mais rasos que pareçam ser os seus conhecimentos sobre este tema. Tanto é, que me parece que ao seu ver, o comunismo, o socialismo, o esquerdismo e o feminismo são a mesma coisa, quando na verdade são termos diferentes e alguns com significados muito distintos entre si.
Um outro ponto que me chama muita atenção nas suas manifestações anticomunistas, é a sua usual tendência a sempre relacionar as ditaduras (e a consequente perda de liberdade relacionada a elas) com o espectro comunista que parece te assombrar, como se em todas as ocasiões históricas onde um governo oprimiu o seu povo através de um regime ditatorial este estivesse pautado sob a égide vermelha da foice e do martelo bolchevique, e é com relação a isso querido amigo a que esta humilde missiva se destina. Seu intuito é trazer um pouco de luz ao seu pensamento, enquanto te esclarece sobre esse seu brutal equívoco.
Ao longo da História, os homens sempre buscaram uma forma de se organizar socialmente a fim de serem mais produtivos e prósperos como indivíduos, isto culminando no pacto ou contrato social, onde segundo a doutrina do mesmo nome morre o “bicho homem” e nasce o cidadão. Nesta ação, temos como grande referencial o modelo da Pólis Grega da Antiguidade, que ainda hoje serve de régua e farol para a constituição das várias sociedades modernas. Mas infelizmente querido amigo, nem esta estava a salvo dos tiramos que a queriam governar segundo seus próprios interesses, e estes precisavam sofrer com o ostracismo para refrear sua ganância e crueldade. E a estes exemplos seguiram-se outros, pois foram dezenas, centenas, milhares os episódios históricos onde um líder maltratou o seu povo e cerceou sua liberdade movido por sede de poder.
No mundo Contemporâneo não foi diferente, pois nesta nossa época, homens maus também se levantaram empunhando as mais diferentes bandeiras ideológicas e conseguiram obter o poder e o direito de governar. Só no Brasil, em menos de duzentos anos, passamos por três períodos distintos de ditadura, e todas elas orquestradas e perpetradas por indivíduos que se identificavam com o “moral” e o “tradicional”, e que hoje seriam seguramente taxados como sendo de “Direita”. O primeiro episódio ocorreu durante o Primeiro Reinado do recém-nascido Império Brasil. Nele, o Imperador D. Pedro I não só dissolveu a Assembleia Constituinte como prendeu alguns de seus membros. Não satisfeito, o Imperador outorgou (impôs) sua própria constituição onde criava um quarto poder (o Moderador) representado por ele próprio.
O segundo episódio, deu-se nos anos 30 do Século XX, quando Getúlio Vargas, um militar caudilho que se identificava com as doutrinas fascistas europeias instituiu a Ditadura do Estado Novo, onde pautado em um discurso populista e nacionalista perseguiu, prendeu, matou, torturou e exilou opositores políticos, dentre eles muitos comunistas (caso de Olga Benário que mesmo sendo judia foi deportada para a Alemanha Nazista onde foi assassinada em um campo de concentração). O terceiro e talvez mais referenciado período ditatorial brasileiro se deu entre os anos de 1964 e 1985. Neste vinte e um anos, militares se revezaram no poder conduzindo o Estado Brasileiro com mãos de ferro, também prendendo, torturando, exilando e matando opositores, sempre alerta às ameaças comunistas.
Tentando ser breve, neste referenciado não citarei os exemplos externos ao nosso país, pois o texto desta carta ficaria por demais extenso, mas exemplos não faltariam de líderes não comunistas que mataram, prenderam, torturaram e exilaram seus concidadãos defendendo a sua ideologia. Sendo assim amigo, concluo que a ganância, a sede de poder e maldade existem em qualquer lugar do mundo e em qualquer sociedade, e que maus líderes e governos cruéis vestem todas as cores e não só o vermelho.
Sendo assim, me despeço e lhe faço votos de saúde e paz.
Imagem de capa - Escrevendo uma carta. (Via Pexels)
Este artigo foi escrito por R Castro e publicado originalmente em Prensa.li.