Caso Amarildo: Um retrato da constante violência nas comunidades do Rio
Recentemente os noticiários foram tomados com mais uma operação policial no Rio de Janeiro, e lembramos o trágico fim de um ajudante de pedreiro, que desapareceu, após ser preso por policiais militares da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Rocinha.
A operação realizada contra uma quadrilha de roubos de veículos, cargas e a bancos pelo grupo de elite das Policias Militar e Civil no dia 21 de Julho de 2022, no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro. Resultou em 18 mortos, sendo 15 suspeitos, um policial e duas moradoras sem ligação com a quadrilha, segundo a polícia do estado. A atuação se torna a quarta operação policial mais letal da história, seguido das ações na Baixada Fluminense com 19 mortos, Vila Cruzeiro com 25 mortos e em primeiro lugar neste ranking a operação no Jacarezinho com 28 mortos.
Um dos episódios mais lembrados de violência nas comunidades da capital fluminense, ocorreu com Amarildo Dias de Souza, o ajudante de pedreiro de 47 anos, que voltava de uma pescaria no dia 14 de julho de 2013, foi abordado durante a operação batizada de “Paz Armada”, que mobilizou mais de 300 policiais na comunidade da Rocinha, contra uma quadrilha que estava praticando arrastões na proximidade da favela, foram detidas 30 pessoas, entre elas Amarildo que segundo PMs foi confundido com um traficante de drogas, foi conduzido por policiais militares há Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Rocinha e de lá nunca mais foi visto, segue desaparecido até hoje.
O caso de Amarildo foi o único a ganhar repercussão entre os 5.822 desaparecidos contabilizados no ano de 2013, pelo Instituto de Segurança Pública (ISP) do Rio de Janeiro. A partir daí o mundo passou a perguntar: “Cadê o Amarildo?”. Com grande pressão da sociedade as investigações foram feitas e foram concluídas que ele foi brutalmente torturado, espancado e morto. Após três anos de processo, 12 dos 25 policiais denunciados foram condenados pelo desaparecimento e morte do ajudante de pedreiro.
Segundo o ISP-RJ, de janeiro a junho de 2022, foram 2.595 casos de pessoas desaparecidas no Rio de Janeiro, contra 1.893 no mesmo período de 2021, um aumento de 702 (37,1%) casos. No mesmo período de 2022 houve 628 casos de mortes por intervenção de agente do estado, contra 806 casos de 2021, uma queda de 178 (22,1%) casos.
Veja abaixo um comparativo durante os anos de 2011 a 2021, dos números de desaparecidos e mortos por intervenção de agente do estado, com base em dados obtidos na série histórica do Instituto de Segurança Pública (ISP) do Rio Janeiro.
Observamos que ao longo de 10 anos o número de desaparecidos relativamente se manteve estável, exceto nos anos de 2020 e 2021, durante as medidas restritivas impostas pela pandemia de COVID-19, porém o número de mortes por intervenção de agente do estado, cresceu vertiginosamente nos últimos anos, mesmo durante a pandemia, período que houveram as operações mais letais.
Na tentativa de reduzir os números, a Secretaria de Estado de Segurança, criou o Sistema de Metas e Acompanhamento de Resultados (SIM) que tem o objetivo de reforçar a integração entre as Polícias Militar e Civil, na busca da redução da criminalidade, premiando o alcance das metas atingidas pelas duas instituições.
Dentre os Indicadores Estratégicos de Criminalidade (IEC), está o de Letalidade Violenta (homicídio doloso, morte por intervenção de agente do estado, latrocínio e lesão corporal seguida de morte) que objetiva a redução dos índices contemplando com premiações semestrais e individuais, os profissionais de Segurança Pública.
Este artigo foi escrito por Lucas Gomes e publicado originalmente em Prensa.li.