O CEO de longa data da desenvolvedora de games Activision Blizzard, Bobby Kotick, supostamente sabia há anos sobre uma variedade de alegações de assédio sexual e estupro em sua empresa.
Uma grande investigação do jornal The Wall Street detalha vários exemplos específicos de assédio e estupro na empresa.
Bobby Kotick, de 58 anos, é um dos executivos-chefes mais bem pagos de uma empresa de capital aberto dos Estados Unidos, com um pacote de remuneração avaliado em US $ 154 milhões.
Em outubro, depois que o The Wall Street começou a colher informações para a investigação, Bobby disse aos funcionários que pediria ao conselho que reduzisse sua remuneração anual.
Além disso, Bobby disse em comunicado que empresa estava implementando uma política de tolerância zero contra o assédio e encerrando a arbitragem obrigatória para queixas de assédio e discriminação.
De acordo com a reportagem, Kotick estava ciente dessas alegações e, em pelo menos um caso, supostamente o CEO interveio para manter o funcionário que foi acusado de assédio sexual, apesar do departamento de recursos humanos da empresa recomendar sua demissão.
Na sequência do relatório, mais de 1.000 funcionários atuais da Activision Blizzard assinaram uma petição pedindo a demissão de Kotick.
"Nós não temos mais confiança na liderança de Bobby Kotick como CEO da Activision Blizzard", diz a carta.
"As informações que vieram à tona sobre seus comportamentos e práticas na gestão da nossa empresa vão contra a cultura e integridade que exigimos de nossa liderança [...]
Pedimos que Bobby Kotick renuncie ao cargo de CEO da Activision Blizzard e que os acionistas possam selecionar um novo CEO sem a indicação de Bobby, que sabemos que possui uma parte substancial dos direitos de voto dos acionistas".
Os funcionários não são os únicos a pedir a demissão de Kotick. Um grupo de investidores da Activision, embora uma pequena porcentagem, está apoiando o movimento.
"Está claro que a liderança atual falhou repetidamente em criar um local de trabalho seguro, uma função básica de seu trabalho", disse Dieter Waizenegger, diretor do Strategic Organizing Center Investment Group, ao The Washington Post.
A Activision Blizzard precisa de um novo CEO, presidente do conselho e diretor independente líder com experiência, conjunto de habilidades e convicção para realmente mudar a cultura da empresa", disse ele.
Desde o processo na Califórnia, a Activision recebeu mais de 500 relatórios de funcionários e ex-funcionários alegando assédio, agressão sexual, intimidação, disparidades salariais e outros problemas, de acordo com pessoas familiarizadas com o assunto.
A porta-voz da Activision disse que a empresa está investigando as alegações usando equipes de dentro e de fora da empresa.
O que Bobby Kotick sabia
A Activision entrou em uma grande confusão nos últimos meses por várias investigações regulatórias sobre alegadas agressões sexuais e maus-tratos de funcionárias há anos.
Kotick disse aos diretores e outros executivos que não estava ciente de muitas das alegações de má conduta e minimizou outras, de acordo com pessoas familiarizadas com o assunto e documentos internos.
Esses documentos, que incluem memorandos, e-mails, solicitações regulatórias, entrevistas com ex-funcionários e outras pessoas familiarizadas com a empresa, no entanto, lançaram a resposta de Kotick sob uma luz diferente.
Os documentos apontam que ele sabia das denúncias de má conduta de funcionários em muitas áreas da empresa e não informou ao conselho administrativo, mesmo depois que os reguladores começaram a investigar os incidentes em 2018.
Alguns funcionários que se desligaram, acusados de má conduta, foram elogiados na saída, enquanto seus colegas de trabalho foram convidados a permanecer em silêncio sobre os incidentes.
Na entrevista para o The Wall Street Kotick contestou que a Activision não seja acolhedora com as mulheres e disse que os exemplos de má conduta identificados pelo jornal são exceções que não refletem a empresa como um todo.
Novos relatos são descobertos
Todos os relatos aqui citados fazem parte da investigação liderada pelo The Wall Street Journal.
Em 2017, Dan Bunting, codiretor do estúdio Treyarch da Activision, foi acusado por uma funcionária de assediá-la sexualmente após um happy hour, de acordo com pessoas a par do incidente.
O departamento de recursos humanos da Activision e outros supervisores lançaram uma investigação interna em 2019 e recomendaram que ele fosse demitido, mas Kotick interveio para mantê-lo, disseram essas pessoas.
A porta-voz da Activision, Helaine Klasky, disse que uma investigação externa foi conduzida em 2020, “Depois de considerar ações potenciais à luz dessa investigação, a empresa optou por não demitir Bunting, mas impor outras medidas disciplinares”, disse ela.
Dan Bunting deixou a empresa depois que o The Wall Street perguntou sobre o incidente.
Em outro caso, a advogada, Harmeet Dhillon, enviou a Kotick um e-mail que dizia que Eduard Roehrich, havia sido acusado de assédio sexual.
Uma funcionária, Ashley Mark, disse que reclamou para os supervisores e RH em 2017 sobre assédio por parte de Roehrich, inclusive em uma festa da empresa em que havia bebedeira.
Roehrich confirmou que foi investigado por um incidente de assédio em uma festa do escritório em 2017 e disse "não estava claro o que exatamente aconteceu e o que não aconteceu, uma vez que havia muito álcool envolvido".
Ele acrescentou que "foi estúpido da minha parte e totalmente desnecessário ficar bêbado". Ele disse que teve uma licença remunerada de duas semanas e permissão para permanecer na Activision em um cargo diferente.
Em uma carta do RH para ele em 2017, que foi compartilhada, a Activision pediu que ele “mantivesse este assunto confidencial”.
Roehrich, um cidadão alemão, disse que foi despedido em 2018 depois de ter discutido com seu gerente sobre seu green card. A porta-voz da Activision confirmou que ele foi demitido por esse motivo.
O consumo excessivo de álcool tem sido associado a inúmeras reclamações de suposta conduta imprópria de funcionários na Activision, de acordo com ex-funcionários.
Klasky disse que em breve a empresa proibirá o álcool no escritório.
A escolha de uma mulher para “tapar o sol”
Em agosto, no meio de toda a confusão, a Activision nomeou uma funcionária de longa data, Jennifer Oneal, para ser a co-diretora da Blizzard, tornando-a a primeira mulher a liderar uma das unidades de negócios da empresa.
No mês seguinte, ela enviou um e-mail a um membro da equipe jurídica da Activision no qual professava falta de fé na liderança da Activision para mudar a cultura, dizendo que “estava claro que a empresa nunca priorizaria nosso pessoal da maneira certa”.
Oneal disse no e-mail que havia sofrido assédio sexual no início de sua carreira na Activision e que recebia menos do que seu colega homem à frente da Blizzard, e queria discutir sua renúncia.
“Fui simbolizada, marginalizada e discriminada”, escreveu Oneal, que é asiática-americana e homossexual.
A empresa anunciou em 2 de novembro que Jennifer deixaria a Blizzard no final do ano. Oneal disse em um comunicado por e-mail que tomou a decisão que era melhor para ela e sua família.
Como tudo começou
Em junho deste ano, o Departamento de Moradia e Emprego Justo (DFEH) da Califórnia entrou com uma ação judicial contra a Activision Blizzard após coletar "inúmeras reclamações sobre assédio ilegal, discriminação e retaliação" na empresa.
Funcionários com quem o DFEH falou disseram que a Blizzard tem uma cultura de "menino de fraternidade" e que tem sido um "terreno fértil para o assédio e a discriminação contra as mulheres".
Você pode ler mais sobre o que aconteceu e como tudo começou clicando aqui.