Imagem: REUTERS/Dado Ruvic/Ilustração
A China tem um longo histórico de disputas com as criptomoedas, tendo imposto restrições em operações com ativos digitais pelo menos sete vezes ao longo dos anos.
Mas dessa vez, o Banco do Povo - banco central chinês - foi mais enfático e proibiu minerar e negociar qualquer criptoativo digital no país. Fica proibida também a atuação de corretoras que operam fora do território chinês, assim como dos seus funcionários - sejam nativos ou não.
Com um comunicado assinado por entidades do governo chinês, o Banco do Povo não deixou dúvidas quanto a severidade da mudança. Quem estiver envolvido nas atividades, estará sujeito a processos legais, caso descobertos.
“Bitcoin, tether e todas as criptomoedas não são moedas correntes e não podem circular no mercado”, - Banco do Povo da China em comunicado.
Na prática, a negociação de criptomoedas já havia sido proibida na China desde 2019. Mas continuou sendo realizada online por meio de transações no exterior.
Em abril, a China já havia proibido a mineração de criptomoedas, sob o pretexto de que a atividade consumia energia demais e contribuía para a poluição no país.
Fora divulgada a informação de que o país precisava desligar as máquinas de mineração de bitcoin para manter a meta de redução de carbono do país. Boa parte da energia do país vem da queima do carvão, o que faz a mineração de bitcoin altamente poluente.
Para se certificar de que não haverá mineração clandestina, as autoridades provinciais e municipais devem observar e relatar consumos anormais de energia.
As criptomoedas sofrem impacto...
Após o anúncio do Banco do Povo, o preço do Bitcoin caiu mais de US$ 2 mil (R$10 mil) – a China é um dos maiores mercados de criptomoedas do mundo, por isso, as oscilações afetam o valor global das moedas virtuais.
...mas logo se recuperam.
Alguns dias depois, o bitcoin já estava operando em alta de 1,30%, sendo cotado a US$ 43.667,11 (R$ 233.281,48).
Em maio deste ano, a preocupação dos investidores era de que a rede pudesse ficar mais lenta e até mesmo desprotegida com as regulamentações da China, pois o país representava 65% do hashrate de mineração do bitcoin.
Hoje, a distribuição das redes está mais espalhada pelo mundo, deixando a China com 46% da taxa de mineração de bitcoin. Os Estados Unidos, por exemplo, atingiram 35,4% da taxa de todo o mundo, de acordo com a Universidade de Cambrigde.
Por esse e outros motivos, a China não detém mais tanto poder no mercado de criptomoedas.
Os mineradores migram para outros países
Apesar de consumir menos do que o sistema bancário atual, a mineração utiliza muita energia elétrica. O problema na China é que a matriz energética vem majoritariamente de combustíveis fósseis.
Em outros países, como o Paraguai, a matriz energética é baseada em hidrelétricas, por isso, a mineração não produz tanto CO2 – o causador do impacto na meta de emissões da China.
Com a saída do país, os primeiros mineradores escolheram regiões próximas, como Uzbequistão e Mongólia, para religarem suas máquinas. Mas, logo, países mais distantes começaram a incentivar a ida de mineradores para os seus territórios.
Energia barata e clima frio
São os dois requisitos básicos para a mineração de criptomoedas.
Com energia barata, a atividade se torna mais rentável; enquanto o clima frio mantém as máquinas para mineração a uma temperatura estável, sem precisar de um ar-condicionado.
Com toda mudança, os Estados Unidos aproveitaram a oportunidade para se tornar o novo centro da mineração mundial, e passou a oferecer desconto na compra de máquinas, luz, entre outros.
Os estados do Texas, Miami e Kentucky hoje são centros em expansão deste tipo de atividade, com startups dos setores de criptomoedas, criptografia e blockchain mudando suas sedes para essas regiões.
Para os especialistas do mercado, essa mudança de mineração da China para os Estados Unidos é positiva, pois restrições inesperadas como acontecia com o país asiático são menos prováveis com os EUA.
De acordo com dados da Cambridge, a China, que chegou a corresponder por 75% de toda taxa de mineração global, não fornece porcentagem significativa de hashrate para a rede. Em contrapartida, os Estados Unidos saíram de 4,1% para os 35,4%.