Cicloturismo em Santa Catarina
Santa Catarina é o estado que possui o maior potencial turístico do Brasil. Não há equívoco nenhum em afirmar isso. O estado é conhecido por suas belas praias, pela neve que cai na região serrana, pelo turismo rural do seu interior, pelas baladas noturnas, turismo de negócios, e até pelo turismo religioso em Nova Trento, cidade da Madre Paulina. Tem gosto para todo mundo.
Mas há mais um tipo de turismo que é pouco conhecido pela grande massa dos turistas: o circuito de cicloturismo do Vale Europeu.
Andar de bicicleta é bom para mente, corpo e espírito, seja no parque, na rua ou na praia. É uma poderosa válvula de escape para sairmos daquela conturbada rotina de trabalho e estresse. Faz aquela higienização que nos acalma a mente, ajuda a queimar calorias, fortalece o coração e proporciona muitos outros benefícios. Quem não gosta de sentir o vento soprando no rosto enquanto pedala? É um afago da natureza, um cafuné de Deus direto em nossas cabeças.
Agora, imagine andar de bike tendo como cenário vastos campos verdes por todos os lados, com riachos de água cristalina (e gelada) que cortam os pastos ladeira abaixo, sentindo a calma dos animais ao redor, desfrutando de um “dedo de prosa” que só a gentileza e hospitalidade do povo do interior tem? Pois é, é isso (e muito mais) que você irá encontrar no Circuito de Cicloturismo do Vale Europeu em Santa Catarina.
O trajeto tradicional abrange 11 cidades, totalizando 330 km, e pode ser feito em 7 dias, numa média de 40km a 50km diários. Há também uma rota alternativa onde se acrescenta mais três cidades no roteiro. Mas, atenção: não é indicado para iniciantes. Apesar de ser um passeio totalmente contemplativo, apresenta dificuldade de grau 1 a 5, com uma altimetria superior a 1.500m, ou seja, exige-se um pouco de preparação para realizá-lo.
Se você gosta de tomar banho de cachoeira, respirar ar puro, ouvir o canto dos passarinhos, comer um bolinho de fubá com aquele cafezinho preto com os moradores locais, você precisa realizar esse passeio. É imperdível e inesquecível.
O roteiro é dividido por etapas e cabe a você escolher se quer realizá-lo inteiro ou não. Em todas as cidades há pousadas e hotéis que são acostumados a receber ciclistas do país inteiro. Você pode fazer o circuito de carro também, mas, cá entre nós, não tem a mesma graça, né?
Tem pessoas que buscam o contato com a natureza ao máximo e preferem acampar pelo caminho. Mas se você é daqueles (como eu) que gostam de uma cama quentinha, chuveiro para tomar banho, ter a segurança de um sono tranquilo e acordar com cafezinho da manhã pronto, hospedagens não faltam. Depois de um dia todo pedalando, finalizar o trajeto e ainda ter que montar uma barraca e cozinhar, é para poucos! Esse pessoal tem minha admiração, mas definitivamente, não é a minha, mesmo.
O circuito já está todo estruturado para receber turistas. Já existem agências de turismo especializadas e credenciadas que oferecem pacotes completos com hospedagem, alimentação, transfers de aeroporto, aluguel de bicicleta e até aluguel de carro de apoio, caso precise. Mas se você é desses lobos solitários que gostam de uma aventura solo, o trajeto inteiro é autoguiado e você pode fazê-lo sozinho tranquilamente. Só não esqueça de garantir suas reservas e adquirir sua planilha de informações (pode ser baixado na plataforma Wikiloc) que irá te guiar e orientar o caminho certo a seguir, pontos turísticos para visitar, características do percurso e as possíveis dificuldades que podem surgir à sua frente. O guia é de extrema importância.
Houve situações em que eu estava totalmente sozinho e me deparei com bifurcações em que, se estivesse sem o guia, poderia ter escolhido o rumo errado. Siga sempre a seta amarela (você vai entender quando fizer). Uma dica importante: não economize na água. Há trechos que são realmente longe de tudo, onde não há nenhuma vila, casa, riacho ou qualquer outra coisa que possa matar sua sede. Portanto, não economize na H2O.
AS CIDADES
O itinerário começa na cidade de Timbó, cidadezinha de colonização alemã e italiana, também conhecida como a Pérola do Vale, que tem inúmeros atrativos, sendo o principal deles a hospitalidade e cortesia do povo. Depois de pedalar pouco mais de 40 km, Pomerode, a cidade mais alemã do Brasil, é a próxima parada. Aproveite para descansar, caminhar pela cidade, desfrutar da sua culinária peculiar e tomar aquele merecido chopp gelado. No segundo dia, partimos rumo a Indaial, cidade colonizada por alemães, italianos e poloneses. Esse trajeto é um dos mais bonitos. Lembro que passei por campos com gramas tão verdes, tão alinhadas, que parecia que estava em um cenário do Teletubbies.
O fino riacho que corta o pasto, as vacas comendo calmamente, o barulho da água batendo nas pedras, é realmente poético. As casas que encontramos por esse caminho, apesar de estarem longe de tudo e de todos, conservam um capricho na poda de seus jardins, na exuberância e variedade de flores, que fazem nossos olhos saltarem de admiração.
Na sequência vêm Ascurra, Apiúna e Rodeio, um trajeto recheado de atrativos. Você encontrará no seu caminho a extensa Ponte Pênsil do Warnow que cruza o Rio Itajaí Açú, pode fazer rafting e rapel em Apiúna, vai se deparar com capelas charmosas, cachoeiras, arquiteturas italianas magníficas, e até visitar uma vinícola em forma de castelo, onde poderá fazer várias degustações. Dica (mais uma): não se empolgue no vinho porque tem chão pela frente ainda.
Saindo de Rodeio partimos rumo a Benedito Novo e Dr. Pedrinho, e é aí que a coisa fica difícil. Prepara a batata da perna! Esse é o trajeto das impiedosas subidas, pedalada puxada, e que vai exigir o máximo do seu preparo físico. Tudo sob o olhar das estátuas dos 64 anjos e de um Cristo de 9m de altura de braços abertos abençoando seu passeio. É lindo!
Deus caprichou na natureza desse caminho que, a todo momento, é cercado por bosques, jardins, grutas, riachos e cachoeiras. Seguimos rumo a Rio dos Cedros, e durante o caminho você poderá conhecer a Cachoeira Véu da Noiva e a Gruta de Santo Antônio, verdadeiros caprichos da mãe natureza, contornados por imponentes montanhas. No dia seguinte, a próxima parada será em Palmeiras. Aproveite para conhecer a Barragem do Rio Bonito, que possui 32.000.000m³ de água represada nos seus 9km de extensão. Você ainda vai se deparar com imensos paredões de pedra e uma vasta Mata Atlântica pela frente. Desfrute!
E o último dia chegou! Seguimos em direção a Timbó, num caminho com bastante descidas (ufa!), mas antes passaremos por Benedito Novo, tangenciando o Rio Benedito para, enfim, cruzarmos a passarela sobre o rio e chegarmos a Timbó, onde você poderá retirar seu certificado de conclusão do circuito.
Parabéns e volte sempre!
No site www.valeeuroeucatarinense.com.br você poderá obter todas as informações do circuito, ter acesso ao mapa do trajeto, indicações de hospedagens em todas as cidades, dicas de gastronomia, e entrar em contato com operadoras e agências de turismo especializadas em cicloturismo. Vá com os amigos, com a família, com o “mozão”, ou até mesmo sozinho. Mas vá!
Vale a pena conhecer o Vale!
Este artigo foi escrito por Mauro Buffalo e publicado originalmente em Prensa.li.