Citröen: que papelão!
Já tentou carregar uma caixa de papelão molhada? Não se trata de uma experiência agradável, tampouco prática. Sejamos honestos, é uma tarefa inglória.
A chance de chegar ao destino com a caixa intacta são, no mínimo, preocupantes. Mas tudo bem: você não precisa fazer o transporte à pé, como no tempo do pneu lascado. Graças à tecnologia, já inventaram o automóvel.
Agora, imagine: você carrega sua úmida caixa de papelão – quem sabe, encharcada – num dos mais modernos carros que já viu, com o estado da arte da tecnologia automobilística da indústria europeia.
Só que a carroceria e outras partes (cruciais) da estrutura do carro são feitas de… papelão. Começa a chover.
Fim do primeiro ato.
Leve e sustentável
Esta não foi a descrição de um pesadelo, mas uma possibilidade real. O tal carro de papelão existe mesmo. Lançado pela francesa Citröen, tem em seu nome um delicioso trocadilho: Oli. A pronúncia é idêntica a Wall-E, o simpático robozinho nostálgico da animação da Disney/Pixar.
Assim como o robô, que vivia coletando o lixo, o Oli é praticamente feito de… materiais reciclados. Inclusive a já citada carroceria feita de papelão. Mas não se preocupe: revestido com uma fibra de carbono e resina de poliuretano, o papelão ondulado suporta até um adulto de mais de cem quilos sobre a estrutura. Mesmo na chuva.
E não pense que o Oli vem a ser um carrinho, algo na linha “bonitinho” como um Mobi ou um Smart. O bichão é parrudo, do porte de um SUV. E, ainda por cima, é uma caminhonete, excelente para carregar caixas de papelão. Na chuva.
Falamos em “bonitinho”. Apesar do design inovador, como qualquer profissional de marketing adoraria dizer, chamar o Oli de bonito não é bem um consenso. Em algumas fotos, dá pra ficar em dúvida se o carro está indo ou voltando. Como o Floquinho, cachorro do Cebolinha.
Sabe aqueles carros que você desenhava na infância, com ângulos que pareciam desafiar a física? Pois é, algum designer francês os transformou em realidade. Mas não vamos chamar de feio. Podemos chamar de “anti-estético”. Mas é sem dúvida moderno e um tanto original.
Lembra que, na animação, o Wall-E carregava suas baterias no sol? Pois é, seu homófono automobilístico ainda não é capaz disso, mas passa longe dos postos de combustíveis tradicionais. Seu motor é totalmente elétrico. Segundo a Citröen, carrega em cerca de meia hora, com autonomia para rodar uns 400 quilômetros. A velocidade não fica para trás: atinge algo em torno de 110 por hora.
As proporções trazem novidades inesperadas: com quase cinco metros de comprimento e quase dois de largura, esperava-se que o carro fosse extremamente pesado e, portanto, inviável para rodar com um motor elétrico econômico. Nada disso, ele pesa algo perto de uma tonelada. Qualquer veículo no mesmo padrão costuma pesar em torno de duas toneladas e meia.
O segredo está no papelão
Segundo a montadora, os materiais usados no Oli são pelo menos 50% mais leves do que nos carros “comuns”. Com um acabamento bastante simples, apesar de bonito, é quase franciscano em seus acessórios. Portanto, só para começar, não há centenas de metros de fiação elétrica cruzando seu interior.
O sistema de mídia do carro consiste em ter um espaço no painel para que o motorista encaixe seu smartphone. O som é distribuído para caixas bluetooth, que podem até ser mudadas de lugar, conforme o gosto do freguês.
Até os parachoques, parte sensível da carroceria, são feitos de material reciclável e também muito mais leves que os da concorrência, apesar de muito resistentes. As rodas não são feitas de material descartado, porém também trazem uma novidade: em vez de feitas de aço, têm uma mistura entre aço e alumínio, o que por si já deixa o carro 15% mais leve que os demais.
Dúvida calórica
Com a intenção de ser um modelo experimental e extremamente sustentável, o Oli não se restringiu somente a manter o básico na estrutura, como foi o caso de dispensar um sistema de som interno convencional. O carro também não conta com sistema de ar condicionado.
Aqui parece residir um empecilho para sua comercialização em países mais tropicais, como é o nosso caso. Imagina-se que o público que vá adquiri-lo seja de classes sociais mais abastadas, possivelmente não muito propícias a querer suar num veículo de alto padrão. Afinal, mesmo quem tem essa pegada ecológica sente calor.
De qualquer modo, ainda não se sabe se o Oli será comercializado aqui nestas bandas. Vamos esperar para ver. Enquanto isso, continuamos a carregar nossas caixas de papelão em carros convencionais.
Este artigo foi escrito por Arthur Ankerkrone e publicado originalmente em Prensa.li.