Clarice Lispector e ato de escrever
Dia desses, li um texto do ano de 2017, de uma aluna , à época estudante de uma escola de ensino médio, que falava sobre o ato de escrever e sobre o fato de ter se deparado, em meio às lições, com um texto de Clarice Lispector . E o quanto esse texto a inspirou.
Dizia, "(...) nasci para escrever. A palavra é meu domínio sobre o mundo".
Não pude deixar de lembrar que uma das obras de Lispector foi tema de um dos trabalhos que desenvolvi na graduação, há décadas.
Clarice Lispector é uma autora profunda e complexa.
Mas quando li a frase que inspirou aquela aluna, fui direcionada automaticamente para as minhas próprias experiências. E para as tantas experiências e aprendizagens que me trouxeram até aqui.
"A palavra é meu domínio sobre o mundo". Aqui, leio: sobre o meu próprio mundo.
Estive afastada do trabalho por um tempo, por questões de saúde. E naquele momento, fazer as coisas mais banais não era um plano nem uma vontade. Eram coisas das quais eu queria distância. Queria distância de mim mesma. Isso incluia escrever, algo de que sempre gostei.
O mundo íntimo, o mundo interior, às vezes, pode ser autodestrutivo, combativo e altamente bélico.
Então, depois de um tratamento, após entrar em uma reconexão longa comigo mesma e com o desejo de escrever, posso dizer que as palavras são minha forma de dominar o meu mundo. De tentar construir arte no lugar de poeira, buscando uma versão melhor de mim mesma e trocando escombros por significados.
Márcia Nunes
Escritora, Formada em Letras desde 1998.
Este artigo foi escrito por Márcia Nunes e publicado originalmente em Prensa.li.