‘Clickbait’ da Netflix é um alerta sobre os perigos da internet
Imagem: Divulgação / Netflix
Um vídeo percorre a internet com um homem explicitamente machucado segurando uma placa que diz: “Eu abuso mulheres” e, logo depois, outra com a frase “com 5 milhões de views, eu morro”. Um segundo vídeo é transmitido: “Eu matei uma mulher”.
Conforme o número de visualizações cresce, também aumenta o desespero na família, que fica completamente desorientada pelos eventos que, para eles, não fazem sentido algum.
Quem está por trás do sequestro de Nick Brewer? Imagem: Divulgação / Netflix
Nick Brewer (Adrian Grenier) é, aparentemente, um homem comum, com dois filhos, esposa e um emprego como fisioterapeuta de atletas do ensino médio em uma escola da Califórnia.
Imagem: Divulgação / Netflix
Não há nada de suspeito na dinâmica dessa família, até que Nick se torna repentinamente irritado e agressivo com as provocações da sua irmã Pia (Zoe Kazan), durante um jantar em família, logo no início da série. Pia não parece se dar bem com a sua cunhada, Sophie (Betty Gabriel) e logo percebemos que a família tem seus conflitos.
Mas qualquer desentendimento fica de lado quando Nick some repentinamente.
Uma visão única de cada personagem
Cada um dos 8 episódios de Clickbait é contado a partir da perspectiva de um dos personagens: A Irmã, O Detetive, A Esposa, A Amante, O Repórter, O Irmão, O Filho e, por último, A Resposta.
O primeiro episódio começa com a visão de Pia (Zoe Kazan). É ela quem encontra o vídeo de seu irmão, em um cenário típico de quem foi sequestrado: fundo preto, e nada que possa – a princípio – ser usado para reconhecer o local. Sua reação é de choque e incredulidade.
Zoe Kazan é o destaque da série. Ela entrega uma personagem complexa, impulsiva e mais interessante que qualquer outro. Pia é intensa e não mede esforços para demonstrar sua revolta com toda a situação e se esforça para manter a integridade do seu irmão. É impossível não compartilhar da raiva e impaciência dela.
Zoe Kazan como Pia, a irmã que não descansa até encontrar Nick. Imagem: Divulgação / Netflix
A trama se complica conforme cada indivíduo mostra sua visão dos acontecimentos, o que os precedeu e, especialmente, o que eles escondem.Também somos apresentados ao longo da série à personagens secundárias, porém, importantes para o desenvolvimento da história, aumentando o mistério ao redor da vida de Nick, e os questionamentos dos espectadores.
Seria Nick um criminoso disfarçado de um homem de família? Sua mulher Sophie certamente acredita que não. Em uma declaração à mídia direcionada ao sequestrador, ela diz: “você escolheu o homem errado.”
Sophia Brewer fala com a imprensa com a esperança de que o sequestrador empatize com a dor ela. Imagem: Divulgação / Netflix
Existe um desespero e grande esforço de Pia e Sophia, além dos filhos do casal, em entender o que está acontecendo e como eles podem contribuir com a investigação da polícia, que não elimina as mulheres como suspeitas.
Há, ainda, o uso de um aplicativo que ajuda a mapear a possível localização de Nick é usado não só pela família como pela polícia, em um determinado momento. Mais uma vez, vemos a presença da tecnologia do desenrolar da história – dessa vez, de forma positiva.
Crimes cibernéticos também são os vilões?
“Clickbait” é algo comumente usado na internet para atrair pessoas a clicarem em links com conteúdos enganosos ou sensacionalistas. Basicamente, é uma isca para “fisgar” usuários com o intuito de gerar mais tráfego ao site.
Essa tática não foi a única prática virtual utilizada na trama. A série nos faz questionar sobre nossa relação com a internet, especialmente com redes sociais e aplicativos de relacionamento.
“Catfishing”, quando alguém cria um perfil fake para enganar pessoas que estão, geralmente, procurando por amor em sites de relacionamento, também uma técnica usada implicitamente. E apenas do meio para o final da produção de Tony Ayres e Christian White, se torna mais óbvia para compor o quebra cabeça da história.
Cada dia fica mais fácil se tornar outra pessoa na internet, ou mesmo usar a identidade de alguém de forma quase imperceptível com uso de ferramentas especializadas. Os mais desavisados podem ser uma presa fácil para esse tipo de criminosos, que estão cada vez mais criativos em suas táticas de crimes cibernéticos, com o recente Ataque da Mão Fantasma.
O cocriador Ayres disse que “As pessoas podem cair nessas tocas de coelho que parecem inocentes, especialmente com a internet, especialmente agora, e que desencadeiam consequências surpreendentes e às vezes trágicas no mundo real”.
O final é surpreendente e ao mesmo tempo faz todo sentido
A nova produção da Netflix não é apenas uma história de crime e investigação. Se você gosta de suspense, vai ficar moderadamente satisfeito. Isso porque, apesar das constantes reviravoltas, a premissa não é nada inovadora.
Mas o mistério sobre o motivo que levou o sequestrador a escolher Nick Brewer e a alegação de que ele é um abusador e assassino levantam dúvidas sobre as atitudes dele, e uma possível vida secreta, e isso funciona para instigar o espectador.
Eu fui uma das pessoas que não conseguiu largar a minissérie até chegar na conclusão do enigma e posso dizer que o final não me decepcionou, e fez total sentido com as temáticas abordadas ao longo dos episódios.
A série não é um dos melhores mistérios já feitos. Mas pode surpreender com a revelação no final e com quem consegue resolver o caso. Um fato interessante é que a história não depende da ação de um psicopata ou serial killer, frequentemente usado em séries de crime e investigação.
Todo tempo enquanto eu assistia Clickbait, a sensação era de completa ansiedade sobre a verdadeira intenção de cada personagem. Quem é inocente e quem tem uma vida dupla? Os segredos vão, aos poucos, sendo revelados. Quase ninguém é quem realmente diz ser. Todos têm algo a esconder.
Não seria isso o que vivemos diariamente nas redes sociais?