CoE Low-Code
É indiscutível que na quarta revolução industrial a tecnologia digital e, mais precisamente, o software, passa a ser o alavancador das mudanças na sociedade. O impacto das transformações impulsionadas pelas tecnologias digitais que estamos vendo, e continuaremos a ver nas próximas décadas, serão muito maiores que as que vimos em quaisquer outras revoluções tecnológicas.
Uma pesquisa da McKinsey mostrou uma diferença significativa de desempenho entre as empresas que já se atentaram para a capacidade de produzir software de forma rápida e eficiente. A pesquisa mostrou que, entre as empresas pesquisadas, as que se situavam no quartil superior apresentaram em comum uma produtividade de criação de software três vezes superior aos do quartil inferior.
O estudo da McKinsey mostrou que a velocidade de desenvolvimento de software é um fator competitivo para as empresas.
Analisando 440 empresas, o estudo mostrou, através de um indicador chamado de “Developer Velocity Index” que as empresas que se situaram no “top quartil” apresentaram 60% melhores retornos para os seus acionistas e 20% mais rentabilidade que as posicionadas no último quartil.
Além disso, se mostraram 65% mais inovadoras. Caso queiram ler o relatório “Developer Velocity: How software excellence fuels business performance”, o link encontra-se aqui.
Software não é mais um assunto para nerds
Fica nítido que a diferenciação competitiva está na capacidade de entregar software em velocidade e qualidade adequadas. Software não é mais um assunto para nerds e de responsabilidade única dos CIOs, passando a ser uma preocupação de qualquer CEO que queira manter sua empresa relevante nos próximos anos.
A produtividade dos desenvolvedores é um fator fundamental e as tecnologias low-code fazem ou farão parte do arsenal que permite com que as empresas sejam mais velozes e ágeis na produção de softwares. Esse interesse pela tecnologia, acelera sua adoção e segundo o Gartner, até 2025, as organizações construirão 70% de seus novos aplicativos usando plataformas low-code ou no-code.
Mas, adotar low-code também embute alguns desafios. Primeiro, o desenvolvimento de aplicativos low-code não é a “bala de prata” que marca o fim da engenharia de software full-stack e da TI tradicional, mas pode ser uma nova ferramenta que traga aumento significativo de produtividade.
Antes de usar uma plataforma low-code, você deve ter plena conscientização de quais são seus limites e os melhores cenários de caso de uso. Por outro lado, negar a utilidade dessas plataformas low-code porque parecem ser muito simples ou não podem fazer tudo, é admitir que você não prestou atenção à evolução da tecnologia e talvez tenha cristalizado alguns conceitos antigos, dos velhos tempos das ferramentas Case.
Menos tempo gasto com programação, mais tempo investido em outros projetos
Alguns fatores devem ser levados em conta. O principal é que as plataformas low-code permitem um desenvolvimento mais rápido. Existem blocos de construção no desenvolvimento de aplicativos tradicionais com os quais todos lidam, como coisas como bancos de dados (listas e formulários com consultas SQL) e interfaces front-end (sites, mecanismos de relatórios e notificações).
Se uma plataforma de aplicativo low-code fizer essas coisas para você do jeito que você quer (ou mesmo se faz apenas 90% do que você quer, mas faz isso nove vezes mais rápido e você faz os últimos 10% manualmente), então esses blocos de construção não serão mais um problema de desperdício de tempo. Agora a sua equipe pode se concentrar em projetos mais interessantes, especializados e inovadores.
Outro aspecto pouco lembrado é que essas plataformas podem acelerar o processo de onboarding. Essas tecnologias equipam os desenvolvedores com habilidades que permitem que eles comecem a trabalhar mais cedo e serem mais produtivos, em menor tempo que nas tecnologias tradicionais.
Também facilita a aproximação entre o negócio e os desenvolvedores, pois cria uma linguagem visual comum ente eles, permitindo a criação mais rápida de protótipos e validação de novos projetos.
Mas, uma disseminação massiva dessas plataformas pelas empresas, também pode gerar efeitos colaterais indesejados, como por exemplo, a proliferação da “shadow IT”, quebras de segurança e mesmo uso indevido de dados, criando situações de conflito com legislações como LGPD ou as regras de compliance internas da empresa.
Center of Excellence – CoE ou Centro de Excelência Low-Code
Analisando essa questão e discutindo com CIOs as implementações dessas plataformas em muitas empresas, acredito que uma solução para esse desafio poderia ser a criação de um Centro de Excelência Low-Code, ou “Center of Excellence – CoE”. Um Centro de Excelência low-code é uma equipe de desenvolvimento especializada em orientar a construção e implantação de soluções baseadas em uma plataforma low-code.
Embora os membros do CoE não forneçam eles mesmo um "serviço de desenvolvimento de software", criando novos aplicativos, eles serão fundamentais para facilitar a criação de novos aplicativos pela empresa como um todo.
A equipe do CoE gerenciará a plataforma, supervisionará seu uso dentro das diretrizes da organização e manterá as proteções para impedir que desenvolvedores a utilizem de forma inadequada, que eventualmente possa causar problemas. O CoE evita a criação de silos e promove o compartilhamento de habilidades e conhecimentos entre departamentos e equipes.
Ao criar um ambiente no qual experimentar e desafiar uns aos outros passe a ser a norma, o resultado serão otimizações e inovações mais frequentes.
O CoE assumiria quatro responsabilidades:
1.Governança, administração e padronização: garantir que as salvaguardas relevantes e mais apropriadas estejam em vigor. A intenção dessas salvaguardas não é desabilitar a inovação, mas habilitá-la de forma controlada. O desafio é encontrar o ponto de equilíbrio entre os desenvolvedores sentirem que estão inovando, ao mesmo tempo em que satisfazem as preocupações de risco que as equipes de segurança cibernética possam ter.
Por exemplo, garantir que as políticas de prevenção de perda de dados estejam sendo consideradas nos desenvolvimentos, revisar a qualidade do código, analisar se a demanda de capacidade pela geração mais acelerada de novos sistemas afeta os custos e contratos em vigor com os ambientes em nuvem e eventualmente on-premise, adequação correta dos gateways de dados para conexões de dados locais e assim por diante.
2. Operações: assumir a responsabilidade de incorporar a prática de desenvolvimento low-code na organização e fazê-la funcionar adequadamente. Isso envolve a criação de processos de negócios e fluxos de trabalho para conectar as plataformas low-code em cada departamento e função da empresa.
3. Suporte e apoio: com centenas de aplicações desenvolvidas em low-code espalhadas pela empresa, inevitavelmente que problemas acontecerão. O CoE atuará apoiando a resolução de problemas de forma rápida.
4. Disseminar as plataformas low-code na empresa: treinamento, criação de metodologias e boas práticas de uso, facilitar a troca de experiências entre os diversos grupos de profissionais que usam as plataformas e assim por diante.
A composição da equipe deve ser multidisciplinar, com profissionais habilitados em design de interface com o usuário, desenvolvimento de apps, qualidade de software e assim por diante.
As plataformas low-code trazem, indiscutivelmente um significativo aumento de produtividade, mas sua adoção não pode e nem deve ser feita de forma descontrolada. A criação de CoE pode ser um bom caminho para implementar a tecnologia com gestão e os cuidados necessários, para evitar a criação de sérios problemas futuros.
Este artigo foi escrito por Cezar Taurion e publicado originalmente em Prensa.li.