Combate ao preconceito em The Peacemaker
Imagem: Reprodução HBO Max
A princípio, a série parece seguir roteiro semelhante ao do filme, contudo, em pouco tempo nota-se como o Pacificador, novamente interpretado por John Cena, está inserido em uma trama mais profunda e delicada do que o esperado.
A história apresenta ao espectador, não apenas um grupo de super combatentes em busca de derrotar uma invasão alienígena, mas também mostra como obras deste gênero, que há anos segue em alta, podem e devem abordar temas sensíveis à sociedade.
O diretor traz assuntos como machismo, homofobia, xenofobia, e pautas feministas em meio ao seu trabalho.
Por fim, a produção causou impressões diversas ao público, até mesmo a um seleto grupo que, infelizmente, insiste em relutar quando temas como estes ganham espaço em séries e filmes do gênero.
No entanto, a série foi extremamente prestigiada por maioria massiva dos fãs de super heróis, inclusive, alcançando os incríveis 94% de índice de aprovação no site Rotten Tomatoes.
Isso mesmo, #Peacemaker está voltando para a segunda temporada.
James Gunn em sua conta oficial no Twitter
Desconstruções heróicas
De maneira geral, o Pacificador encontra-se inserido em um batalhão com um comandante de operações negro, um técnico de informática gordo e com problemas de aceitação e auto-estima, uma detetive loira e atraente, uma policial negra, gorda e lésbica, e por fim, um segundo vigilante anti-herói assumidamente não heterossexual.
Resumidamente, o novo grupo a qual o personagem principal pertence, praticamente é antagonista aos posicionamentos e ideologias da estrela da série. Em diversos momentos, o Pacificador usa de termos xenofóbicos, homofóbicos e despreciativos frente aos seus colegas, ocasionando intrigas entre eles.
Não demora muito para descobrirmos o porquê do Pacificador adotar este tipo de discurso e tais comportamentos. Logo no primeiro episódio da série somos apresentados a Auggie Smith, interpretado por Robert Patrick, pai do anti-herói.
Robert encarna o papel de um militar aposentado supremacista branco, integrante de uma seita nazista, e ainda por cima, um super vilão, o Dragão Branco.
Enquanto a trama principal da série se desenrola, e as personagens principais lutam para combater o ataque dos alienígenas, que se apossam dos corpos de diversos humanos, alguns insights são feitos de modo a expor traumas da infância do personagem principal, o jovem Christopher Smith.
Muito do comportamento apresentado pelo Pacificador é fruto da criação, tratamento e descaso de seu pai, que em diversos momentos deixa claro sua preferência pelo filho primogênito, que também por descaso, morre pelas mãos do irmão mais novo.
Logo nota-se que o problema com os extraterrestres serve como uma cortina de fumaça para que assim, James Gunn consiga utilizar um personagem tão estereotipado para demonstrar como pensamentos obsoletos e preconceituosos devem ser erradicados.
ALERTA DE SPOILERS A SEGUIR!
Imagem: Reprodução HBO Max
Todavia, o ataque alien também é de suma importância para o desenrolar da primeira temporada da série, principalmente nos últimos episódios.
Após o pelotão liderado pelo protagonista conseguir unir forças e ir de encontro aos invasores do espaço, o Pacificador se depara com um assunto de ordem familiar que precisa ser resolvido antecipadamente.
Após escapar do cárcere, o Dragão Branco decide que está na hora de se livrar definitivamente do seu segundo filho. Nessa altura, o personagem principal ainda sofre com as diferenças de ideologia perante aos seus colegas, mas aos poucos percebe-se uma evolução do anti-herói.
Em suma, o Pacificador se depara com seu pai liderando um exército de supremacistas, e após uma longa cena de combate, o vigilante vence não somente seu pai, mas também os fantasmas do passado que assombravam sua memória.
Ameaça externa ou interna?
No decorrer dos episódios, descobrimos que a intenção dos aliens, nomeados como Borboletas, não era necessariamente tomar o corpo dos humanos e posteriormente controlar o planeta Terra.
Ao invés disso, as criaturas queriam desfrutar de uma atmosfera semelhante à de seu planeta de origem, alimentando-se de um líquido amarelado proveniente de um outro alien, e tentar salvar os humanos de um desastre semelhante ao que eles viveram.
Com isso, percebe-se que o motivo da invasão era mais nobre do que se imaginava. Tratava-se não só de uma raça em busca de refúgio, mas também de uma população praticamente extinta tentando livrar a Terra de um final trágico semelhante ao deles.
Mas afinal, o que teria causado tal escassez de recursos a nível de inutilizar o planeta das Borboletas? A resposta é mais simples do que parece. Interesses Individuais.
Em um breve diálogo, Goff, sob posse de um corpo humano, explica ao Pacificador o seu real plano na Terra.
“Assim que chegamos, notamos que o povo da Terra teria o mesmo destino do nosso povo. Ignorando a ciência em favor de líderes populistas, que dizem que as enchentes, incêndios e doenças não tem relação com as suas próprias ações.
Valorizando o lucro não há sobrevivência. [...] Faríamos o que fosse preciso para mudar o futuro de vocês, tomando escolhas que vocês não saberiam tomar.
Para salvar o seu povo e o seu mundo, e não importa quantas vidas isso custaria”
Royland Goff - Líder das Borboletas
De modo polêmico e questionável, o Pacificador aniquila o pouco das Borboletas que sobraram do combate final, salvando apenas o seu líder, e assume que ele mesmo será o responsável por salvar o planeta, e que guardaria consigo a mensagem trazida por Goff.
Por fim, Christopher Smith, já sem o traje e o característico capacete brilhante, faz as pazes com seus colegas de equipe, momento em que fica notório sua evolução, mostrando a desconstrução de suas ideologias antiquadas e preconceituosas.
Guardando ainda assim, diversos questionamentos para uma eventual sequência de The Peacemaker.
Para a segunda temporada será que a série se desdobrará sobre ideais políticos, e como isso pode interferir na saúde e na vida em nosso planeta?
Você crê que temas sensíveis à sociedade devem estar presentes em produções audiovisuais?
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Este artigo foi escrito por Filipe Mello e publicado originalmente em Prensa.li.