Como é o Patriotismo Brasileiro?

Imagem: Anitta no clipe Envolver/Divulgação

Com Anitta atingindo o grande patamar de número 1 do mundo no top global do Spotify com sua música Envolver, um fenômeno se mostrou presente na internet brasileira: o patriotismo. 

Quando o assunto é amor à pátria, o brasileiro não tem aquela relação de devoção profunda para com seu país como tem o estadunidense, por exemplo, que mata e morre por sua nação se for preciso. 

Temos muitas ressalvas em relação ao Brasil, praticamente desde que existimos como população. Nascemos como colônia de exploração, não criamos apego à nossa própria cultura e sempre parece haver uma falta de cumplicidade e empatia com o outro compatriota. Sem contar todos os escândalos políticos e sociais que parecem não ter fim. 

Porém, a relação do brasileiro com o Brasil se mostra muito clássica, principalmente quando se trata da imagem da nação no exterior. Quase que imitando um relacionamento de irmãos, toda vez que se vê um brasileiro fazendo algo que alguém de fora critica, adotamos a postura de “eu posso falar mal, ninguém mais pode”. 

O Sucesso de Anitta

Capa do novo álbum de Anitta “Versions of Me” / Divulgação

O último grande acontecimento que reuniu o Brasil e trouxe seu patriotismo à tona foi a chegada da música Envolver da cantora Anitta no top global do principal streaming de músicas atualmente, o Spotify, e toda a corrida para fazer com que ela chegasse na primeira posição do ranking. 

Anitta é a cantora atual a chegar mais longe com sua carreira internacional, dividindo o palco com Miley Cyrus no Lollapalooza, participando do último álbum da Madonna e lançando músicas em inglês e espanhol que estão atingindo o mundo. 

No momento em que a possibilidade de ela ser a número 1 do mundo, um movimento que só se assiste no Brasil, ocorreu para tornar isso possível. Muitas pessoas que talvez nem fossem tão fãs da Anitta, se uniram a seus admiradores para fazer a brasileira chegar nesse patamar de respeito e representar o Brasil em um lugar tão importante. 

Obviamente, existem as pessoas que só vão criticar dizendo que a música dela é ruim e que o Brasil não deveria ser visto como algo “vulgar” como ela, mas essas opiniões pareceram ser sufocadas no meio de tantas pessoas querendo que algo de bom aconteça e traga uma pitada de alegria para esse povo que só vem sofrendo. 

Mas o caso de Anitta não foi o primeiro que uniu os brasileiros para torcer por sua nação. Fernanda Montenegro e o Oscar. 

Fernanda Montenegro em cena do filme Central do Brasil / Reprodução 

Fernanda Montenegro é uma das maiores atrizes desse país hoje e sempre. E sua notoriedade já foi reconhecida pelo prêmio de maior prestígio do cinema, o Oscar, na edição de 1999. 

Naquela época, a relevância e importância do Oscar eram extremas, afinal, não estava cercado de tantas polêmicas e falhas. Então, quando a brasileira foi indicada na categoria de melhor atriz por sua interpretação no filme Central do Brasil, todo o país torceu e vibrou por sua conquista.

E então, pode-se ver em prática a faceta do patriotismo brasileiro contra pessoas e organizações que ameaçam ou prejudicam nossos produtos e figuras nacionais. 

Fernanda Montenegro perdeu o prêmio para Gwyneth Paltrow e o Brasil (e a atriz Glenn Close, diga-se de passagem) não concordou nem um pouco, afirmando que a dimensão de atuação de Paltrow e a história de seu filme não chegava aos pés da nossa querida e icônica Fernanda e da narrativa intensa de Central do Brasil. 

Até hoje se discute isso com os gringos, dizendo que o prêmio foi roubado e a Academia não respeita e reconhece propriamente trabalhos de fora do circuíto hollywoodiano. 

E discussões como essa já se deram em outras instâncias com outras figuras. Não importa quem você é, aqui você não se cria.

Stallone em divulgação para Os Mercenários / IMDB

Se existe uma expressão que descreve o brasileiro é aquela boa e velha “eu não estou nem aí”. E quando o assunto é descaso e falta de respeito com a nossa nação, isso se multiplica. Não importa o quão famoso ou importante você seja, se disse o que não era para ser dito, ninguém vai gostar de você. Isso ficou muito claro na situação com Sylvester Stallone. 

Durante sua passagem pelo Brasil para gravações de um dos filmes da franquia Os Mercenários, Stallone fez comentários que afirma terem sido em tom de humor sobre como tudo era permitido no Brasil e que ainda éramos agradecidos pelo estrago feito, dando macacos de presente. 

A fala não foi nada aceita pelo público brasileiro, que levantou hashtags no Twitter pedindo para que o ator se calasse. Rapidamente ele veio a público se desculpar e dizer que só sente admiração e respeito pelo país. 

Outro caso de comentário “humorístico” que não foi tão engraçado assim, partiu de Chris Rock. Envolvido em um dos momentos que mais está dividindo opiniões no momento, o comediante já fez comentários infelizes sobre o nosso país, afirmando durante uma entrevista para o programa do Jimmy Fallon na época da Copa sediada aqui, que ninguém assistia o evento esportivo e que o Brasil é conhecido somente pelas bundas, como todos os homens presentes poderiam confirmar. 

E ainda com pessoas relacionadas a Chris Rock, outro famoso que já trocou farpas com a gente foi o ator que o interpretou na aclamada série Todo Mundo Odeia o Chris, Tyler James Williams. 

Em uma entrevista realizada em 2016, o ator afirmou que não entendia porque sempre que postava uma foto, surgiam tantos comentários em português, disse que não aguentava mais o fluxo dessas mensagens e que estava ficando irritado com os brasileiros, em um tom de deboche. Tyler se retratou no Twitter afirmando entender agora que era uma coisa de internet e que somos legais. 

Mas se você respeita, a admiração vem.

Rihanna IMDB/Getty Images

Uma coisa é certa: o brasileiro tende a ser um povo alegre. Mesmo que nada esteja conspirando para isso. E se você vem de fora, respeitando a gente e sentindo a nossa alegria, você vai ser admirado. 

Um caso disso é a intérprete da Rochelle em Todo Mundo Odeia o Chris, Tichina Arnold. Enquanto seu filho fictício tem suas ressalvas em relação a nós, ela já declarou amar o Brasil pois aqui é tratada como uma estrela e que se sente bem ao receber mensagens sobre a representatividade que sua personagem exerce aqui. 

Outra diva amada e aclamada pelos brasileiros é Rihanna. Em sua passagem por aqui, Rihanna quis ter toda a experiência da cultura brasileira. Ela se apresentou em duas edições do Rock in Rio e, durante suas estadias, comprou biquínis na praia de Ipanema,

comeu salgados e tomou caipirinha depois de visitar o Cristo Redentor, tirou uma foto com a Anitta que virou meme e apreciou o que tem de mais brasileiro na culinária. 

E, voltando a falar de Anitta, todas as celebridades que apreciam o sucesso da brasileira são bem quistas pelo nosso povo. A estrela da vez a ser recepcionada com muito carinho é Miley Cyrus, que trouxe a Poderosa para cantar seu hit Boys Don’t Cry no seu show durante o Lollapalooza. 

Ela sempre foi muito querida no Brasil, já tendo feito shows aqui antes. Dessa vez, ela mudou seu setlist da apresentação para incluir a música Mother 's Daughter, que é uma das favoritas dos fãs brasileiros e ainda pôde ser vista deitada descansando no meio do gramado do show. 

Mas, pra que serve esse patriotismo seletivo, afinal? 

O patriotismo brasileiro pode não aparecer com frequência necessária e talvez até fora do que seria o melhor momento. Existem muitas questões em que poderíamos ser mais unidos como nação e trabalhar para um meio melhor de ação para questões sociais e políticas do nosso país. Ainda somos considerados um país de terceiro mundo que tem um longo caminho a percorrer. 

Porém, essa união que aparece de forma esporádica e muito forte, faz parte da nossa cultura e nos identifica para o mundo. Existem comentários pela internet dizendo para não mexer com as coisas do Brasil, pois nossa união faz, de fato, uma força, que é muito difícil de ser derrotada. A esperança é que, com o passar do tempo, essa força se aplique em lugares de transformação para que sejamos um país mais estruturado e qualitativo.

Este artigo foi escrito por Giovana Ribeiro e publicado originalmente em Prensa.li.