Como pensar Literatura e juventude
Em meio a tantas formas de encarar o hábito de leitura, pode ser natural ao jovem se confundir.
Existe um discurso amplo sobre os benefícios da Literatura. Existe uma pressão escolar e familiar. E existe um consenso de que o jovem quase não lê. Em conteúdos sobre o assunto voltados para os pais, fala-se muito sobre a importância do incentivo ao hábito, e sobre o modo como deve ser feito. Nesses meios, é comum a opinião de especialistas indicando que, durante a adolescência, o indivíduo pode se abrir ou se fechar à prática da leitura. De acordo com eles, isso tem a ver com a abordagem adotada pelos pais e pela escola. Quando a Literatura e as escolhas dentro dela são uma obrigação, o interesse do adolescente pode se perder.
Quando a Literatura e as escolhas dentro dela são uma obrigação, o interesse do adolescente pode se perder. Foto: Autoria própria, 2019.
Aline Gordiano Tomás Pereira tem 16 anos e cursa o segundo ano do Ensino Médio no colégio Auxiliadora, na cidade de Petrolina (PE). Desde cedo, desenvolveu o hábito que carrega até hoje. “Tive dois projetos no Ensino Fundamental I para incentivar a leitura, além de a minha mãe sempre estar comprando livro pra gente ler e tudo o mais. Então acho que foi um pouco de tudo isso que me influenciou”, afirma.
Já Rafael Alves, de 17 anos, que vive em Curitiba e está completando o ensino médio no colégio SESI do Portão, diz sentir interesse por Literatura, mas não pela prática de leitura. “Gosto do assunto, mas não de ler em si. Acho um pouco maçante e tenho dificuldade para me concentrar”, explica. Para Alves, não é uma questão de incentivo ou da falta dele. “Já recomendaram muitos livros e eu larguei metade deles”.
Apesar de o senso comum construir a imagem de um hábito de leitura adolescente fraco, afetado pelo uso das mídias sociais, a realidade é outra. Um mapeamento feito pelo Ibope Inteligência para o Instituto Pró-Livro em 2016, Retratos da Leitura no Brasil, aponta que o número de leitores no país vem crescendo significativamente. O documento revela ainda que consumidores de literatura infantojuvenil são maioria nesse número, inclusive com um crescimento bem mais acelerado.
Natalia de Lima Bueno, professora universitária da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) em Ponta Grossa, atua na área de formação de professores. Segundo ela, os adolescentes têm acesso à literatura, porque existem muitos meios para isso. Mas a especialista revela uma preocupação com o fato de que, mesmo tendo o acesso tão facilitado ao conhecimento, para muitos jovens falta a capacidade de análise crítica. “Parece que vemos aí uma geração muito ‘zap’, quer informação rápido, acesso rápido, mas não tem tempo de gerir, de contextualizar.” Para Natalia, é importante pensar que, mais que entretenimento, a Literatura apresenta o mundo ao adolescente.
Sobre os meios de acesso, Rafael Alves diz que, quando lê algo, empresta um livro físico de familiares ou amigos. Já Aline utiliza livro físicos, gibis, pdfs e apps. Natalia Bueno afirma que não é correto pensar a Literatura como distante do uso das novas manifestações de informação. “É necessário que os professores incentivem o trabalho com as mídias, com qualidade”, declara.
Existem circunstâncias diversas que podem fazer com que o adolescente se interesse ou não pela leitura. Em uma publicação de 2018 do blog voltado ao vestibular do site Brasil Escola, são citados vários desses fatores, como o gosto por determinado assunto, a curiosidade que o tema desperta, o aspecto visual do livro e a relação com filmes ou personalidades. Todos esses motivos se encaminham para a escolha de livros e temas adequados a cada gosto e idade.
Os benefícios do consumo de Literatura são bastante conhecidos. O desenvolvimento da inteligência emocional, imaginação e capacidade criativa, memória e vocabulário são difundidos e comprovados por pesquisadores. No fim de 2016, o MEC publicou uma nota sobre pesquisas científicas da Unidade de Neuroimagiologia Cognitiva do Instituto Nacional Francês de Saúde e Pesquisa Médica e da Universidade de Stanford.
O Brasil tem o dia 12 de outubro como Dia Nacional da Leitura, quando também acontece a Semana Nacional da Leitura e da Literatura. O evento foi instituído pelo governo em 2009, com o objetivo de ressaltar a importância do hábito de leitura na formação individual e de inserção sociocultural. Há um foco especial na relevância do tema para os jovens, já que a data também é o Dia das Crianças. A criação literária e o papel da literatura infantojuvenil recebem bastante destaque.
Este artigo foi escrito por Giovana Lucas e publicado originalmente em Prensa.li.