Como reverter a feminização da pobreza?
Imagine o dia que as mulheres forem extintas, raras para a civilização moderna e sua jornada evolutiva? Não é mais impossível de se imaginar nisso, pois as características da violência, da desigualdade, da perpetuação de dogmas estão, neste momento, fazendo com que nós, mulheres, pensemos antes de trazer um filho(a) para este planeta em que vivemos.
As razões são bem explícitas e os relatórios sobre a pobreza concentram muito mais mulheres, chefes de família e mães, que homens, num processo chamado de feminidade da pobreza. O índice é claro: em 2019 (pouco antes da pandemia), para cada 100 homens vivendo em lares pobres da região, havia 112,7 mulheres nesta mesma situação.
Este conceito, que batiza o processo, foi dado, pela primeira vez, por uma pesquisadora estadunidense chamada Diane Pearce, em seu artigo "A feminização da pobreza: mulheres, trabalho e bem-estar" (1978). Neste artigo (resumido pelo Gabriel Marmentini, na página Politize), Pearce abordou que o processo de pobreza das mulheres está associado ao aumento de famílias pobres chefiadas por mulheres, sem a presença de um adulto do sexo masculino.
Entre as fontes de renda há duas categorias: uma é a renda privada, caracterizada pelo salário e/ou por fontes vindas de outros (como a pensão alimentícia); a outra é a renda pública (vinda de auxílios dos governos para que complemente o sustento da família). Esta renda pública é uma das políticas públicas que tem o intuito de auxiliar na superação do estado de vulnerabilidade.
As demais políticas públicas se dão pela superação das barreiras, os dogmas modernos, que as impedem de se capacitarem e trabalharem em outras profissões caracterizadas como "não femininas". Isso se dá em três frentes: educação, capacitação profissional e saúde.
Um artigo da revista The Economist (divulgado pela Istoé, em 2011), com a base de dados da ONU, informou que há um quadro de possível extinção das mulheres em até 20 gerações em diversos países, que sofrerão, consequentemente, o seu desaparecimento gradual. Isso significa que, caso não aconteçam ações claras para este combate à desigualdade socioeconômica entre os gêneros e também aos seus dogmas, este processo pode não apenas se acelerar, como, também, veremos a extinção de nações até antes do quarto milênio.
A pergunta central é como reverter o quadro, sem a aplicação de práticas dogmáticas que façam retirar os direitos civis femininos? Voltemos à célebre frase de Simone de Beauvoir:
"Nunca se esqueça que basta uma crise política, econômica ou religiosa para que os direitos das mulheres sejam questionados. Esses direitos não são permanentes. Você terá que manter-se vigilante durante toda a sua vida."
É importantíssimo saber que nem tudo são flores para quem é mulher, principalmente mulheres pobres, negras e nativas, como mostram as notícias e os anuários sobre a violência. Seja no Brasil ou no resto do mundo, a vigilância contra atitudes bárbaras - que afrontam o direito da mulher de ser mulher - está em primeiro lugar.
As políticas públicas e mecanismos sociais precisam atuar em conjunto para garantir a reversão deste quadro discriminatório, que deveria ser até ilegal. A aporofobia, caracterizada como a discriminação ao pobre, pode também ser caracterizada como uma prática misógina.
Logo, volta-se a uma atenção à educação financeira. É um ambiente que está ascendendo na presença de mulheres e, segundo a Forbes, houve um crescimento de mais de 118% de participação, fazendo com que tenhamos hoje mais de 1/4 dos 3,2 milhões de investidores na B3 em 2020. Hoje existem aplicativos bancários que buscam atrair e capacitar futuras investidoras, para poderem romper a barreira do público investidor - e ser o mecanismo complementar para a reversão do quadro.
Este artigo foi escrito por Camila L. Oliveira e publicado originalmente em Prensa.li.