Computação quântica: muito além dos filmes da Marvel
Confira a entrevista exclusiva com Dr. Raul Villamarin Rodriguez, Tecnólogo Cognitivo e Vice Presidente da Woxsen University, e entenda mais sobre os potenciais da revolução da computação quântica.
“De forma não técnica, a computação quântica é um estado de estar em dois lugares simultaneamente, enquanto a computação clássica opera em uma única camada. No aspecto prático, um computador quântico permitirá que você realize atividades de maneira muito mais precisa e rápida, o que de outra forma levaria muito mais tempo com as ferramentas de computação clássica.”
Foi essa a resposta que recebi quando questionei o Dr. Raul Villamarin Rodriguez, Tecnólogo Cognitivo e Vice Presidente da Woxsen University, a respeito da diferença entre a computação clássica e a quântica — que, segundo muitos especialistas, será a próxima revolução da tecnologia a impactar profundamente o mercado e, consequentemente, nossas vidas.
O especialista veio ao Brasil para participar da 2ª edição do Web Summit Rio e conversou com a Prensa antes de subir ao palco no painel Bringing quantum to life, em que compartilhou insights acompanhado por Edilson Reis, CIO do Banco Bradesco, mediados por Fabrício Vitorino, Growth & Performance Manager do Canaltech.
Apesar de os desdobramentos da inteligência artificial ocuparem a maior parte dos holofotes atualmente, é na computação quântica que reside a possibilidade de processar e manipular informações de modo a abordar problemas complexos de uma maneira muito mais eficiente.
Nas palavras de Raul, “ ela atua, basicamente, permitindo o fracasso e o sucesso simultaneamente — o que significa que sua otimização e sua velocidade de processamento são sempre muito mais rápidas. (…) Com os mecanismos quânticos, seu sistema não falha, porque enquanto está falhando, também está tendo sucesso. Assim, você está sempre no caminho certo.”
Computação quântica = multiverso?
Assimilar a ideia de estar em dois lugares simultaneamente é um desafio, mesmo com as indústrias Hollywoodianas trazendo cada vez mais o conceito de multiverso para dentro de nossas telas. “É por isso que a IA é muito mais fácil de entender, porque a IA, eles (o público) pensam nisso como uma espécie de Exterminador do Futuro de Arnold Schwarzenegger. Então, é muito fácil de compreender. Um humano digital, e é isso. Embora não seja realmente isso, mas é nisso que se pensa.
A quântica não pode ser colocada em um filme, (…) a população não consegue entender porque não é um tópico de baixo nível, assim como a ciência espacial não é fácil de entender.”
Além de complexa, a computação quântica é cara; um computador quântico tem um custo de milhões de dólares. É uma tecnologia que, certamente, não estará disponível para todas as empresas, universidades e governos — e nem precisa estar.
Ela será usada principalmente quando se trata de criptografia, fintech, áreas onde há um grande risco de vazamento de dados com consequências financeiras, que terão outras repercussões, nas quais precisamos de uma camada adicional de segurança. (…)
Isso não significa que tudo requer computação quântica, ou que todas as aplicações requerem alguma aplicação de quântica — nem tudo é otimização. Mas, ao mesmo tempo, haverá ferramentas em que, sim, aumentará o rigor, como criptografia, segurança cibernética e assim por diante”, comenta o especialista.
Ao mesmo tempo, é um erro considerar a computação quântica como um campo à parte da tecnologia. Para Rodriguez, “é como ter o carro e ter o combustível. Você não pode usar um sem o outro”. A computação quântica tem a capacidade para acelerar a potência computacional, mas não para resolver questões como a otimização e padronagem de informações, por exemplo.
“Se você quiser otimizar dados, a quântica não funcionará para isso. A quântica só vai acelerar determinado armazenamento de dados, produção, saídas, controles de qualidade, mas não vai otimizar dados, não vai encontrar padrões, não vai criar novos dados a partir disso. Para isso, você tem aplicativos de IA. (…)
Quântica, em si, é um desenvolvimento de hardware, uma aplicação de software. Mas você tem que aplicar em algum lugar. Então, você tem que ter alguma correlação com certos caminhos de negócios. Quântica, em si, não resolverá nenhum problema. Quântica, aplicada a diferentes setores, como o setor público e assim por diante, resolverá certos problemas. Mas não é uma solução única para tudo. É uma solução única para uma coisa.”
Desafios físicos
Ainda mais complexo que entender o conceito, é lidar com os desafios e considerações éticas que surgem conforme o potencial dessa abordagem se torna mais evidente. Para o especialista, é essencial considerar as mudanças que ocorrem na sociedade a partir da popularização de novas ferramentas e abordagens tecnológicas, e abordar principalmente as áreas de responsabilidade social relacionadas a elas, bem como as implicações futuras para quem somos como indivíduos e como sociedade.
“Desde 2022, quando o ChatGPT foi oficialmente lançado em novembro, muitas mudanças ocorreram na sociedade. Empregos foram perdidos, as pessoas mudaram, as mentalidades mudaram, e muitas condições psicossociais e psicológicas diferentes surgiram. Vícios surgiram, que não conhecíamos antes. Então, onde é que todo esse tipo de desenvolvimentos tecnológicos, como os aspectos quânticos, nos levarão? E que tipo de taxas de desemprego surgirão? E como resultado disso, que tipo de consequências teremos?”, comenta.
Entre as principais dificuldades a serem enfrentadas, está a necessidade de formar especialistas capacitados para acompanhar as transformações que a implementação de soluções quânticas irá causar no mercado e na sociedade — tanto para quem estuda quanto para quem já trabalha na área.
“Aqueles que trabalham no campo (da tecnologia) provavelmente terão um momento difícil com as mudanças súbitas na indústria. Porque, se eles estiverem trabalhando, estarão fazendo um trabalho específico todos os dias, das 9 às 17 horas, e não terão tempo para se atualizar. Os que vão entrar na indústria terão um momento mais difícil, porque a academia não conseguirá acompanhar a velocidade com que a indústria se move. Então, isso sempre será um desafio para ambos.”
O especialista enfatiza a importância da formação de Arquitetos Cognitivos, afirmando que os arquitetos cognitivos basicamente têm a capacidade de treinar indivíduos para não apenas entender a tecnologia, mas entender os indivíduos com a tecnologia. (…) É uma mistura de compreender a psicologia cognitiva, mesclando-a com as teorias dos aspectos tecnológicos. E enquanto você está desenvolvendo uma ferramenta, desenvolvendo o pensamento crítico, que é onde o treinamento do arquiteto cognitivo entra em cena.
Por isso, afirma que o foco de sua participação no Web Summit Rio é a criação de conexões com diferentes grupos da área — “porque esses grupos sempre estarão em movimento, esses indivíduos sempre estarão em movimento, e o mundo sempre estará em movimento. Então, estamos sempre tentando nos adaptar. Minha parte aqui é aprender e compartilhar o que aprendi, ao mesmo tempo em que aprendo mais.”