Conceição Evaristo, Gilberto Gil, Academia Brasileira de Letras e Consciência Negra.
Nestes 2021 encerramos novembro, o mês da Consciência Negra, movidos (ou paralisados) por uma incógnita: qual o motivo de Gilberto Gil ser aceito na Academia Brasileira de Letras (ABL), após Conceição Evaristo ter sido recusada?
Doutora em Literatura pela UFF, a premiadíssima escritora Conceição Evaristo não foi eleita para a Academia Brasileira de letras, fundada por Machado de Assis, o maior escritor brasileiro, negro como a escritora carioca.
A oficialidade, representada pela ABL, recusa-se a reconhecer a potência criadora e representativa de Conceição Evaristo, Professora aposentada, Mestre em Literatura cuja obra representa o olhar da mulher negra periferizada e pedra angular na construção da diversidade na, historicamente, excludente sociedade brasileira (exclusão que persistirá a julgar pela posição da ABL).
Em pleno mês da Consciência Negra do corrente ano, a mesma ABL admite para seu quadro de imortais o Cantor, compositor e escritor Gilberto Gil. Tal atitude nos leva a uma celebração, afinal Gil é uma das pessoas mais representativas da Cultura brasileira.
Com cerca de 60 anos de carreira, o Cantor e ex-ministro da Cultura coleciona inúmeros sucessos musicais que ajudam a explicar a alma do País de Machado de Assis, além de ser mundialmente reconhecido e respeitado por sua obra, que canta o Brasil de A a Z (denúncia do racismo inclusive).
A escassez de negros e negras no quadro da Academia mostra que a contradição e negação da História nunca andaram longe da ABL, fundada por escritor negro. Ainda assim, não admitir Conceição Evaristo e outros escritores negros e negras confirma o afastamento entre a instituição e a realidade onde a disputa pela representatividade e dignidade se concretiza.
Certo é que a escolha de Gilberto Gil confere mais prestigio à ABL do que a ABL ao cantor e compositor, tal a estatura do eleito.
Ao escolher banhar-se no prestigio de Gil, ao invés de reconhecer a potência de Conceição Evaristo, a Academia Brasileira de Letras continua sendo “torre de marfim” apesar de ser fundada por Machado de Assis, que é saudado pelo Professor Tomas E. Skidmore em seu livro Nem Preto nem Branco (ed. Labor do Brasil 1972), como um dos maiores escritores da humanidade.
Convidar Nei Lopes, Conceição Evaristo, Airton Krenak, Cuti, Kiusam Oliveira e premiar Figuras como Januário Garcia e Carolina Maria de Jesus faria bem a ABL.
Este artigo foi escrito por HIlário de Jesus e publicado originalmente em Prensa.li.