Corrida do turismo espacial: bilionários têm um novo hobby
Imagem: Feepik
Quando Neil Armstrong se tornou o primeiro homem a pisar na Lua, os Estados Unidos davam um “grande salto” à frente dos seus adversários da União Soviética, durante o período que ficou conhecido como “corrida espacial”.
Os esforços das duas potências durante a Guerra Fria (1947-1991) para explorar o espaço mostraram que o céu não era mais o limite. Os olhos de todo o mundo acompanharam o pouso do Apollo 11 na Lua no dia 20 de junho de 1969.
Desde então, a humanidade pôde conhecer particularidades não só da Lua, mas como do planeta Marte. A curiosidade sobre a vestidão do Universo passou dos cientistas para qualquer pessoa com interesse em astronomia.
Se para nós pobres mortais a possibilidade de visitar o espaço é apenas um devaneio, para mega bilionários é uma realidade.
O que antes foi um conflito político-idealista, hoje - a exploração do espaço para fins turísticos - é uma “disputa velada” entre mega empresários que parecem ter se entediado com suas próprias conquistas.
Três homens e uma missão
Apesar de 6 pessoas comuns já terem visitado o espaço desde 2001, foram 3 homens e suas empresas que oficializaram o turismo espacial. São eles: Richard Branson com a Virgin Galactic, Jeff Bezos com a Blue Origin e Elon Musk com a SpaceX.
Quem são os mega bilionários por trás da nova “corrida espacial”?
Richard Branson, o “superempreendedor rockstar” é o dono do conglomerado Virgin, com mais de 400 empresas em diversos setores. Ele nasceu em Londres, Reino Unido, e possui uma fortuna de US$ 4,1 bilhões. Famoso por suas ações de marketing arriscadas, Branson topa qualquer desafio para quebrar recordes mundiais.
Empresário ou rockstar? (Imagem: David M. Benett/Getty Images for Virgin)
Fundador e ex-CEO da Amazon, Jeff Bezos é o homem mais rico do mundo, acumulando um total de US$ 177 bilhões, de acordo com a Forbes. Ele investe por ano US$ 1 bilhão para explorar o universo. Americano e filho de pais separados, Bezos desde o colégio já tinha planos de “[...]retirar todas as pessoas da Terra e transformá-la em um grande parque nacional.”.
Bezos sentado no trono do seu reino (Imagem: InfoMoney)
Nascido em Pretória, África do Sul, Elon Musk é o homem por trás dos projetos tecnológicos mais ousados e inovadores dos últimos tempos. No seu currículo, estão empresas como Tesla, SpaceX e Neuralink, umas fundadas e outras comandadas por ele. Curioso e nerd assumido, Musk investe em áreas diversas como energia limpa, mobilidade, exploração espacial, inteligência artificial e neurociência.
Nerd ou galã? (Imagem: Pascal Le Segretain/Equipe Via Getty Images)
A corrida
Richard Branson foi pioneiro com a Virgin Galactic, mas o seu transporte, que foi um misto de avião com foguete, nunca chegou à órbita da Terra, icando na categoria do que é conhecido como um voo suborbital.
Em julho de 2021, Branson fez uma viagem que durou cerca de 10 minutos a bordo do foguete VSS Unity da sua própria empresa. Além dele próprio, a tripulação contou com dois pilotos e quatro “especialistas da missão”.
Os seis tripulantes da VSS Unity, incluindo Richard Branson. (Imagem: Divulgação/Virgin Galactic)
Já em terra, ele declarou à imprensa que as vistas são de tirar o fôlego, impossíveis de descrever. "Sonhei com este momento desde criança, mas ir ao espaço é ainda mais mágico do que eu poderia imaginar.”, completou.
Alguns dias depois, foi a vez de Jeff Bezos realizar a sua aventura suborbital pela Blue Origin.
Com outros três tripulantes, incluindo seu irmão, Mark Bezos, convidou a piloto Wally Funk (82) e Oliver Daemen (18) fizeram uma viagem bem-sucedida que durou cerca de 10 minutos.
Wally e Oliver se tornaram a pessoa mais velha e a mais nova a visitarem o espaço.
Tripulação do foguete New Shepard. Mark e Jeff Bezos em pé à direita, ao lado de Oliver Daemen e Wally Funk sentada. (Imagem: Twitter/Blue Origin)
Uma curiosidade sobre Wally Funk é que ela foi uma das 13 mulheres do Projeto Mercury 13. O objetivo era realizar o primeiro voo tripulado da América, e todas foram impedidas pela NASA de se tornarem astronautas, apesar de serem competentes para tal feito.
Jeff Bezos fez questão de ter a pioneira do setor aeroespacial com ele no 1º voo tripulado da Blue Origin (Imagem: Blue Origin via AFP)
Mas mesmo com todas essas conquistas, a SpaceX de Elon Musk foi mais longe.
Por que a SpaceX marcou a história?
"A viagem da Inspiration4 é de outra ordem de grandeza. As iniciativas da Virgin Galactic e da Blue Origin foram apenas passeios, enquanto a SpaceX concluiu uma missão espacial de verdade", afirma Cassio Leandro Dal Ri Barbosa, astrônomo e professor do Centro Universitário FEI.
Apesar de Richard Branson e Jeff Bezos terem saído na frente na corrida do turismo espacial, foi a SpaceX a primeira a de fato a concluir algo histórico. Chegar na órbita da Terra com uma tripulação formada apenas por pessoas comuns, sem astronautas profissionais a bordo.
O lançamento do foguete Falcon 9 foi realizada no dia 15 de setembro (2021), com quatro passageiros que participaram de treinamentos e simulações com a SpaceX desde fevereiro.
Foram 3 dias na órbita da Terra e esse foi o mais longe que humanos chegaram no espaço desde os anos 70, quando a Nasa levou o homem à Lua.
Imagem: Infográfico G1/Fonte: SpaceX
O que difere as outras viagens da conquista de Elon Musk e torna a SpaceX um caso tão especial é que, enquanto seus “rivais” ficaram em altitudes mais baixas e não chegaram a entrar em órbita, a nave de Musk foi além da distância do telescópio Hubble e da Estação Espacial Internacional (ISS, sigla em inglês), que está em órbita a 408 km de distância da Terra.
"Enquanto no voo órbital a nave consegue circular a Terra, ou seja, partir e retornar à atmosfera a partir de um mesmo ponto, o voo suborbital não tem velocidade para completar essa trajetória, então a nave sobe até um ponto máximo e depois cai em queda livre de volta à Terra", explica Cassio Barbosa, astrofísico do Centro Universitário FEI.
O intuito da viagem foi arrecadar US$ 200 milhões para um hospital americano de tratamento ao câncer infantil. Além disso, alguns objetos usados na viagem serão leiloados.
"Estamos muito orgulhosos de compartilhar essa experiência com todo mundo. Sabemos o quanto somos afortunados por estar aqui", afirmou um dos tripulantes, o bilionário Jared Isaacman, durante uma transmissão de 10 minutos diretamente do espaço.
A missão Inspiration4 da SpaceX é realizada com sucesso e pousa no Oceano Atlântico. (Imagem: Reprodução/Twitter)
Os bilionários Bezos e Branson cumprimentaram Elon Musk nas redes sociais, reconhecendo o grande feito da SpaceX.
"Parabéns a Elon Musk e à equipe da SpaceX pelo lançamento bem-sucedido da Inspiration4 na noite passada. Mais um passo em direção ao futuro onde o espaço é acessível a todos nós", disse Bezos, no Twitter.
Imagem: Reprodução/Twitter
"Parabéns a Elon Musk e a tripulação SpaceX Inspiration4 por alcançar a órbita, outro grande momento para a exploração espacial", publicou Branson.
Imagem: Reprodução/Twitter
Uma reviravolta na corrida
Nem só de bilionários se faz uma corrida espacial. Cerca de 20 países africanos pretendem lançar 110 satélites ao espaço até 2024, de acordo com o relatório “Space in Africa”. Dentre esses países então Costa do Marfim, Maurício, Uganda e Zimbábue.
O continente africano é um exemplo de como é possível descentralizar a exploração espacial da América do Norte, Rússia e China. Além de garantir a inclusão de países em desenvolvimento, que podem ser concorrentes potenciais na corrida espacial.
"Onze países lançaram satélites e 19 países africanos estabeleceram ou iniciaram o processo de criação de um programa espacial", disse Timiebi Aganaba, professora de Lei e Ética Espacial na Arizona State University.
Aganaba vê a África como um concorrente com potencial muito significativo quando se trata de contribuir para resolver os desafios de governança espacial. (Imagem: Divulgação/Arizona State University)
Mas afinal, quanto vale uma viagem ao espaço?
Nesse momento você provavelmente está se perguntando quanto precisaria desembolsar para fazer um turismo espacial. A resposta é: US$ 450 mil, ou pouco mais de R$2,3 milhões por assento. Esse valor foi divulgado pela Virgin Galactic que anunciou oficialmente a venda de ingressos para quem deseja fazer um voo rápido até o espaço.
Já para viajar pela Blue Origin, é necessário passar por uma lista de espera e aguardar pela confirmação. O valor por passageiro está cotado em cerca de US$ 28 milhões (R$ 146 milhões).
Para os tripulantes da SpaceX, US$ 52 milhões (R$ 271 milhões) foi o custo para que eles dessem uma voltinha no espaço.
É preciso mais do que dinheiro para brincar de astronauta
Além dos gastos com a viagem, a tripulação precisa estar preparada mental e fisicamente para viajar fora da Terra. É necessário a realização de testes físicos e psicológicos, pois é importante ter uma determinada condição física.
Além disso, antes do foguete finalmente decolar, são meses de treinamento com simulações das condições de adaptação à microgravidade encontrada nas naves espaciais em órbita.
Caso o aspirante a turista espacial seja reprovado, apresentando qualquer tipo de anomalia durante os testes, ele será impedido de realizar a viagem.
Pelo visto, o sonho de viver a experiência de um astronauta e ver lá de cima a imagem deslumbrante da Terra vai continuar sendo mais um dos privilégios do 1% da população. Para a maioria de nós, que não pode arcar com o preço exorbitante de um lugar no foguete, resta se contentar com os filmes de ficção científica sobre o espaço.