Covid e supply chain: como o trabalho remoto afetou as cadeias de suprimentos globais
Mais de dois anos após o COVID-19 desencadear uma crise mundial no supply chain (ou "cadeia de suprimentos", em português) de todo o mundo, cada ida ao supermercado passou a ser uma aventura. O problema contribuiu para a inflação e até para a escassez de produtos de origem nacional.
Transportadores e caminhoneiros receberam muita culpa, mas a raiz da crise também pode ter origem no âmbito empresarial.
O trabalho remoto, ou a cadeia de eventos improváveis que se iniciou há mais de dois anos alterou as expectativas dos fabricantes sobre a demanda. Seus equívocos foram agravados por uma mudança no comportamento do comprador, que derrubou as redes de armazenamento e entrega que eles mantiveram por décadas.
Como resultado, temos uma crise na cadeia de suprimentos como nenhuma outra, e por incrível que pareça, a internet merece uma boa parte da culpa.
Como a internet mudou as regras da logística
As mudanças no supply chain começaram nos primórdios dos isolamento causado pelo Covid, quando muitos comerciantes fizeram más apostas: eles imaginaram que a pandemia desencadearia uma desaceleração econômica que deixaria milhões de pessoas sem trabalho, e causaria um grande bloqueio nos gastos da população.
A questão é que, conforme foi noticiado pelo The New York Times, “Esse cálculo provou ser desastrosamente errado…. A pandemia não eliminou os gastos, mas os alterou”.
Embora muitas pessoas tenham perdido seus empregos, a economia como um todo se recuperou mais rápido do que o esperado. Além disso, alguns setores (principalmente o de tecnologia) conseguiram prosperar.
Uma das razões pelas quais as previsões estavam tão erradas foi que as corporações se voltaram para o trabalho remoto com muita rapidez e habilidade. Além disso, o país viu o e-commerce crescer em mais de 70%, de acordo com o índice MCC-ENET. Todas essas mudanças na forma de trabalhar e consumir exigiram a criação de uma nova logística de distribuição de produtos.
O resultado está na migração em massa de lojistas consolidados no mercado para os marketplaces. Um exemplo é o grupo Magazine Luiza, que investiu na transição do acervo de suas lojas físicas para estoques e pontos de retirada no caso de compras online. O foco então seria priorizar as vendas virtuais e pensar em maneiras de fazer entregas mais rápidas.
Os impactos da Internet das Coisas (IoT)
Com essa crescente transformação digital, a Internet das Coisas (IoT) surge para unir tecnologia operacional e informacional, com o objetivo de melhorar a qualidade de entregas, reduzir riscos e minimizar custos.
Apesar de ela já não ser uma novidade na área logística, a IoT ganhou um destaque maior durante a pandemia porque permite construir redes digitais de máquinas, dispositivos e infraestrutura. Ao usá-la, as organizações podem montar fábricas inteligentes e processos da cadeia de suprimentos que coletam dados.
A Amazon é um grande exemplo de como isso acontece na prática, já que a empresa consegue até mesmo localizar o estoque de cada produto digitalmente em segundos, e notificar o entregador mais próximo cada vez que uma compra é realizada no site.
Já que a migração para o e-commerce veio para ficar, as empresas podem então aplicar tecnologias de Inteligência Artificial e Machine Learning em seus processos logísticos que, uma vez sincronizadas, removem obstáculos no processo da cadeia de suprimentos e permitem níveis sem precedentes de transparência, automação e controle.
A Indústria pós pandemia se concentra fortemente em interconectividade, automação e na coleta de dados em tempo real. Já que a maioria das pessoas encontrou possibilidades de consumir sem sair de casa, o ideal é combinar a produção física e operações com tecnologia inteligente. Sem promover e aplicar essas mudanças, é impossível se manter relevante no mercado.
Este artigo foi escrito por Bianca Lopes e publicado originalmente em Prensa.li.