CRÍTICA: Duna (2021) - Da especiaria ao espetáculo!
Se Denis Villeneuve (A chegada, Blade Runner 2049, Os suspeitos) pretendia transportar toda a poesia dos contos de Frank Herbert para as telonas e formatá-la em uma franquia, que já nasceu pra ser épica, sem se preocupar tanto com o que já foi feito dela, o diretor acertou em cheio.
A marca registrada das obras do diretor se dá desde as primeiras cenas: cortes longos, ângulo aberto (explorando toda imersão que uma lente 70-300mm ou superior proporciona), movimentos de câmera lentos, diálogos refinados… Tudo isso contrastando com uma fotografia belíssima, retratando luxo e areia.
Duna já começa grandioso, com a narrativa sendo explicada não mais que o necessário, enquanto o desenrolar da história se inicia ao mesmo tempo que o telespectador é brindado com um mergulho profundo nesse universo.
Após um tratado duvidoso proposto pelo Império da Guilda espacial do universo conhecido, A casa Atreides é "convidada" a assumir a administração do planeta desértico Arrakis, a fim de extrair a "especiaria" e suprir o Império.
É então que o jovem Paul Atreides (Thimotheé Chalamet - Adoráveis mulheres, O Rei, Interestelar), herdeiro do trono do reino que leva seu sobrenome, se vê prestes a embarcar para um planeta perigoso e mortal, que povoa seus sonhos e, agora, passará a ser comandado por seu pai, o Duque Leto (Oscar Isaac).
Não demora muito para os Atreides perceberem que entraram no meio de uma disputa política entre o "Imperium" e os antigos administradores do planeta, os Harkonnen, cujo líder é o Barão Vladmir (Stellan Skarsgaard), primo de Leto e inimigo da casa Atreides.
Não bastasse a politicagem, Paul também percebe que um destino inesperado e muito maior do que ele possa imaginar o aguarda naquele planeta, e envolve a religião de sua mãe (As Bene Guesserit, do latim "Bem aventuradas"), Lady Jéssica (Rebecca Ferguson) e a bela jovem com que sonha frequentemente: Chani (Zendaya), uma nativa da tribo dos Fremen.
O elenco é um show a parte: Dave Bautista encarna o cruel Glossu Raban, sobrinho do Barão Vladmir Harkonnen. Josh Brolin dá vida a Gurney Hallek, mestre de armas dos Atreides. Jason Momoa é Duncan Idaho, fiel soldado dos Atreides e Javier Bardem dá vida a Stilgar, líder de um clã dos Fremen.
Embora alguns personagens pudessem ter mais destaque e terem um melhor aproveitamento na trama, o desenrolar dos fatos não chega a desperdiçar nenhum talento do seu grandioso time de estrelas (ok, eu confesso: particularmente eu gostaria de ver alguns personagens atuando mais tempo, muito mais por simpatizar com os atores do que por encaixe na trama).
Outro ponto que rende elogios é a abordagem a vasta mitologia de Duna. Os pontos essenciais dessa riquíssima obra estão lá: as já faladas Bene Guesserit, o mito de Mahdi, ou Lisan Al-Galib (referências a linguagem Árabe), ou se preferir Kwisatz Haderach (linguagem hebraica), o "filho da profecia", etc. Todos são abordados de forma não tão profunda quanto nos livros, mas o suficiente para ter seu encaixe no desenvolvimento, sem deixar o espectador confuso (ou quase isso).
Não espere de Villeneuve uma trama fácil de ser compreendida (ou mesmo do universo de Duna) e nem cenas triviais, ou sequências de ação de "tirar o fôlego". Villeneuve preza mais pela estética, ao menos aqui. Então põe sua câmera fixa num tripé em ângulo aberto e faz com que os atores "briguem de verdade". O resultado não chega a empolgar, mas é belo.
Por falar em cenas de ação, mesmo compreendendo e admirando o estilo de Villeneuve, a cena da batalha final merecia alguns minutos (e socos) a mais. E apenas por esse motivo eu não digo que Duna merece a nota máxima. Eu o classificaria com um 9, ou 9,5, porque justamente o final, ao meu ver, deixou um pouquinho a desejar, mesmo com a premissa já anunciada de uma continuação.
Mas o filme como um todo é um espetáculo à parte. Mesmo com cenários áridos por todos os lados, a fotografia impressiona. É o ponto forte do filme, proporcionando um espetáculo visual único e enchendo de beleza a já bela obra de Herbert.
Além disso tudo, a trilha sonora empolga, os enormes vermes da areia assustam, os atores, cada um defendendo sua causa e seus interesses convencem, e ao chegar aos créditos ficamos extasiados pela obra e ansiosos por sua continuação.
Duna 2 já está em desenvolvimento e tem previsão de lançamento para 2023.
Este artigo foi escrito por Eliezer J. Santos e publicado originalmente em Prensa.li.