CRÍTICA: Resident Evil - (não tão) Bem vindo a Racoon City
Todo mundo já sabe que a culpa é do “estagiário” quando as coisas não saem bem como esperávamos, certo?
Não dá pra dizer exatamente que Johannes Roberts (Os Estranhos: Caçada noturna, Adolescentes em Fúria) é um estagiário da sétima arte, mas a impressão ao subir os créditos da nova adaptação de Resident Evil é exatamente essa.
Claro que nem tudo é ruim. Tem momentos muito bons no filme. De tudo que foi feito baseado em Resident Evil até hoje, Bem vindo a Racoon City é de longe o melhor fan service da franquia no cinema.
As cenas que se passam na mansão, desde a chegada da equipe até a ambientação dos cenários e claro, toda a ação dos personagens naquele local são os maiores acertos do filme.
Estão ali cenas icônicas do primeiro jogo da série, como a chegada da equipe na mansão e a revelação do primeiro zumbi, refeita com total fidelidade ao game.
Também há um certo hype na cena do acidente de caminhão, próximo à delegacia, inspirado no segundo game. Embora o final da cena seja um pouco decepcionante devido ao CGI mal feito, a cena não chega a ser um total fracasso.
Mas infelizmente o que se aproveita do filme é muito pouco, e só atende aos fãs da série de games. E é aqui que os problemas começam.
No casting, a Anglo-brasileira Kaya Scodelario (Maze Runner, Piratas do Caribe) na pele de Claire Redfield e o requisitadíssimo Neil McDonough (Darkman, Capitão América 1 e mais uma dezena de filmes, séries e games) como o vilão William Birkin são os únicos que entregam uma atuação de destaque.
Já Robbie Amell (que viveu Fred em Scooby-Doo) na pele do irmão da protagonista e um dos mais importantes personagens da franquia, Cris Redfield, entrega uma performance pouco inspirada. Mas não dá pra dizer que é culpa dele…
O mau aproveitamento na trama, principalmente dos personagens principais, é uma falha grave do roteiro. A maioria dos personagens estão na trama apenas por existir, sem nenhuma ou pouquíssima importância quanto ao desenrolar dos fatos. Principalmente Leon Kennedy…
Os diálogos do filme são sofríveis. Há muito pouca ou quase nenhuma inspiração nas pouquíssimas falas dos personagens.
A Jill Valentine, por exemplo. Personagem principal dos jogos 1 e 3 e vivida por Hannah John Kamen (Homem-Formiga e a Vespa), aqui é uma mera coadjuvante de etnia trocada, em nome da “representatividade.” (assim como Leon Kennedy), e não entrega mais do que caretas em cena.
Nenhum problema quanto a mudança de etnia. Mas com cenas triviais e diálogos pobres, não têm representatividade que salve!
Ainda sobre Jill Valentine, mesmo ela tendo “escapado ilesa” dos acontecimentos da trama, ela foi "assassinada" pelo próprio roteiro, no que diz respeito a uma possível sequência.
Tudo porque ela é a personagem principal também do terceiro game, que se passa na cidade. E como aqui ela passa quase todo o filme na mansão, e no final do filme, a situação é “contida” na cidade, não há mais possibilidade de ela ser a protagonista numa eventual continuação.
A não ser que ela tenha uma irmã gêmea…
O plot twist inicial é pra esquecer. A ideia de uma “conexão” entre os Redfield, William e a cidade até poderia funcionar, principalmente se a Umbrella supostamente tivesse algo a ver com a morte dos pais dos Redfield. Mas nem isso vemos aqui.
O que vemos é uma química forçada entre os irmãos, muito mais por falta de desenvolvimento do roteiro do que por falta de talento dos atores, e um plot totalmente desnecessário na trama.
E por último, mas não menos importante destacar: O que raios os diretores idealizaram para o personagem de Leon??
Ele seria a fuga cômica da trama? Não funcionou. Seria um coadjuvante de destaque? Não funcionou. Seria um personagem de apoio ao núcleo principal? Também não funcionou.
Melhor seria pra carreira de Avan Jogia (Ted 2, The Stranger) ficar dormindo no bar, como estava em sua primeira cena no filme. Um dos maiores personagens da franquia aqui é um Hippie indiano, dorminhoco e atrapalhado, que apenas existe na trama.
Não adiantou o ator deletar suas redes sociais (o fiasco não foi sua culpa!). Mais uma vez, nem a representatividade o salvou de um roteiro bomba…
A impressão final que o filme dá é de que não passa de um filme caça níquel, feito com o único propósito de ganhar dinheiro e sem nenhuma preocupação em escrever uma história própria minimamente decente.
Quanto a nós, reles mortais e fãs da franquia, fica mais uma decepção em relação a mais uma adaptação furada de um material tão bom e tão fácil de ser aproveitado quanto Resident Evil é.
Este artigo foi escrito por Eliezer J. Santos e publicado originalmente em Prensa.li.