C.S. Lewis, a eternidade e as nossas ações
Existe uma frase do C.S. Lewis que fala o seguinte: Tudo que não é eterno está eternamente ultrapassado. Ela se encontra no livro Os Quatro Amores do autor e toda vez que eu a leio, ela me faz refletir.
Me pego pensando em quantas vezes nos apegamos e damos uma tremenda importância para acontecimentos tão pequenos e que duram um breve instante.
Fazemos tempestade em um copo d’água e carregamos conosco as marcas e os destroços que ficam.
Pode parecer que estou exagerando, mas talvez você se reconheça em alguma dessas situações:
Há alguns anos você recebeu uma crítica ou um xingamento e ainda guarda ressentimento;
O taxista pegou a rua errada e você acabou se atrasando alguns minutos e isso te incomoda e gera insegurança em chegar atrasada aos compromissos;
Seu filho quebrou um copo e a situação ficou fora do controle por causa de uma reação exagerada e até hoje você o recorda: toma cuidado para não quebrar mais nada;
Você estava esperando com muita expectativa e ansiedade por um novo filme ou episódio e, depois que assistiu, não era o que você esperava, e você ficou decepcionada com a obra e ainda não superou.
Se identificou em alguma?
Essas 4 realidades podem acontecer com qualquer um, mas cada pessoa poderá reagir de forma diferente diante delas. Depende do grau de importância dado para cada situação.
Não estou aqui para falar de que forma você deve agir, não saberia fazer isso e nem é algo de minha competência. Mas quero trazer o meu entendimento em relação à frase do início do texto.
Tudo que não é eterno está eternamente ultrapassado.
Todos os acontecimentos citados acima ficam no passado. Não são eternos. Tem um tempo, uma reação, uma consequência e acabam.
Quando perduram no coração, ou na mente, geram desconforto, tristeza, raiva, rancor, insegurança ou culpa.
Mas o que é eterno?
Eterno é aquilo que transcende tempo e espaço, é aquilo que você constrói dentro de si, e se fixa nos ossos, na carne, nos nervos como parte da identidade.
Eterno é aquilo que não fica preso a um fato, mas que permanece. São as virtudes conquistadas, o amor e tudo aquilo que carregamos no nosso coração.
Se você está apegado a sentimentos ruins, está se sentindo preso a um acontecimento do passado, volta a reviver escolhas e tenta mudar o que é imutável, seus olhos não estão na eternidade, mas sim, naquilo que é ultrapassado.
O Padre Marcelo Rossi fala que a depressão é excesso de passado e a ansiedade, excesso de futuro.
E C.S. Lewis, em um outro livro, Cartas de um diabo a seu aprendiz, fala que “a eternidade em si é aquele ponto do tempo que eles chamam de Presente. Pois o Presente é o ponto no qual o tempo toca a eternidade” e explica: pois é no Presente que há a liberdade e a realidade.
É apenas no agora que temos a oportunidade de ação, os excessos sobrecarregam o nosso coração e criam barreiras e bloqueios que não permitem que enxerguemos a realidade.
Num mundo tão depressivo e tão ansioso, pensar na eternidade é uma forma de dar valor e importância àquilo que nos constrói e nos eleva.
Mesmo que você não creia na vida eterna, é um modo de trazer equilíbrio e uma visão autêntica da realidade.
Porque quanto mais se está apegado a fatos, sentimentos, lembranças ou sonhos distantes, menos você pensa naquilo que está diante dos seus olhos.
Sim, essa frase provoca muitos pensamentos e me faz olhar para a minha realidade. Sobre quais os pontos da minha vida que me prendem ao passado, quais as ansiedades que eu alimento, quais as tempestades que eu crio e fico guardando os destroços, me machucando, me cegando e me impedindo de agir.
Para concluir, recentemente assisti a série Solos da Amazon Prime, ela possui 7 episódios e, em cada um conta a história de um personagem, numa espécie de monólogo.
No episódio 3, uma senhora de 71 anos, interpretada pela atriz Helen Mirren, conta sobre a sua vida e, ao falar sobre a sua trajetória, ela demonstra que o medo, o apego às lembranças e o constante questionamento “e se?” a impediram de viver.
Que a nossa vida não termine assim, mas que seja uma construção diária, eterna e real.
Imagem de capa - Caleb Woods - Unsplash
Este artigo foi escrito por Raquel Carolina Pedrotti e publicado originalmente em Prensa.li.