David Goffman e a Travessia Infernal - A Resenha
Imagem: Giovana Ribeiro
David Goffman e a Travessia Infernal é uma ficção da literatura nacional escrita por Gabriel Ract, que conta as aventuras e os perigos vividos por um jovem rapaz fora dos padrões e envolto de muitos mistérios desde de sua origem, que decide atravessar os nove círculos do Inferno, cada um comandado por um príncipe demoníaco diferente, alguns sendo bem conhecidos.
A narrativa é uma clássica jornada do herói, que traz um protagonista forte, com conceitos e convicções muito bem definidos, e um objetivo tão demarcado, que ele leva como uma espécie de mantra, mas que vai precisando ser revisto a cada dificuldade superada.
O protagonista é apresentado em camadas, se aprofundando junto com seu desenvolvimento e com suas mudanças de perspectiva, indo de um menino pouco comunicativo, mas gentil, que tem convicções imutáveis e isso é a única verdade absoluta e certa para ele, a um ser que está disposto aprender com qualquer que seja a experiência e aberto ao olhar do outro, sendo capaz de ter um grande poder dentro de si.
A dinâmica entre David e sua parceira, Mari, que tem um protagonismo por si só, é de suma importância para o desenvolver da história, pois muito da evolução de cada um vem por eles se contraporem o tempo todo.
Ela é dona de uma personalidade forte, às vezes até imprudente, e tem pavor de se encontrar em uma posição de ser resgatada. Sempre pronta para o combate, não foge de uma luta e está sempre usando um tom sarcástico em suas falas. Porém, por trás de toda sua evidente força, esconde uma tristeza e sonha com uma mudança de realidade considerada quase que utópica.
Mari não hesita em correr para a linha de frente, encarando o perigo de cara aberta, diferente de David, que luta de forma calma e defensiva, mesmo que seja contra sua natureza mais pura. E o que poderia ser um choque de personalidades, se faz o contrário, criando uma harmonia complementar entre eles, que compreendem muito bem em pouco tempo, os fazendo amadurecer um com o outro.
A ambientação do Inferno é um show à parte, sendo um dos pontos de maior destaque em todo livro. Ao contrário do que quase qualquer outra história sobre o Inferno apresenta, esse é um lugar de aprendizado. Seja através da convivência com os mortos e demônios que lá habitam ou mesmo enfrentando um dos príncipes governantes dos círculos.
Cada círculo representa um pecado capital, apresentando um desafio diferente, com fantasmas e demônios específicos e, claro, com líderes muito peculiares.
Obviamente, existem almas que estão em sofrimento pelas mãos dos sádicos governantes, porém o Inferno se constrói em nuances, mostrando que nem tudo que é colocado como ruim, é de todo mal.
Os príncipes são criaturas muito cativantes, seja por excentricidade, por pura maldade ou por uma surpreendente gentileza. Cada encontro dos viajantes com eles é excitante, criando uma dinâmica única, fazendo surgir um sentimento de querer saber o que acontece com euforia.
Uma história de bom tom, com um universo muito bem construído e criativo, que pode ser explorado através de diversas vertentes em narrativas futuras e com personagens relacionáveis, que criam conexão tanto entre si quanto com o leitor, com um forte protagonista e coadjuvantes que roubam a cena.
Este artigo foi escrito por Giovana Ribeiro e publicado originalmente em Prensa.li.