De tanto mandarmos as crianças engolirem o choro, elas podem engasgar
Choro de criança em clínica infantil, tudo bem. Algo rotineiro. Estranho seria se as crianças não chorassem. De repente, mais alto que os prantos do menino, ouvi um adulto gritar: “-Engole esse choro.” Estas 3 palavras me fizeram refletir neste artigo que aqui escrevo.
Bastou aquele choro do pacientezinho, que não estava bem naquele dia. Logo ele puxou um refrão de mini-seguidores, da sala mais próxima à sala mais distante, o choro agora não era de apenas uma criança, e sim de inúmeras.
Criança explorando algo/ Pexels
A frase “engole esse choro”, ficou retumbando na minha cabeça. Percebi que ela foi reflexo da péssima maneira que os profissionais lidaram com o chorar e fiquei contente por estar ali e conseguir abordar o tema choro infantil em minha palestra. Presenciei em tempo real um material riquíssimo que eu poderia abordar.
Por que daquilo? Chegamos na resposta: ocupando o pódio dos motivos para as lágrimas, estava o fato de que crianças costumam chorar quando estão em situações novas e desafiadoras. Os adultos raramente sabem acolher e agir nesta situação.
Chorar é uma importante forma de comunicação e de liberação das emoções. Quando as coisas ficam difíceis de suportar, a adrenalina se torna forte.
A criança precisa chorar e dizermos para ela parar de fazer um impulso biológico: — Lute contra os teus sentimentos, faz chegarmos ao título deste artigo: “De tanto mandarmos as crianças engolirem o choro, elas podem engasgar.” A mensagem que “comer o choro” passa, é o contrário da força, não é nada nutritivo e é o puro oposto da inteligência emocional.
Segundo Daniel Goleman, inteligência emocional é a capacidade da pessoa sentir e na medida do possível, gerenciar os próprios sentimentos. Um comportamento altamente aprendido e treinável, portanto, capaz de ser desenvolvido já na infância e essencial para o amadurecimento.
Força é ter músculo para chorar e se expressar, o sentimento preso é covardia.
Este artigo foi escrito por Weslley de Morais e publicado originalmente em Prensa.li.