Debates políticos – por que devemos ter um olhar cético?
Com as redes sociais, o debate público se tornou muito mais aberto às pessoas dando sua opinião sem o filtro das grandes mídias. Isso é um fato. Não há como discutir que, quando um candidato diz que fez ou que não fez aquilo, a internet não deixa mentir. Aliás, como diz o filósofo Luiz Felipe Pondé, o nosso oráculo é o Google. Nossas perguntas para ele são perguntas respondidas com uma honestidade muito precisa, porque não tem como mentir para o Google.
A meu ver, a mentira não é uma simples inverdade e sim uma questão de distorção da verdade. Ou seja, o contrário da verdade não é a mentira, e sim a ilusão. É fácil entender isso. Se você disser que aquilo não aconteceu – quando de fato aconteceu – é uma distorção da realidade que está dentro do fato que, realmente, aconteceu.
Mas a ilusão é uma anti-verdade por natureza, porque é um fato que você acredita que aconteceu. O problema todo é em torno do verbo <<acreditar>>. Não é errado acreditar – mesmo porque nossas decisões giram em torno do acreditar em algo – mas, como disse antes, o Google é nosso oráculo.
Por incrível que isso possa parecer, temos que ser céticos quando disso depende nossa vida. A política – uma atividade que mexe em todas as áreas – é um ato dentro das comunidades humanas desde quando o ser humano tomou consciência da sua realidade.
Mas, que realidade? A realidade tem conceitos binários. Uma árvore existe, mas o que pensamos dela e como construímos, ao longo das eras, os conceitos dela, são aprendidos. Conforme o que aprendemos, arvores podem ser importantes ou não. Ao mesmo tempo, sabemos que são seres vivos da ordem dos vegetais e que trabalham com a fotossíntese (transformando a energia do Sol em alimento), trabalhando com o CO2 e transformando-o em oxigênio e aminoácidos para se alimentarem.
A verdade é essa. As qualidades que damos a elas são subjetividades estéticas que são colocadas em cada cultura ou dentro do seu gosto. Bananas para algumas pessoas são bonitas, para outras são feias. A verdade delas é que são matérias para germinarem a semente e podem ser comestíveis. Então, há a ilusão de que uma banana foi feita para nos alimentar sendo que ancestrais dos nossos ancestrais já comiam a banana.
Portanto, verdades são aquilo que compõem uma coisa, e as qualidades sempre, ou na maioria das vezes, são coisas que colocamos como dilemas ou paradigmas culturais.
A questão da política é uma questão de ceticismo – não podemos julgar aquilo que parece – porque tem a ver com o que é natural, ou seja, a natureza conforme aquilo que é.
Ceticismo, dentro da filosofia, tem a ver com não atingir nenhuma certeza a respeito da verdade, o que resulta em um procedimento intelectual de dúvida permanente e na abdicação de uma compreensão metafísica, religiosa ou absoluta do real. A realidade como tal – como no exemplo da banana ou da árvore – não tem razões que podem ser explicadas e a explicações não podem ser simplificadas. As árvores e as bananas são o que elas são.
Na política, as realidades não podem ser absolutas, não se pode mudar a realidade conforme aquilo que acreditamos. Senão, cairemos na questão da verdade, pois a alienação é uma ilusão conforme aquilo que o sujeito acredita.
Tudo gira em torno das certezas e não se tem nenhuma certeza. As certezas são nichos daquilo que nos ensinaram ser verdade – muitas vezes, são manipulações ideológicas. Por outro lado, as verdades podem ser apenas ilusões construídas por mentiras (distorções da realidade) daquilo que se quer esconder.
Este artigo foi escrito por Amauri Nolasco Sanches Junior e publicado originalmente em Prensa.li.