Democracia ou barbárie
Muito se fala de política. Muito se fala sobre democracia, sobre sua importância e sobre seus problemas. Sobre seu enfraquecimento. Sobre suas possibilidades e limites. Sobre suas formas. Sobre sua história. Sobre seus espaços. Sobre suas características. Sobre seus tipos. Enfim, a democracia é objeto de disputa política e de disputa teórica há mais de 2.500 anos, mas não é e nem deve ser algo consensual e acabado.
Entre tantos pontos a serem pensados e discutidos, há algo que não se pode e não se deve abrir mão: a própria democracia, que está em sério risco no Brasil. Sim, ainda engatinhando aos seus pouco mais de 30 anos, nossa sofrida democracia vem se arrastando em termos institucionais, mas pior ainda, em termos sociais e culturais.
Mais do que este ou aquele governante (e nem entrarei aqui nos inúmeros ataques à democracia por parte do atual governo) o que deve nos preocupar é a perda de legitimidade da democracia na sociedade brasileira. Quando falamos em democracia, devemos lembrar antes de mais nada da possibilidade de igualdade política e social; de liberdades civis, de participação cidadã e de respeito às diferenças. Para além de eleições, partidos, candidaturas, “políticos”, tratar de democracia é tratar de sociedade, de valores, de exclusão social, de cidadania e de justiça social.
A democracia está em forte crise no Brasil. É preciso, acima de tudo, lutar por sua manutenção e seu fortalecimento não apenas nas instituições políticas, mas em todos aspectos da vida em sociedade. Urgentemente. O que a extrema-direita conseguiu foi não apenas destruir o Estado brasileiro e os serviços públicos, mas principalmente a destruição de alguma possibilidade de pensar o Brasil a partir de uma lógica de solidariedade e cooperação em lugar dos mais de 500 anos de desigualdades, exploração e exlusão social.
Fale sobre democracia, defenda a democracia, reforce a democracia em sua própria mente (reveja seus privilégios e preconceitos), na sua casa (com suas relações de dominação), seu bairro (com seus problemas e diferenças sociais), seu trabalho (com suas formas de dominação e exploração), na sociedade (com suas formas de desigualdade, dominação, violência e ódio). Enfim, é preciso que nos enxerguemos e queiramos que a imagem seja muito melhor do que é vista hoje.
Para isso é preciso luta, esperança e amor. Luta como construção coletiva para um país e um mundo melhores; esperança do “esperançar” freiriano acreditando e agindo por justiça social; e amor como o respeito e valorização do “outro” como superação do ódio e do sofrimento. E não é impossível. É preciso o primeiro passo. Nunca foi fácil, mas sempre foi com muita luta. Sigamos!
Este artigo foi escrito por Cristiano Ruiz Engelke e publicado originalmente em Prensa.li.