Depressão pós temporada
À medida que o futuro se torna presente, as novidades dão lugar a novas reclamações. O ritmo acelerado da internet trouxe também o mau humor da falta de conexão. Já a maravilha do GPS deu a luz ao desespero da falta de sinal em um lugar desconhecido. Mas nada é tão comum, bem como universal, quanto reclamar do final de uma série e o vazio interior enquanto não se encontra algo novo para assistir.
Há quem diga que essa sensação pós moderna (super moderno como assevera Lipovetsky) surgiu no catastrófico final de Lost. Eva no ano 0, JJ Abrams 2010 e Felipão em 2014 conseguiram unir a humanidade em expectativa para logo na sequência destruir cada fiapo de alegria. A impressão de perda de tempo foi tamanha que não se ouve falar de alguém que tenha se dado ao trabalho de rever a história da ilha-purgatório.
E, mesmo quando as histórias se encerram de modo satisfatório, somos confrontados pelo vazio existencial da tela preta. A falta do ícone “próximo episódio” denuncia que estamos perdidos, que andaremos sem rumo pelo menu como um turista na estação Pinheiros de metrô. Olhando para cima e para baixo, sem saber para aonde ir. Cansado só de pensar em se mexer.
Essa é a ironia de um mundo sempre diz estar com pressa. A gente assiste correndo para depois se rastejar sem direção. De primeiro episódio em primeiro episódio até encontrar algo para se prender de novo. É curioso termos agendas tão acirradamente disputadas pelo trabalho, amigos e família enquanto, como náufragos, procuramos tábuas de salvação para os domingos à noite.
Em um nível muito estranho é como se as séries fossem pessoas. Não são raros os casos em que o exato mesmo indivíduo que nos irritava com a presença e tirava do sério com as manias, acaba por ser lamentado na ausência. “Os outros” que pouco depois irem dessa para melhor, para o além ou para o Caribe, deixam saudade. E assim quem incomodava é lembrado junto de um saudoso sorriso.
Breaking bad, Sopranos, Sons of Anarchy, The Office, Gilmore Girls, Friends, House, Prison Break, Supernatural, Game of Thrones e etc acabaram. Não vão voltar e ainda bem. Porque parte do valor das boas coisas da vida, tal como a arte e as pessoas, é que não são elas que nos servem. É a gente que cede parte do tempo e um pouco de quem somos a cada uma delas.
Imagem de capa - Photo by Alberto Contreras on Unsplash - Série velha, séria nova.
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Este artigo foi escrito por Daniel Manzano e publicado originalmente em Prensa.li.