Depressão: transtorno invisível
A cada 40 segundos, alguém no mundo tira a própria vida.
Essa é uma estatística preocupante a se ponderar todos os dias, mas, principalmente, no mês de setembro.
No Brasil, desde 2014, o mês de setembro “se veste” de amarelo por um motivo bastante importante.
Idealizada pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e pelo Centro de Avaliação da Vida (CVV), a campanha Setembro Amarelo tem como objetivo conscientizar a população sobre a prevenção do suicídio.
A iniciativa tem a data 10 de setembro, Dia Mundial da Prevenção ao Suicídio, como propósito para sua campanha.
Os dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2021, divulgado em julho, revelam que o número de suicídios no Brasil em 2020 foi de 12.895, com variação de 0,4% em relação a 2019, quando foram registrados 12.745 casos.
De acordo com a Associação Brasileira de Psiquiatria, cerca de 96,8% dos casos de suicídio são relacionados a transtornos mentais. Em primeiro lugar está a depressão.
Sentimentos de uma depressão
Trancado em um quarto escuro e solitário. É assim que a depressão pode ser descrita por quem enfrenta esse transtorno, o qual, às vezes, pode levar ao suicídio.
Infelizmente, a depressão, também conhecida como transtorno de depressão maior (TDM), tornou-se uma doença moderna que afeta muitas vidas em todo o mundo.
Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) relatam que o Brasil é o segundo país das Américas com maior número de pessoas depressivas, equivalentes a 5,8% da população
A corrida provocada na sociedade moderna e na globalização tem levado a humanidade a um estilo de vida estressante e pouco saudável.
Segundo explicação neurocientífica, um desequilíbrio de moléculas bioquímicas no cérebro, conhecidas como neurotransmissores, são as principais responsáveis pelos sintomas apresentados na depressão.
Os neurotransmissores envolvidos nessa doença são a serotonina e a norepinefrina, responsáveis pelo humor e pelas emoções relacionadas às sensações de prazer e bem-estar.
Os principais sintomas são tristeza, desequilíbrio de humor, falta de apetite, falta de perspectiva. A depressão é um distúrbio muito sério, entretanto é uma doença tratável.
Embora a maioria das pessoas que têm depressão não cometa suicídio, ter o transtorno grave aumenta o risco em comparação com pessoas sem a doença.
Todas as idades, raças e classes sociais estão em risco, com 77% de todos os suicídios ocorrendo em países de baixa e média renda, de acordo com a OMS.
Globalmente, os jovens podem ser os mais atingidos: ainda segundo a OMS, o suicídio é a quarta principal causa de morte em jovens de 15 a 19 anos em todo o mundo.
A depressão não tem cara
Normalmente, as pessoas depressivas costumam ser falsamente estereotipadas por serem uma pessoa de baixa empatia, ter uma aparência triste, alguém que não consegue sorrir ou está chorando o tempo todo.
Mas a depressão é um transtorno sem rosto. Muitos que sofrem desse transtorno no dia a dia costumam demonstrar ser uma pessoa sorridente. No entanto, dentro deles vive uma dura batalha de emoções.
A morte do ator Robin Williams, por exemplo, foi trágica e comovente, e também bastante chocante. Um comediante que dedicou toda a sua carreira a fazer rir acabou com a sua vida devido à depressão.
O compositor Chester Bennington, da banda de rock Linkin Park, cometeu suicídio pelo mesmo motivo. Sua morte causou tremores no mundo da música, mas o que veio a seguir foi mais preocupante.
Após sua morte, sua esposa Talinda Bennington tweetou um vídeo de família mostrando o músico brincando com seus filhos.
O famoso compositor não mostrou sinais de depressão. “Isso é como a depressão parecia apenas 36 horas antes de sua morte”, escreveu Talinda na legenda do vídeo.
Na última memória registrada de Bennington, ele parecia feliz. Ninguém poderia imaginar que ele estava deprimido.
É quase impossível entender o tipo de consternação, culpa ou ansiedade que alguém pode carregar por meio de uma interação superficial.
O fato de que a maioria das pessoas em depressão se recusa a falar sobre isso não torna mais fácil identificar o problema ou ajudá-los.
Há aqueles que, por meio de suas ações, dão sinais claros de depressão, como recorrer ao uso de drogas.
Como identificar e apoiar uma pessoa com depressão
Existem muitos fatores de risco que podem levar a um aumento nos pensamentos sobre tirar a própria vida.
É importante reconhecer isso em você mesmo ou em uma pessoa amada porque muitas pessoas não falam sobre seus pensamentos suicidas com antecedência.
Existe um histórico? Pessoas que têm depressão, transtorno de humor, ansiedade, uso de álcool ou outras substâncias, uma doença física grave ou uma história de trauma, abuso ou suicídio na família estão em maior risco, de acordo com a OMS.
Houve uma perda? A morte na família, o desemprego ou fim de um relacionamento é um fator de risco para o comportamento suicida, especialmente se eles se sentirem isolados ou sozinhos.
A crise econômica é uma realidade que acomete milhões de pessoas que estão desempregadas agora devido ao isolamento social ou quarentena relacionados à Covid-19.
Sentar-se no abismo da depressão é talvez a experiência mais debilitante para um ser humano - reconhecê-lo, chegar a um acordo com ele e enfrentá-lo requer cada grama de coragem que se possa reunir.
Por este motivo, é o apoio incondicional de todos ao redor que ajuda a travar esta guerra. No final das contas, a compreensão e a empatia são capazes de iluminar essa escuridão que chamamos de depressão.
Tudo isso deve estar aliado a um acompanhamento psiquiátrico e terapêutico.
Procure ajuda
Para a população brasileira que precisar falar com alguém imediatamente, a ajuda está disponível através do CVV – Centro de Valorização da Vida.
O Centro realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, e-mail e chat 24 horas todos os dias.
Você pode conversar com um voluntário do CVV ligando para 188 de todo o território nacional, 24 horas todos os dias de forma gratuita.