Desmistificando mitos
Imagem - Divulgação - via IMDB
Que o Brasil é o país dos extremos, não é novidade pra ninguém. Um dos ditados populares que mais expressam essa ambiguidade de extremos é o famoso “ou é 8, ou 80.”
Assim como a "escolha da pílula" em Matrix, a verdade ou a mentira é azul ou vermelha para alguns. E geralmente para estes, a verdade é o oposto do que o outro pensa.
Quem dera que a verdade de fato fosse tão simplista assim. Bem como no mito da caverna de Platão, a realidade é muito mais complexa e rica de possibilidades do que a relação entre luz de uma fogueira e sombras projetadas na parede.
Faz parte da cultura do brasileiro buscar associações convenientes com os seus gostos. Ou o sujeito é Corinthians, ou é Palmeiras. Ou é Flamengo ou é Vasco. Ou é apaixonado por Samba e carnaval, ou detesta ambos, etc.
E como não poderia ser diferente, na política, nunca se viu tanto extremismo: ou o sujeito é Lula, ou é Bolsonaro.
Embora Lula e Bolsonaro, ao contrário do que os seus apoiadores pensam, não sejam lá tão opostos assim (ambos têm muitas semelhanças entre si, cuja a principal é o populismo como forma de governar), Nunca se viu um país tão dividido em relação a dois candidatos em um ano de eleição presidencial.
Mas será que os dois são realmente os candidatos mais preparados e capazes de liderar o país num cenário pós pandêmico, inflacionário, e possivelmente, de guerra no leste Europeu?
Sem tomar nenhum lado, e apenas nos atentando aos fatos, eu convido o leitor a uma análise dos fatos em relação ao que se sabe da trajetória de ambos até aqui.
O controverso candidato petista já teve sua chance. Na verdade, duas. E ainda conseguiu eleger uma sucessora. Seu primeiro mandato foi muito bom, com o país tendo avanços significativos na economia e educação, principalmente.
Mas em seu segundo mandato, os grandes escândalos de corrupção começaram a manchar o seu governo, envolvendo toda a cúpula de seu partido, e culminaram já no governo Dilma Roussef com um impeachment da “presidenta” e a prisão de Lula.
Se Lula é de fato culpado ou inocente, isso fica para a, no mínimo, “confusa” justiça brasileira, onde ministros indicados pelo próprio Lula e sua sucessora Dilma anularam um julgamento até então legítimo, de um juiz concursado, alegando “imparcialidade” nos autos…
Mas o fato é que seu governo já demonstrava instabilidades em seu segundo mandato, e sua sucessora não conseguiu apaziguar os incêndios causados pelos escândalos como mensalão e petrolão, além de não conseguir controlar a economia em declínio, mesmo sendo uma economista.
Já o atual presidente Jair Bolsonaro é um caso à parte…
Antes de qualquer coisa, precisamos ser justos: Nenhum dos adversários políticos de Bolsonaro teve uma pandemia mundial estourando logo em seu segundo ano de mandato e implodindo a economia mundial como agravante.
Dito isso, e considerando que Bolsonaro está ainda em seu primeiro e único mandato até agora, numa comparação lógica, ele teria mais crédito para um novo mandato do que seu principal adversário, que teve dois mandatos.
E é bem verdade que o Brasil tem avançado e até tem surpreendido em algumas áreas, principalmente na economia, onde dá sinais de que se recuperará rápido dos estragos causados pela pandemia.
Mas se sua administração não chega a ser um desastre total, a pessoa de Bolsonaro o é.
Sempre polêmico, muitas vezes com comportamentos infantis e em nada condizentes com um chefe de Estado de uma das maiores economias do mundo, muito pouca coisa que sai da boca de Bolsonaro se pode tirar algum proveito, a não ser pra fazer memes.
Até Dilma Roussef e suas incontáveis “pérolas” vez ou outra se prendia a um recurso básico aos líderes sem habilidade com as palavras, chamado discurso pronto. Bolsonaro nem isso consegue…
Não fossem só a sua falta de decoro e inabilidade com as palavras, somam-se também a forma catastrófica com que conduziu a pandemia e a até então incapacidade do governo de conter ou minimizar a alta da inflação, que desde o ano passado virou um tormento na vida de cada brasileiro.
Somando tudo isso, pode se dizer também que Bolsonaro já teve sua chance. E ainda que, novamente sendo justo, ele é quem teve menos tempo de mandato em relação a Lula, a questão é: será que realmente vale a pena lhe dar mais 4 anos de mandato?
Saindo do espectro PT-PL e olhando de forma mais abrangente, podemos perceber que há outras opções. Novos nomes têm surgido no cenário político nacional. E ainda nem sabemos quais serão todos os candidatos que disputarão o pleito deste ano.
Tendo em vista que as eleições serão apenas em outubro, daqui a SETE meses, é no mínimo muito cedo pra já decidir em quem votar, ainda mais de forma cega, sem considerar nenhuma outra opção.
Pra que se vote realmente consciente, é necessário antes de qualquer coisa uma análise profunda sobre cada candidato. Sobre sua vida política e pessoal, sobre o que já fez em mandatos anteriores, ou analisar friamente suas ideias e a forma como se comporta em debates, dentre outras coisas.
Os desafios de nossa nação são muitos, e ela precisará mais do que nunca de líderes sérios, capacitados e de conduta ímpar, se realmente o Brasil quiser voltar a crescer e se desenvolver.
Não se escolhe um líder por osmose, ou seja: porque todo mundo diz que deve ser fulano ou ciclano. Foi assim que gente como Hitler chegou ao poder.
E mais uma vez mencionando Hitler, não se coloca amor sobre políticos, e nem se escolhe candidatos com o coração.
Já dizia um certo provérbio que "enganoso é o coração do homem…"
Talvez por um efeito ainda pertinente de "Roque Santeiro" na cultura brasileira, o povo vive numa espera eterna por um salvador da pátria, que dificilmente virá.
Entre 8 e 80 há 72 possibilidades diferentes.
Este artigo foi escrito por Eliezer J. Santos e publicado originalmente em Prensa.li.