Dia mundial da água
Rio Amazonas. Foto: AJancso / shutterstock.com
No dia 22 de março comemora-se o Dia Mundial da Água. Tal data foi criada em 1993, pela Assembleia Geral da ONU, em acordo na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento.
A intenção era promover, anualmente, campanhas de conscientização sobre a importância da conservação, preservação e proteção das fontes, e do suprimento de água potável para garantia da vida na Terra. Uma forma de pressionar os governos a tratar um dos assuntos relacionados a algo tão básico e que é um direito universal.
Essas medidas são fruto da Agenda 21, conflagrada na Eco-92 – ocorrida no Rio de Janeiro. Na virada do século, já estava colocada a necessidade de nos preocuparmos com o meio ambiente para manutenção da vida humana.
A pergunta não respondida que fica é: o que aconteceu de lá para cá? Como pudemos viver de murro em ponta de faca por trinta anos? A despeito de alguns pequenos avanços legislativos, hoje parece que piorou nossa perspectiva.
Em homenagem ao importante dia, a ONG SOS Mata Atlântica divulgou estudo em que somente 7% dos leitos dos rios do bioma apresentam boa qualidade. Mais de 20% dos pontos analisados estão em qualidade ruim ou péssima.
Reflexo direto de uma série de problemas estruturais, dentre eles a falta de saneamento para metade da população brasileira, os rios não escondem o que está acontecendo.
Quem mais sofre com isso são os mais pobres, sujeitos às doenças causadas por detritos e impactos geológicos da ocupação desordenada nas margens desses rios.
A poluição da água não atinge somente os humanos. O próprio bioma tem comprometido seu ciclo.
No início do mês, dados levantados pela Repórter Brasil apresentaram testes nas águas oferecidas em cidades brasileiras. Uma em cada quatro foram reprovadas por substâncias acima do limite.
Mesmo o limite da legislação brasileira – que é permissiva comparada à europeia, por exemplo – não vem sendo respeitado. O resultado disso é o risco, cada vez maior, da incidência de câncer até problemas no sistema nervoso.
Os produtos que toxificam a água que consumimos participam de cadeias de produção muito conhecidas por todos, ainda que pouquíssimos embolsem seus dividendos. São agrotóxicos e fertilizantes, muitos proibidos por agências reguladoras mundo afora, circulando apenas por aqui.
A atuação destes compostos no organismo, mais silenciosos que bactérias, levam anos para manifestar. No entanto, quando surgem os sintomas, são doenças graves.
Produtos altamente contagiosos barateiam a produção de uma minoria em detrimento do adoecimento da maioria da população, gerando custos muito mais altos ao atendimento público de saúde.
Para fechar o mês da água, o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), subjugado ao Ministério do Desenvolvimento Regional, apontou que pelo menos 40% dos recursos hídricos, tratados, foram desperdiçados na distribuição às residências.
Isso mesmo. De toda a água tratada no Brasil, potável, quase metade se perdeu, seja por tubulações antigas ou mal instaladas. A conta fica mais cara ao consumidor e ao Estado ou a concessionária perde o investimento no processo de limpeza.
Some-se a isso os impactos da pior seca em mais de 50 anos, que tombou níveis de reservatórios pelo Brasil, e o cenário apocalíptico está formado. Há possibilidade real de convivermos endemicamente com falta de abastecimento de água em poucos anos.
A potabilidade da água, elixir básico para existência de formas de vida neste planeta, está seriamente ameaçada pela ação humana.
Nunca foi tão urgente reafirmar os pressupostos da Eco-92. Nem tão cara à celebração mundial pela proteção das fontes hídricas. Isso, claro, se o mundo não aceitar virar de vez uma grande distopia.
Este artigo foi escrito por Matheus Dias e publicado originalmente em Prensa.li.