Diplomacia do Futebol
Este termo sugere uma nova relação entre a política internacional e o futebol, no que tange aos sistemas administrativo, económico e de práticas sociais, bem como no desporto profissional. Tudo isso, para um povo que julga e pensa que sabe muito, tem sido reduzido às comparações e soluções futebolísticas, como se fossem torcedores e adeptos¹ defronte à televisão ou numa ida ao estádio, com o copo de cerveja na mão.
Entretanto, se esta bebida fosse permitida tanto nos estádios como nos parlamentos, situações mais graves e violentas que as usuais resultariam de tais combinações legais, e imorais. Legais porque o álcool é uma droga lícita mas, imorais porque não se decide assuntos coletivos importantes num grupo de bêbados. Vide os 'hooligans'² ingleses, impedidos de frequentarem estádios de futebol. Na última copa UEFA³ inclusive, viu-se novas agressões de ingleses frustrados contra torcedores adversários...
Temos visto que a substituição das palavras situação e oposição por direita e esquerda, como se fossem azuis e vermelhos ou, preto e branco, transmuta-se numa espécie de racismo ou nacionalismo medieval. E a vida em sociedade globalizada moderna, numa partida de futebol. Mas não o é, apesar deste desporto ser um ítem importante da vida moderna social, como forma de divertimento coletivo, confraternização e principalmente, de educação e da convivência, sobre o entendimento de vitória e derrota, ou meritocracia. Neste ínterim sim, encontramos correspondência entre futebol e política.
Podemos democraticamente entender que um partido ou candidato teve melhor competência e aceitação em determinado momento político-econômico e social porém, podemos reformular e melhor preparar nossa estratégia com planos para o próximo momento eleitoral e até, nova equipa ou escrete. Todavia, não podemos jogar com amadores despreparados, fisicamente nem intelectualmente ou que deslealmente fujam às regras acordadas e pré-estabelecidas. Alguém não pode antes de perder, recolher a bola ofertada pelos pais e privar os amiguinhos da dita 'pelada'⁴. É antiético e sim, infantil.
Também rejeitariam esta ação se, estivessem vencendo, ou quase…? E há os intervenientes desonestos, como árbitros, juízes, gandulas, assessores e, mesmo os torcedores ou cidadãos...!
Portanto, ao ver empresários e políticos, funcionários públicos e população disputarem poder dentro de uma nação económica e social pré-organizada, com decisões ou opiniões futebolísticas, perdemos completamente a noção fundamental de função social, de todos estes agentes profissionais políticos e econômicos que inexistem para auto satisfação nem para autopromoção corporativa ou clubística.
A sociedade onde o futebol está inserido, com suas regras próprias e privadas, não pode ser modelo de política pública onde os times, o estádio e todos os seus intervenientes, devem servir a um bem maior e coletivo mas não apenas a duas equipas ou alguns clubes. Essa inversão está a dar mais importância ao exemplo do futebol, quando a verdade é o contrário. O exemplo político também orientará o futebol, logicamente.
¹ alcunha portuguesa para fãs desportivos.
² alcunha para os torcedores agressivos.
³ campeonato europeu de seleções.
⁴ alcunha brasileira para futebol amador. Não vemos a possibilidade de times mistos de futebol competirem entre si, apesar de até em alguns casos estar sendo isso considerado, devido às características intrínsecas naturais de cada gênero humano. Força principalmente, além da técnica aliada à resistência e anatomia, é o ponto crucial de um combate esportivo. Mas não é e nem deve ser na política, o diverso e contrário pode ser preservado. A boa convivência entre os diferentes, com oportunidades diversas e regras que equilibrem desvantagens económicas, sociais, físicas e intelectuais e, o mote da política pública extraem o melhor de cada, permitindo uma associação dos complementares. Inclusive a regulamentação e o equilíbrio das políticas privadas onde ambas encontram-se, que se dará o conhecido 'Mercado'
⁵. O Estado não pode e não deve ser regido por leis econômicas da 'mão invisível'
⁶ mas, como parte reguladora do mercado, organizar, orientar e contribuir para uma adaptação assente entre público e privado, que melhor distribua entre capazes e incapazes a riqueza de uma região, de um continente e do planeta.
A linguagem do futebol multicultural como na 'Torre de Babel'⁷ sim, esta deve ser absorvida e introjetada no mundo globalizado e não só, como viés económico da lucratividade e êxito. Como num 'fair play'⁸ deve compensar o mais fraco e impotente, meritocraticamente estimulando o forte e o capaz, para que justa e honestamente se apoiem e se ajudem, sendo compensados produtivamente com esforços menores e feitos maiores de uma coletividade, incluindo-se nisso os adeptos torcedores.
Não é o que se tem visto entretanto, em populismos incompetentes, ociosos e enganosos, com resultados pífios de agentes amadores e corruptos, operando numa arena ilegal mas vestindo fardamento e 'camisola'⁹ oficial, para em povos incautos confundir a verdade honesta e vestí-la de incapaz modesta…
Ou, poderiamos entender que é a Política a dar exemplo ao Futebol??🤔
Este artigo foi escrito por Diogo Ribeiro e publicado originalmente em Prensa.li.