Do Open Finance ao Real Digital: para onde caminha o futuro financeiro do Brasil?
Confira os destaques do Zoop Summit, que reuniu grandes nomes do setor de pagamentos e serviços financeiros para debater o futuro do mercado em uma tarde de palestras em São Paulo.
Ontem, 22/05, aconteceu a segunda edição do Zoop Summit – evento que reuniu especialistas do setor financeiro, além de clientes e parceiros da Zoop para debater inovações e tendências de pagamentos e serviços financeiros.
Os temas apresentados este ano trouxeram uma perspectiva aprofundada a respeito do cenário de inovações tecnológicas no sistema financeiro brasileiro, abordando assuntos como Open Finance, PIX, Real Digital, máquinas de pagamento e inclusão financeira.
Os passos até o futuro
A abertura do evento ficou por conta de Rafael Bianchini Abreu Paiva, Coordenador no Banco Central do Brasil há quase 16 anos. Na palestra magna, que abordou o futuro financeiro do país, o especialista compartilhou alguns dos importantes avanços e desafios enfrentados pelo setor, com destaque para o PIX, o Open Banking e as tecnologias de registro distribuído, como blockchain.
"Ano passado, o PIX, que vai completar 4 anos em novembro, teve a marca de aproximadamente 200 transações por habitante no Brasil. É um dos Fast Payments que conseguiu ter a escala mais rápida do mundo — poucas experiências são tão bem-sucedidas quanto o PIX.
E como ele consegue isso? Por dois motivos: de um lado, para incentivar o usuário, ele não tem tarifa para pessoa física e empreendedora individual. De outro, para trazer as instituições: as maiores, que têm mais de 5 milhões de clientes, são obrigadas a estar no PIX. As menores, claro, têm um incentivo de mercado para estar em uma plataforma onde está todo mundo", afirmou o palestrante.
No seu pico, em 20 de dezembro do ano passado, o PIX processou mais de 2.000 transações por segundo, mas tem capacidade para atingir até 5.000 por segundo.
Outra inovação destacada foi o Open Banking, que evoluiu para Open Finance. Esta iniciativa permite o compartilhamento de dados financeiros entre diferentes instituições, com o consentimento dos clientes, promovendo maior transparência e competitividade — o que pode trazer uma eficiência sem precedentes ao sistema financeiro e cuja adesão deve ser incentivada.
O uso de tecnologias de registro distribuído também foi um tema central da palestra. Embora inicialmente associadas a criptomoedas, estas tecnologias têm encontrado aplicações cada vez mais amplas no sistema financeiro tradicional.
O blockchain, por exemplo, oferece uma maneira segura e descentralizada de registrar transações. Contudo, a tecnologia traz aspectos significativos a serem considerados em termos de escalabilidade e custos — afinal, as inovações não vêm sem desafios. O especialista mencionou o "trilema da escalabilidade," que explica o desafio de equilibrar segurança, descentralização e capacidade de processamento.
Por isso, a regulação é um aspecto crítico para garantir a segurança e a eficiência destes novos sistemas. Nas palavras de Rafael:
“A indústria cripto está muito ansiosa por uma regulação por parte do Banco Central, é natural. Eu digo para todo mundo que ser um concorrente sério, quando tem muita gente picareta, é muito difícil. (…) A regulação muitas vezes vem para igualar regras de concorrência nesse mercado.
Por isso, é interessante primeiro ouvir o mercado — que não é uma coisa homogênea, tem interesses divergentes. (…) As consultas públicas visam dar subsídio para o Banco Central saber mais ou menos como ele tem que fazer essa norma. Então, é a melhor prática.”
Na opinião do especialista, o Banco Central está sendo prudente, visando equilibrar inovação com proteção ao consumidor e aos agentes do mercado. Com regulação adequada e contínua evolução tecnológica, o Brasil pode se consolidar como um líder global em inovação financeira.
Real Digital e o avanço do PIX no Brasil
Após a palestra magna, o palco foi destinado aos painéis com especialistas que representam alguns dos maiores players do mercado.
No painel Real Digital e Avanço do PIX no Brasil, Carlos Augusto de Oliveira, Diretor Executivo da ABFintechs, moderou a conversa entre Fabiano Cruz, CEO da Zoop, Flavio Meirelles Aguiar, Diretor de Soluções Financeiras da OLX Brasil, e Edson Santos, Fundador da Colink Business Consulting, abordando temas cruciais sobre a evolução das transações digitais no país.
Os especialistas destacaram as oportunidades e os impactos das inovações no mercado financeiro brasileiro, enfatizando a importância do PIX como uma ferramenta de inclusão financeira e celebrando sua rápida adoção pelo público brasileiro. Além disso, os painelistas enfatizaram a diferença crucial entre o que o PIX propõe e os objetivos do projeto do DREX — o Real Digital.
Enquanto o PIX é uma solução transacional com foco no varejo, seja ele digital ou não, o DREX traz a possibilidade de programação específica para diferentes casos de uso.
“Em resumo, com o Pix, nós fazemos um pagamento, ou seja, enviamos dinheiro do ponto A ao ponto B, liquidando aquela compra — é uma remessa de recursos. O DREX, não. Ele, usando a tecnologia do blockchain, acompanha a jornada daquela transação, garantindo que ela seja executada até o final”, explicou Carlos Augusto.
Máquinas de pagamento e o acesso da comunidade lojista
No segundo painel do dia, Gustavo Brigatto, Editor-Chefe do Startups, foi moderador da troca entre João Banzato, General Manager for P2M Payments do Nubank, Duda Davidovic, Superintendente de Design e Inovação da Elo, André Martins, CTO da Zoop, e Thomas Barth, Fintech Director do iFood. Os especialistas abordaram as inovações a respeito das máquinas de pagamento e o acesso da comunidade lojista.
O debate foi iniciado com uma provocação:
"Todo mundo aqui já presenciou ou participou de alguma batalha da guerra das maquininhas, quando, por exemplo, o varejo precisava ter várias máquinas de pagamento para aceitar pagamentos com cartões de diferentes bandeiras. Atualmente, essa guerra deixou de ser simplesmente por um preço, visto que temos serviços agregados e muitas outras inovações — as próprias maquininhas ganharam a guerra. Na opinião de vocês, será que elas sempre irão existir?”, questionou Gustavo.
Para responder a esta pergunta, é essencial analisar as necessidades — tanto do mercado quanto dos consumidores — e explorar as possibilidades de aplicação de tecnologias para cada caso de uso. Enquanto o tap-to-pay, por exemplo, pode ser ideal para pequenos comerciantes, as máquinas de pagamento tradicionais ainda têm um papel crucial em muitos cenários, especialmente devido à sua capacidade de aceitar múltiplas formas de pagamento.
O futuro destas máquinas está justamente na conexão entre pagadores e recebedores — o que resultará em máquinas de pagamento mais inteligentes, capazes de sugerir automaticamente a melhor forma de pagamento de acordo com o saldo disponível e as preferências do usuário.
Na opinião dos especialistas, de alguma forma, sempre irá existir algum dispositivo para o pagamento. A diferença está no fato de o dispositivo que apelidamos carinhosamente de maquininha estar sendo reinventado e se tornando cada vez mais um P.O.S. (Point of sale, ou ponto de venda) — uma ferramenta muito mais completa.
Embora o mercado seja muito competitivo e a busca pela principalidade por parte dos provedores sempre vá existir, a colaboração entre provedores é essencial. Nas palavras de Duda:
“O papel da colaboração e da cooperação precisa se tornar mais forte — principalmente levando em consideração as movimentações do Banco Central com relação ao Real Digital. Estamos tratando do assunto como se fosse algo muito distante, mas isso não está tão longe assim. É um novo arranjo, um novo modelo de pagamento, captura, recebimento, transporte de fundos. Se não existir cooperação, este novo modelo não se sustenta.”
Os desafios do Open Finance
O último painel do evento contou com a participação de Henrique de Aquino Pereira, Payments & BaaS do Itaú BBA, Alessandro Raposo, COO da Zoop e Gustavo Gierun, CEO e Co-Fundador da Distrito, e foi moderado por Giovanna Sutto, Jornalista do Infomoney.
A conversa girou em torno das possibilidades para o cenário do Open Finance no Brasil, que tem o potencial para trazer uma dinâmica de pagamentos e acesso a serviços financeiros completamente distinta para o país.
Os especialistas comentaram que toda evolução tecnológica traz consigo um lado positivo e um lado negativo, e que cabe ao mercado e aos reguladores arbritrar e combater os potenciais negativos desta evolução. A maior responsabilidade da transformação que o Open Finance propõe é proteger a parte mais frágil: o consumidor.
Na opinião dos especialistas, o empenho em educar a população a respeito das possibilidades que o compartilhamento de dados traz é de extrema importância. Mais que explicar o que significa Open Finance, é necessário trazer para a compreensão do público o valor que esta dinâmica traz para a realidade do ecossistema financeiro.
"Acredito que a ênfase não deve estar tanto em compartilhar os dados, mas muito mais naquilo que, enquanto ecossistema, a gente vai entregar de diferente para o cliente", comentou Raposo.
De modo geral, as trocas que aconteceram durante o Zoop Summit enfatizaram que o futuro é bastante promissor — não só no que diz respeito ao avanço e à e integração de serviços financeiros, mas principalmente na democratização de acesso a estes serviços. Afinal, a evolução não é apenas sobre a tecnologia em si, mas principalmente sobre como ela ajuda as pessoas e resolve problemas reais.