Doctor Who: Cedo Demais Para Regenerar?
Em quase 58 anos, a série passou por muitas adversidades e mudanças. De um programa de ficção cientifica com baixo orçamento em uma emissora de TV pública para ícone da cultura britânica transmitida em vários países no mundo, Doctor Who teve uma importante atualização em 2018.
Com a criação do conceito de regeneração, Doctor Who conseguiu se renovar ao mudar quem interpreta o personagem principal. Três anos atrás, Jodie Whittaker estreava como a primeira mulher no papel do Senhor do Tempo, sob a conduta de Chris Chibnall.
Mas como nem tudo são flores, ambos começaram a ser criticados por “fãs de verdade” com afirmações de que estariam alterando a cerne do show, colocando política e que estavam querendo “lacrar”.
Mas, vejamos, sempre houve política na série. No meu entendimento, a política está em tudo, inclusive em Doctor Who. Desde os primeiros arcos. Os Daleks, por exemplo, foram criados como uma metáfora dos nazistas. Muitas histórias tinham um apelo progressista, com mensagens antiguerra e anticapitalistas até, como o arco O Planeta Pirata escrito por Douglas Adams e o episódio Oxigênio da décima temporada da série atual.
Em questão a “lacração”, já foi mostrado na série que os Senhores do Tempo poderiam regenerar para qualquer gênero ou espécie que quisessem, como na série clássica. A Doutora era algo que iria acontecer cedo ou tarde, sendo a Jodie ou não.
Respondido isso, não foi isso que causou os recentes anúncios. Os três Doutores anteriores completaram três temporadas, cada, antes de saírem. Com a Jodie já era esperado que fosse acontecer o mesmo. A surpresa, para mim, foi o anúncio da saída de Chris Chibnall.
Ele teve a difícil missão de assumir o comando após Steven Moffat, que foi o showrunner da série por seis temporadas e o responsável pela a popularização no mundo todo. E não só, a de trazer uma versão feminina do personagem também.
Acredito que a pressão foi enorme. Por mais que eu tenha gostado e apoiado a Jodie no papel, ela, infelizmente, não teve muitos bons roteiros com o que trabalhar. Chibnall teve muitos conceitos bons, mas não soube desenvolver todos.
Os personagens criados para acompanhar a Doutora, os chamados companions, tinham pouco carisma e, repito, não por culpa dos atores. Tosin Cole, Bradley Walsh e Mandip Gill tinham uma ótima química com a Jodie, mas apenas fora das telas.
Muitas das atitudes da Doutora com os seus companheiros de viagem não faziam sentido, é como se apenas Chibnall soubesse os motivos e não quisesse revelar ou planejava fazer isso depois e não se lembrou.
Os vilões criados para a sua primeira temporada não agradaram muito e algumas vezes, até viravam piada no fandom. Entre a décima e a décima primeira temporada, houve um hiato de quase um ano. Ao retornar, trouxe alguns dos vilões clássicos e mistérios que chegaram a empolgar.
Mas houve outro obstáculo no meio disto: A própria BBC, emissora que produz a série. Isso porque, desde a décima primeira temporada, a empresa mal se empenhava em divulgar a série. Se compararmos com a época que o Peter Capaldi era o protagonista, por exemplo, havia muito mais eventos e divulgação.
Não que a marca tivesse sido esquecida no porão do canal, mas muita coisa que foi lançada da franquia entre 2019 até há pouco tempo, usava muito mais os Doutores antigos (principalmente o interpretado pelo David Tennant) do que a atual.
Eu não sei o que esperar da última temporada de Jodie e Chris na série. Segundo informações oficiais, a nova temporada terá seis episódios que formarão uma única história, seguidos de três especiais cujo último terá a duração de um filme.
Ou seja, em uma série que costuma ter 12 episódios por temporada, sem contar os especiais de fim de ano, apenas nove é um espaço muito curto para amarrar as pontas soltas. Ainda mais a quantidade que ele já deixou desde a última temporada.
Torço para que Chibnall consiga encerrar a sua fase de forma satisfatória. A 13ª Doutora merece uma grande despedida assim como os Doutores antes dela.
Imagem de capa - Divulgação/BBC
Este artigo foi escrito por Fabio Farro de Castro e publicado originalmente em Prensa.li.