Don't panic and carry a towel!
Não entre em pânico! Aonde quer que você vá, leve sempre sua toalha com você e tudo terá mais chances de acabar bem. Hoje é 25 de maio, Dia do Orgulho Nerd e claro, Dia da Toalha. Mas o que tanto uma tolha tem a ver com ser um nerd e por que 42 é a resposta para a questão fundamental da vida e do universo?
A comemoração do "orgulho nerd" começou na Espanha, mais especificamente em 2006. O 25 de maio foi escolhido por ser o dia em que "Star Wars: Uma Nova Esperança" estreou, em 1977. A intenção era não confundir com o Dia de Star Wars, comemorado no 4 de maio.
Mas eu perguntei sobre a toalha!
O Dia da Toalha é mais antigo e tem relação especial com um ícone da literatura nerd: o escritor Douglas Adams. Conhecido por seu sarcasmo e humor, ele critica vários pontos da sociedade moderna, e faz isso através de um robô maníaco-depressivo e um governante idiota.
No final dos anos 1970, ele apresentou ao mundo o universo de “O Guia do Mochileiro das Galáxias”, uma narrativa cômica sobre uma viagem interplanetária. Na época, o autor, formado em literatura inglesa pela Universidade de Cambridge, trabalhava em um programa de rádio com Simon Brett, falando sobre ficção científica.
Um bom mochileiro jamais viaja sem sua toalha - Imagem de reprodução
O Guia do Mochileiro das Galáxias teve sua origem como um áudio drama transmitido pela rádio BBC Radio 4. Um ano depois a aventura galáctica de Arthur Dent, Ford Prefect, Marvin e cia. se transformaria no primeiro volume de uma série de livros, que é popularmente chamada de “uma trilogia em cinco partes”.
A ideia para do Guia veio em um momento incomum, de um sonho que Adams teve enquanto cochilava bêbado em um campo da Áustria, numa época em que estava deprimido por não conseguir se comunicar com ninguém. As referências da história vieram de um guia de viagem pela Europa que ele possuía na época.
A obra máxima de Adams logo se tornaria um ícone para a cultura pop, revolucionando a ficção científica. Até a década de 70, o sci-fi era um gênero predominantemente dramático, e a escrita de Adams se contrapôs a isso, apresentando uma obra brilhantemente cômica e com momentos plenamente absurdos.
"O Guia do Mochileiro das Galáxias"
O primeiro e o mais famoso dos cinco volumes é "O Guia do Mochileiro das Galáxias". Ele narra a bizarra e hilariante jornada de Arthur Dent, que não apenas teve sua casa destruída, mas seu planeta inteiro, em plena quinta-feira. Arthur sobrevive a demolição da Terra pegando carona em uma nave espacial com Ford Prefect, um alienígena de Betelgeuse (e não um ator desempregado como ele finge ser).
Juntos eles vivem aventuras malucas pela galáxia e se deparam com companhias bem singulares como Marvin, um robô depressivo; a humana Tricia McMillan e até mesmo o presidente da galáxia Zaphod Beeblebrox.
Um momento entre Arthur e Marvin, o androide depressivo - Imagem de reprodução
Em meio a viagem de Arthur, somos lançados a cenários mirabolantes com as mais diversas criaturas. Além disso, o livro apresenta inovações tecnológicas e teorias de física nuclear que desafiam o pensamento de qualquer estrito (alguém que não é um mochileiro).
E se você começou a se preocupar, calma. O Guia do Mochileiro das Galáxias não exige nenhum conhecimento sobre física ou biologia — terráquea o alienígena — mas quem souber algo do assunto também conseguirá apreciar a leitura.
Vem cá, você sancha essa cara dupal, o Ford Prefect?
O Guia do Mochileiro das Galáxias, que vende bem mais do que a Enciclopédia Galáctica, faz algumas afirmações a respeito de toalhas. E todo mochileiro de respeito deve conhecer algumas delas.
Segundo o Guia, “a toalha é um dos objetos mais úteis para um mochileiro interestelar. Em parte, devido a seu valor prático”. Você pode se agasalhar com ela nas luas frias de Beta de Jagla; agitá-la para pedir socorro e usá-la para se enxugar, caso a toalha ainda esteja razoavelmente limpa e inteira.
Apesar de todas essas utilidades, o maior valor dela é psicológico, por que quando um estrito vê um mochileiro portando uma toalha, a sua conclusão mais lógica é que o mesmo também possui escova de dente, bússola, traje espacial, capa de chuva, repelente e outros objetos bem comuns. Se o estrito precisar, o mochileiro pode lhe emprestar algumas dessas coisas.
Sem falar que rodar a Galáxia e ainda saber onde está a sua toalha te torna merecedor de respeito.
É daí que temos a expressão “vem cá, você sancha essa cara dupal, o Ford Prefect? Tai um mingo que sabe onde guarda a toalha."
Sancha: conhecer, estar ciente de, encontrar, ter relações sexuais com;
Dupal: cara muito incrível;
Mingo: cara realmente muito incrível.
Representações binárias, base 13, macacos tibetanos são totalmente sem sentido
O escritor inglês produziu obras para as mais diversas mídias com seu estilo de humor único - Crédito: BBC/Divulgação)
Um dos conceitos mais interessantes e curiosos da série está relacionada ao número 42. De acordo com a narrativa, 42 é a resposta para todas as questões fundamentais da vida e do universo. Isso tem sua origem nas sátiras de Adams para com uma sociedade sempre em busca de uma resposta para absolutamente tudo.
Em sua obra, Adams nos apresenta o Pensador Profundo, um computador projetado responder a qualquer dúvida. O problema é que a resposta para "o sentido da vida, o universo e tudo mais" exige um prazo de milhares de anos para fazer os cálculos
Resultado: após 7,5 milhões de anos, o Pensador Profundo chega à resposta. 42.
Mas por que 42? Muitos procuram uma explicação para essa resposta sem sentido de Adams. No dia 3 novembro de 1993, em um comentário no ‘alt.fan.douglas-adams’, o escritor deu a justificativa mais inesperada:
“A resposta é muito simples. Foi uma brincadeira. Tinha que ser um número, um ordinário, pequeno e eu escolhi esse. Representações binárias, base 13, macacos tibetanos são totalmente sem sentido. Eu sentei à minha mesa, olhei para o jardim e pensei '42 vai funcionar' e escrevi. Fim da história.”
Uma sugestão: digite no Google “the answer to life the universe and everything” e veja o que acontece.
A escolha do número 42 foi aleatória, e a do Dia da Toalha também. Douglas Adams morreu no dia 11 de maio de 2001, aos 49 anos, de um ataque cardíaco. Seus fãs decidiram homenageá-lo duas semanas depois de sua morte, no dia 25 de maio. Uma data que não tinha qualquer relação com o autor. E havia melhor forma de fazer isso, que escolhendo uma data aleatória?
Adaptações de sua obra
Além dos livros, a história já foi adaptada para outros formatos, incluindo séries de TV, jogos de videogame, HQs, peças de teatro e inspirou até mesmo músicas como “Paranoid Android” — referência a Marvin — da banda de rock alternativo Radiohead.
Aliás, um dos jogos recebeu várias atualizações nos últimos 30 anos, e pode ser jogado de graça no site da BBC (em inglês). Um dos avisos do game é “O jogo irá matá-lo com frequência. É meio cruel assim”.
A mais recente versão do jogo lançado em 1984 - Imagem de reprodução
Em 2005 tivemos a primeira adaptação cinematográfica da obra, com a direção de Garth Jennings e a narração do ator Stephen Fry. O elenco incluí Martin Freeman (Arthur Dent), Mos Def (Ford Prefect), Zooey Deschanel (Trillian) e nosso eterno Alan Rickman (droide Marvin). O longa também tem as participações de Bill Nighy, Hellen Mirren e John Malkovich.
O Guia do Mochileiro das Galáxias foi um marco para a construção de uma cultura que antes era limitada a um nicho, mas que hoje, rompeu barreiras e se tornou global. E devemos muito disso a Adams. Ele provou com suas sátiras que revoluções podem se apresentar de qualquer maneira, inclusive com uma boa piada.
Até logo e obrigada pelos peixes!
Este artigo foi escrito por Luana Brigo e publicado originalmente em Prensa.li.