É possível um Brasil mais ético?
Um dos meus colegas do Facebook – usando uma imagem de um livro de filosofia sobre ética – trouxe uma reflexão interessante. Não conseguia acreditar que um ex-ministro da Educação e um pastor (teólogo) poderia estar envolvido em casos de corrupção.
Mesmo o porquê, numa forma mais profunda, a corrupção além de ser uma mentira (porque você acaba escondendo a verdade sobre seu ato) ainda a corrupção, na sua essência, seria um roubo. Roubo é errado dentro das leis dos homens e as leis divinas, já que ele é pastor.
A questão tem um viés muito mais abrangente, pois, tem respaldo dentro da história humana e tem a ver com condutas éticas sociais. A reflexão sobre a verdade começa na filosofia grega, onde podemos ver ela em filósofos como Sócrates e seu discípulo Platão (que viveram no terceiro século antes de Cristo).
Podemos ver também, que a mentira também é discutida dentro da teologia e as várias manifestações espirituais desde muito milênios. Na bíblia e nos escritos rabínicos – dentro do judaísmo – o pai da mentira seria Satanás que enganou Adão e Éva para comerem o fruto proibido.
Por outro lado – nos últimos tempos – a discussão está indo além da mentira, e sim, está indo das consequências muito piores dentro de uma simples não verdade.
A obscuridade das formas de mentira e dos atos cometidos está indo num patamar de roubo, assassinato, de atos ilícitos e de uma cultura que sempre adotou a “vantagem” como pilar do cidadão esperto, o cidadão que se dará bem. Será mesmo que isso tem a ver com nossa educação? Será que devemos refletir como estamos lhe dando com nossa educação?
1 – A corrupção
O que seria um ato corrupto? Segundo a Wikipédia, etimologicamente, corrupção vem do latim “corruptiōnem”, acusativo singular de “corruptiō”. Este, por sua vez, é formado da união do prefixo “com-“(atuando como intensificador) ao radical “ruptô” (rompimento).
Ao que parece, o filósofo e teólogo romano Santo Agostinho, com essa definição, explicou que a origem do termo seria de “cor” (coração) e “ruptus” (rompido), que um ser corrupto seria um ser de coração rompido. Santo Agostinho defendia que o homem (ser humano) tinha bondade, pois, a bondade era natural. Mas a maldade era algo antinatural.
Por outro lado, fontes mais modernas não concordam com essa definição. Num modo geral – nas coisas vivas e não vivas – uma corrupção ou corrompimento, pode significar uma ideia de decomposição (por isso a ideia de corpos corruptíveis e incorruptíveis).
Numa esfera mais em relações humanas, em particular, tem a ver de aceitar suborno, ato ou efeito de corromper, sempre para obter vantagem indevida, para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício, conforme está no artigo 333 do Código Penal brasileiro de 1940.
Ora, ao que parece a reflexão então, pode nos remeter ir além das definições técnicas e ir a um patamar bem mais dentro da moral e da ética. Antes de tudo, porém, podemos usar a definição de Santo Agostinho e enveredar no ato, onde sem essa carga teológica, podemos dizer que esse “coração rompido” tem a ver com o rompimento ético. Afinal de contas, quem seria a favor de ser corrompido (num aspecto moral) para favorecer um certo indivíduo ou uma certa instituição?
Indo nessa linha do raciocínio, a corrupção rompe com a moral vigente e com a ética – enfraquecida, muitas vezes – de um indivíduo. Afinal, todo mundo tem entre os valores aprendidos, o ato de honestidade e verdade. Somos herdeiros de uma educação greco-romana onde se defendia mostrar a verdade acima de tudo.
Além disso, os gregos presavam a verdade e tanto é, Platão dizia que a filosofia iria livrar o ser humano das ilusões e encontrar essa verdade maior. Essa ética da verdade – como o ser humano bom e ético – podemos ver dentro das filosofias orientais (que muitos acusam de serem religiosas demais).
No Novo Testamento – em João 8:32 – Jesus Cristo disse: “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.”. A verdade, para a moral humana, tem a ver com o achado de uma vida feliz e harmoniosa com tudo, porque somos iludidos por verdades falsas e ilusões de uma realidade projetada.
2 – laicidade e ética
Segundo nossa Constituição – de 1988 – somos um país laico. Mas, muitas pessoas confundem laicidade com ateísmo e isso é muito perigoso. Pois, ser laico é abranger todas as religiões e não favorecer uma só diante de todas, assim, todas seriam tratadas como iguais. A equidade (senso de igualdade) faz parte – ou deveria fazer – da democracia. Cristãos mais fanáticos não devem saber – principalmente os protestantes – que os governos laicos surgem, exatamente, depois da reforma de Martinho Lutero (1483 - 1546).
Segundo a Wikipédia: “Um Estado secular ou laico é um conceito do secularismo onde o poder do Estado é oficialmente imparcial em relação às questões religiosas, não apoiando nem se opondo a nenhuma religião.”. Ou seja, o Estado não pode se envolver em questões religiosas dos cidadãos dando liberdade para qualquer religião se manifestar e ser manifestada.
Em um Estado laico como o nosso, se pode colocar ministros pastores ou ministros ideológicos? A meu ver, quando isso não interfere com a equidade da questão religiosa e as decisões não são tomadas a partir das suas crenças – que muitas vezes, são por causa dos valores que se acredita – não teria problema nenhum.
O cargo dentro do governo tem outros atrativos para o indivíduo tenha competência para tal cargo – além do voto direto – sendo pastor ou sacerdote qualquer. O problema é quando isso interfere e num modo mais profundo, nada impede de ser corrompidos.
Aí entra a questão da ética. Ética na sua origem, veio do grego ETHOS que quer dizer “caráter” ou “modo de ser”, mas, em sua origem, poderíamos encontrar ETHOS como um termo para moradia, ou lugar de costume. Ou seja, a morfologia da palavra remete o corpo e o caráter como uma moradia daquilo que somos.
Ora, podemos dizer que a construção de uma ética é uma construção de caráter dentro dos valões construídos a partir de valores aprendidos dentro de certos ambientes. Portanto, não tem muito a ver só com a educação, mas, tem a ver com o juízo da intenção e da disposição daquilo ou não. Como dizia um velho ditado: “A oportunidade faz o ladrão”.
3 – Teremos um Brasil ético?
A meu ver – concordando com um artigo sobre filosofia do direito do site Conteúdo Jurídico – o porquê da corrupção e a sua explicação são problemas dentro da ética. E por essa razão se deve ter uma mudança social grande em vista de um melhoramento cada vez mais eficaz dos costumes e dentro das instituições. Mesmo o porquê, não se pode criar fórmulas de leis comportamentais sem esclarecer sobre a natureza humana que a ética pode proporcionar.
Ora, a construção espiritual tem a ver com a construção de consciência dentro da natureza humana. Um dos sensos éticos é fazer um exercício empático em se colocar no lugar do outro, se colocar no lugar daquela família, se colocar no lugar daquele prejudicado. Mas, essas leis éticas são tão numerosas, porque se consagrou o ser humano como um simples animal, sem nenhuma alma espiritual. Será que isso aumenta a questão da corrupção como uma não punição espiritual?
Talvez, nem mesmo aqueles que deveriam zelar pela vida espiritual, afinal, nem acredite naquilo que pregam.
Este artigo foi escrito por Amauri Nolasco Sanches Junior e publicado originalmente em Prensa.li.