Elon Musk anuncia X.Com para concorrer com Twitter
Nenhuma outra letra do alfabeto latino apresenta tantas possibilidades de uso como o “x”. Na matemática, é uma variável ou operação de multiplicação. Na medicina, indica radiações de alta frequência. Entre os algarismos romanos, simboliza o 10. No cinema, é sempre uma referência ao suspense ou ao terror. Em uma conhecida expressão linguística, enfatiza uma opção entre outras.
No setor privado, está ligada a empresas de ponta. O Grupo X de um famoso empresário brasileiro, antes de sua derrocada, simbolizava prosperidade e investimentos em áreas de tecnologia, automobilística e energia.
A adoção da letra é popular também no exterior. Elon Musk batizou uma empresa com o “x”, a SpaceX, e até um filho. E na esteira do impasse da compra do microblog Twitter, apareceu X.com. Especula-se de que se trata da denominação de uma rede para rivalizar com o Twitter.
Se a intenção é séria ou não é cedo para dizer. Entretanto, não é cedo para discorrer sobre a incrível capacidade do multimilionário em esquentar um assunto esquecido pelos noticiários, embora na agenda da Justiça americana.
Nada parece fora do alcance de Elon. Criar uma rede social necessita de recursos financeiros e tecnologia e ele tem ambos de sobra. O domínio existe e já é dele. Digita lá. Aparece uma página em branco, com um x solitário no alto à esquerda.
O X da questão
X.com está na gaveta de Musk desde 1999. Era marca de um banco on-line fundado por ele e mais quatro parceiros: Harris Ficker, Christophe Payne and Ed Ho. A fusão do X.com e a Confinity Inc. trouxe junto a Pay Pal, um serviço de pagamentos da própria companhia. Bastaram quatro anos para a eBay adquirir o serviço e a marca Pay Pal por US$ 1,5 bi.
Ocorre que a próxima audiência do caso Elon x Twitter está marcada para outubro. Foi uma vitória parcial para a big tech que teme definhar em valor de mercado numa disputa prolongada. É uma possibilidade real depois de perder 11,3% no valor de suas ações na data do anúncio da desistência de compra. Já Elon gostaria exatamente disso e quer a conclusão do julgamento em fevereiro, quando provavelmente a rede social valerá menos.
No tipo de contrato assinado pelas partes, o Merger Agreement, há o Break up Fee (multa por quebra de contrato). Estipulada em US$ 1 bi, poderia facilmente ser paga por Elon que, aparentemente, tem boas razões para arrastar a disputa:
Enquanto Parag Agrawal, ceo do Twitter, luta para manter o valor de mercado, Elon comemora a valorização das ações da Tesla em quase 10%.
Caso vença a ação, poderá rescindir o contrato sem pagamento da multa e
Em caso derrota, pode ainda tentar pagar um valor menos que o originalmente acordado
Na verdade, Elon já vem alegando que a companhia vale menos pela quantidade de contas falsas e bots. Não seria surpreendente que a declaração de lançar uma plataforma rival siga o mesmo raciocínio para desvalorizar o microblog. Ainda que seja um blefe, a volatilidade das ações do Twitter sob ataque por falta de transparência pode atingir o efeito desejado pelo milionário.
X-Shot
Não se pode descartar que Musk esteja sendo apenas provocativo. Obviamente, ele não tem a tendência de rasgar dinheiro, mas por suas manifestações anteriores, que incluem o envio de um emoji de cocô a Agrawal, podem indicar que o jogo tem aparência de uma brincadeira.
É difícil saber até que ponto a disputa é levada a sério por Musk. Mais previsível, o Twitter considera qualquer movimento dele como uma tentativa de depreciar o valor da aquisição. Tanto que o print do emoji está na mesa da juíza do caso. O anúncio da X.com deve seguir o mesmo caminho.
Talvez apontar a possibilidade de uma concorrência direta seja uma forma de pressionar o Twitter a apresentar alternativas para o fechamento do acordo na segunda audiência. Elon passa a impressão, ainda que a decisão sobre o acordo não esteja na sua mesa, de dar as cartas do jogo ou estipular as regras da brincadeira.
Ele tem razão quando dá de ombros para a multa do contrato. Só a Tesla lucrou mais que o dobro de acordo com o relatório encerrado no primeiro semestre. No mesmo período, o Twitter teve um prejuízo de US$ 270 milhões.
A letra X também serve para marcar alvos a distância e tem um desenhado sobre a logo do Twitter.
Este artigo foi escrito por Renato Assef e publicado originalmente em Prensa.li.