Enchantment. Ou como a Disney pagou por tentar contar uma história
Depois de 50 anos, o Magic Kingdom no Walt Disney World Resort ganha um novo show de encerramento. Depois de Fantasy in the Sky, de 1971 a 2003, o amado-por-todos Wishes: A Magical Gathering of Disney Dreams (2003 a 2017) e Happily Ever After (2017 a 2021), o novo show Disney Enchantment fechará as noites no "Lugar Mais Mágico da Terra".
O show teve início dia 1 de Outubro de 2021 como parte das comemorações de 50 anos do parque e logo de cara já recebeu muitas críticas negativas. Muitas mesmo!
E não estamos falando de uma empresa que não sabe o que está fazendo. Estamos falando da Disney. Talvez por isso mesmo, a responsabilidade seja tão grande. Mas e aí? O show é ruim mesmo?
Eu não vi o primeiro show (Fantasy in the Sky), mas lembro dos 2 subsequentes. E o nível é alto, amigo. Muito alto. Luz e som sincronizados, fogos de artifício, praticamente todos os personagens mais icônicos do mundo do entretenimento à disposição. E soma-se isso à carga emocional de milhares de fãs enlouquecidos. Você tem um espetáculo!
As novas tecnologias de projeção de imagem são fantásticas, o Castelo da Cinderela torna-se uma tela enorme, com pirotecnia rolando atrás e som de alta qualidade bombando por todos os lados. É algo para colocar em qualquer "bucket list".
Mas o tempo passa, o Magic Kingdom faz 50 anos e algo novo tem que surgir. E é aí que nasce Disney Enchantment, o novo show de encerramento.
O show começa com o Castelo iluminado e pixie dust por toda parte, abusando da nova decoração com fitas ao redor das torres. Uma voz nos diz palavras de esperança, sonhos e magia. Nada de novo por aqui, é o DNA da Disney. Não vou narrar todo o show, não é a ideia aqui, mas eu entendo o motivo das reclamações, e é isso que me interessa. Ouvindo o que o povo fala, você achará: "pouco fogos de artifício", "a música não empolga", "os anterior era melhor", etc. Mas os que me chamaram mais a atenção foram os que reclamaram da narrativa. Por que NESSE PONTO, eu discordo.
O show conta uma história, com começo, meio e fim. Coisa que eu sinceramente não via em Wishes ou Happly Ever After. Existe uma sequência contada verbalmente (é óbvio assim) e através dos personagens. Sem exagerar, você identifica a Jornada do Herói no show. E isso fica totalmente fantástico quando o castelo desaparece e "morre", como todo herói deve fazer em sua jornada.
O tema musical reforça a esperança e diversidade com o refrão "You are the Magic", que gruda na sua cabeça e reverbera durante sua volta pra casa. Os personagens principais são justamente os que sofreram grandes transformações em seus filmes, como Aladdin, Miguel (Viva - A Vida é uma Festa) , Alice (Alice no País das Maravilhas) Hércules, Tiana (A Pricesa e o Sapo) e Moana. Obviamente aparecem outros pra agradar geral, como Elsa de Frozen, a galera toda de Toy Story etc.
E por isso mesmo, os fogos de artifício são uma ferramenta narrativa, e não o show principal. Você não presta atenção neles, a não ser que eles façam parte do que está sendo contado na "tela". E eles fazem seu trabalho muito bem. Em várias ocasiões, o efeito pirotécnico extrapola a tela, como se o personagem realmente lançasse os efeitos no céu. Os lasers que são projetados do Castelo reforçam o imaginário, e são mais usados do que em Happily Ever After (que também os usa muito bem, simulando estarmos em baixo d'água).
A Disney é uma storyteller por excelência, e não posso realmente criticá-la por fazer isso: contar uma história. Se isso (comparativamente) reduz a carga da fogos de artifício ou não cria uma música chiclete somente pra vender MP3 ou CDs, não pode ser o fato mais importante.
O show é apoteótico no sentido de narrativa, e não de espetáculo visual como os anteriores, acredito que isso seja a maior causa das reclamações. Mas passa uma mensagem de inclusão, esperança e, obviamente, magia. Isso deveria ser o mais importante.
E finaliza com o já clássico voo de Tinker Bell, nossa querida Sininho, por sobre o parque. O que pode ser melhor que isso?
Imagem - WDW/Divulgação
Este artigo foi escrito por Ettore Semeghini e publicado originalmente em Prensa.li.