Energia renovável: o sol é para todos
Energia elétrica é algo que usamos cada vez mais, e o que pagamos não costuma ser barato. Para piorar, tem gente demais querendo usar a energia ao mesmo tempo, sendo que as estações de geração de energia têm crescido numa velocidade bem abaixo da demanda.
Resumindo, além de pagar caro, ainda temos a chance de em breve não ter energia para todo mundo, ao mesmo tempo.
Seria um sonho se alguém batesse à sua porta oferecendo a instalação de um sistema de energia alternativa, sem custo nenhum para você, e prometendo que sua conta vai ficar de 30% a 35% mais barata, não é?
Infelizmente continua sendo um sonho, a não ser que você more em Portugal. Por lá, uma empresa tem batido à porta das pessoas, oferecendo a criação das Comunidades de Energia. A Cleanwatts, com sede em Coimbra, instala painéis fotovoltaicos sobre os telhados, sem cobrar nada e passando a suprir a região com energia solar.
Uma ideia portuguesa com certeza
Tudo o que a empresa precisa, em cada “comunidade”, é juntar aproximadamente 500 metros quadrados de telhado (que não precisam estar juntinhos) dentro de um raio de dois quilômetros. Já é o bastante para o sistema funcionar.
Juntando o número suficiente de telhados, basta procurar a empresa, que também arca com todo o licenciamento junto ao governo português para a instalação. Num país que, assim como o nosso, passa por uma crise bastante forte, é uma excelente alternativa.
O foco original da Cleanwatts, e eles não escondem isso, é fazer estes sistemas em indústrias e grandes consumidores de energia, porque é aí onde realmente ganham dinheiro. Porém, enxergaram um modo de “ajudar” o usuário comum, pois segundo declarações da empresa, Portugal vive um momento complicado chamado por eles de “pobreza energética”.
No momento, o sistema já funciona em cem localidades diferentes, dentro do projeto chamado 100 Aldeias (apesar da redundância da informação). Fora destas, a Cleanwatts já atende outras dez comunidades, com perfil industrial, gerando no momento algo em torno de cinco megawatts, o que não é nada desprezível.
Basílio Simões, presidente da empresa, ressalta que a princípio procurou fazer isso através das administrações municipais, mas esbarrou, como sempre, na burocracia. Resolveu então partir para a iniciativa própria.
O custo da energia em Portugal saltou algo em torno de quatro ou cinco vezes apenas no último ano (isso lembra um certo país da América do Sul, que inclusive fala um idioma bem parecido). Mas ao mesmo tempo em que se viu o problema, entendeu que era uma oportunidade.
E por aqui?
Sabemos que as legislações brasileira e portuguesa diferem em relação à administração energética. Porém, do mesmo jeito em que se viu a possibilidade por lá, e pensando que temos um território muito mais bem servido por sol (e por mais tempo durante o ano) do que eles, seria uma ideia e tanto implantar algo parecido por aqui.
Sim, por nosso tamanho territorial, cerca de 92 vezes maior que Portugal, os custos seriam maiores. Mas o ganho em escala também poderia ser muito maior. O Brasil tem a possibilidade de se tornar uma potência em energia solar.
O problema é se esperar apenas pela iniciativa governamental. Como disse o presidente da Cleanwatts na implantação do plano, “o que é público anda muito devagar”. Somos países irmãos até nesse ponto.
Eu volto.
Este artigo foi escrito por Clarissa Blümen Dias e publicado originalmente em Prensa.li.