O Google surgiu em meados da década de 1990 sob a premissa básica de ser um buscador modesto que despertava o interesse de investidores pela maneira disruptiva de se ranquear um site, ou seja, como calcular sua relevância. Quase na virada da década, o Google deixou a versão beta e tornou-se um buscador funcional.
Dez anos depois, a empresa processava em média três bilhões de pesquisas diárias. Essa expansão resultou na criação de tecnologias que estão presentes no cotidiano de todas as pessoas: o sistema Android, o navegador Chrome, a nuvem Drive, o Google Maps, Gmail, YouTube e todo um ecossistema de tecnologia baseado em dados, interação, buscas e comandos.
Com o surgimento das Inteligências Artificiais Generativas, um novo termo controverso ganhou destaque no ranqueamento das rodas de conversa sobre o futuro da tecnologia: a Engenharia de Prompt. Mas, afinal, o que é Prompt? O que faz um Engenheiro de Prompt? Essa é mesmo a profissão do futuro ou essa ideia é só uma nova estratégia para gurus presentes nas redes sociais alavancarem as vendas de seus cursos rápidos com soluções milagrosas?
O que é prompt?
Uma Inteligência Artificial Generativa é uma tecnologia que aprende a padrões complexos de comportamento a partir de uma base de dados. Com a técnica de aprendizagem de máquina, IAs generativas conseguem reproduzir conteúdos após receber treinamento.
Um prompt é, essencialmente, um comando capaz de instruir, podendo ser realizado de modo automático e otimizado. Ele orienta a geração de um texto ou a execução de uma tarefa específica.
No contexto das IAs, o prompt é uma diretriz dada ao modelo de linguagem para que ele produza algo com base nas informações fornecidas. Um prompt pode ser uma pergunta ou uma frase imperativa. Por exemplo, para a criação da imagem que você viu no topo deste artigo, o comando usado no Dall-E foi “Crie a foto de uma mulher negra executiva em frente ao computador com detalhes em amarelo”, seguido de “Crie uma foto de um coworking com plantas pequenas e pessoas em frente a computadores”.
Qual é o perfil da pessoa Engenheira de Prompt?
Engana-se quem pensa que a pessoa Engenheira de Prompt é necessariamente ligada ao universo da tecnologia. O perfil deste profissional é ligado aos estudos das Humanidades, como todo o ecossistema de Comunicadores Sociais, Antropólogos, Historiadores e Sociólogos.
São profissionais que buscam compreender como é o pensamento humano e de que maneira ele pode ser modulado, assimilado e imitado pelas Inteligências Artificiais. Com um detalhe: eles são remunerados na mesma proporção daqueles com formação tecnológica porque estão contribuindo de modo ativo para a criação, o desenvolvimento e a escalabilidade do produto.
Segundo dados coletados no LinkedIn e compartilhados com a revista TIME, as postagens relacionadas à “IA generativa” aumentaram 35 vezes em comparação com o ano passado, e o número de vagas de emprego contendo “GPT” aumentou 51% entre 2021 e 2022. São dados que refletem o aumento expansivo na demanda por profissionais que possam obter o máximo proveito das ferramentas de IA.
Para além da tecnologia, o mercado do entretenimento também tem buscado por profissionais com experiência em implementação de modelos de aprendizado de máquina, como é o caso do ator Donald Glover, realizador e protagonista da série Atlanta, que procurou por um Engenheiro de Prompt para seu estúdio criativo.
Por onde começamos?
Como todo hype tecnológico gera uma alta especulação, há quem busca surfar nesta onda com intenções de lucrar a base de informações falaciosas ou materiais básicos que podem ser encontrados de modo gratuito por aqueles que têm interesse.
“É razoável pensar que com o tempo boas práticas sejam lapidadas, mas a oferta de cursos de prompt é hype. São os espertalhões tentando surfar uma nova onda.” comenta Júlio César Fernandes Neto, estudante de Tecnologia da Informação, em entrevista à Prensa.
“As ferramentas de IA são muitas e estão em constante mudança. ChatGPT e DALL-E são apenas dois exemplos. Nas comunidades open source vários modelos estão sendo treinados, alguns com base no LLaMA, liberado pela Meta há algum tempo. Dá até para instalar no computador e usar como solução offline. Alguns exigem máquinas muito fortes, outros modelos são reduzidos e rodam até em celular” complementa Júlio.
A dica do Ethan Mollick - professor do departamento de Gestão e Empreendedorismo da Wharton School da Universidade da Pensilvânia - os interessados em explorar esse campo profissional, devem experimentar com modelos de linguagens avançadas, como o GPT, para aprender sua própria abordagem no desenvolvimento de comandos. É uma alternativa viável e acessível para não cair no conto do guru que promete uma formação completa sobre um fenômeno que está mudando rapidamente, visto que, as instruções que funcionam hoje, podem não funcionar no futuro
O uso pessoal das IAs é totalmente diferente do uso corporativo. Os processos de auditoria, as regras de compliance, as normas constantes em função da manutenção da imagem e as altas regulamentações de privacidade e segurança, tornam o assunto ainda mais sério.
É o que Cezar Taurion, Chief Strategy Officer da Redcore comenta: “Estamos ainda na fase das experimentações e temos muito que aprender. Embora todos estejam empolgados com o chatGPT no uso individual, mas ao sair desse contexto e pensarmos em seu uso corporativo, as tarefas não serão apenas fazer mais prompts. Questões como inserir e tokenizar os dados corporativos? Onde eles estão? Como serão curados? Como validar a saída do modelo? As regras de compliance, privacidade e segurança estão sendo seguidas? O mundo corporativo é bem mais complexo do que fazer uma poesia ou escrever um TCC falso. E mais importante: qual será o ROI desse investimento? Do hype para o ROI tem um longo caminho. E hype sem ROI não evolui.”.
Onde vamos parar?
No início do século XXI, quando precisávamos descobrir novas referências, sanar dúvidas e adquirir informações valiosas para o dia a dia, o Google surgiu como uma ferramenta mágica. Em poucos minutos, por meio de palavras-chave inseridas no buscador, uma vasta gama de informações estavam dispostas em nossas telas.
Com isso, passamos a fazer buscas para solucionar obstáculos, encontrar soluções e saciar a curiosidade natural do ser humano por informação. Isso não acabou com as bibliotecas e os serviços dos bibliotecários, tampouco com o papel do pesquisador científico e sua relevância para a sociedade, muito menos com os veículos de comunicação tradicionais, pelo contrário, todas as áreas foram impactadas de modo a otimizarem seus objetivos, automatizando condições repetitivas e expandindo seus negócios com transformação digital.
No entanto, para que a interação com as Inteligências Artificiais Generativas seja eficiente e satisfatória, precisamos compreender as limitações inerentes a esses modelos probabilísticos. Não apenas fornecendo comandos aprimorados, mas também cientes das limitações das IAGs, como a falta de compreensão do mundo real e a tendência a gerar respostas baseadas em probabilidades.
Além disso, é necessário manter e treinar constantemente as IAGs por meio de ajustes, atualizações e feedback contínuo. O hype em torno das IAG existe, no entanto, é inegável a posição de destaque que os futuros Engenheiros de Prompts ou Instrutores de Comandos terão diante dos riscos e benefícios que elas trarão para a sociedade, e principalmente, para o mundo corporativo quando o assunto é produtividade.
Assim como os profissionais das Humanidades, os Engenheiros de Prompts podem também atuar como tradutores, compreendendo o contexto humano e transformando-o em instruções compreensíveis para as IAGs, facilitando então a interação entre humanos e sistemas inteligentes, redesenhando os limites e responsabilidades éticas que a transformação digital predispõe.