Entenda o fenômeno das demissões voluntárias
Por que ocorrem as demissões em massa?
Após o registro desses dados, começaram a surgir especulações do porquê as pessoas estão se demitindo voluntariamente. Para alguns especialistas, o fenômeno está ligado a modelos desgastados de gestão nas grandes corporações e mudanças de comportamento nas novas gerações, já que a maioria das pessoas que se demitem são jovens.
Também podem ser considerados dois outros fatores: os profissionais mais qualificados deixam os empregos em prol de recolocações que oferecem melhores condições e outros trabalhadores abandonam as suas ocupações em decorrência das péssimas condições do emprego.
Vamos analisar primeiro o caso dos trabalhadores com educação superior e melhores oportunidades. Esse fato pode estar ligado à severa “fuga de cérebros”, ou seja, milhares de jovens com alta qualificação profissional e acadêmica abandonam o Brasil atualmente em busca de melhores empregos, remunerações e perspectivas de vida no exterior, especialmente em países como Estados Unidos, Canadá, Portugal e Inglaterra.
Muitos migram em busca de melhores salários e para fugir de condições que não estão diretamente ligadas ao universo do trabalho, como a violência das grandes metrópoles brasileiras. Outro problema que assombra os brasileiros e faz com que muitos partam para outras nações é a inflação, que reduziu o poder de compra das pessoas e faz com que as condições de vida no Brasil se tornem mais difíceis e caras.
Por outro lado, muitas pessoas se demitem em decorrência das más condições de trabalho, por causa de baixos salários, da grande distância da sua residência ao local de trabalho ou de chefias que não valorizam o comprometimento do trabalhador.
Muitas dessas pessoas acabam por aderir à ideia de empreender e montar o seu próprio negócio. Não à toa os números dos CNPJs de empresas individuais abertos no país têm aumentado durante a pandemia, segundo pesquisa da Lagom Data.
Empregos com mais demissões voluntárias no Brasil
No Brasil, profissionais de algumas áreas se demitiram mais do que em outras. São elas: telemarketing, logísticas, atendimento em lanchonete, análise de desenvolvimento de sistemas, atendentes de lojas e mercados e embaladores.
Proporcionalmente, a atividade com maior volume de saídas voluntárias foi o telemarketing, em que o número de pedidos de demissão representou 18,7% do total de vagas formais ao final de 2020. Os dados são da Caged e foram consideradas apenas as ocupações que tinham mais de 30 mil trabalhadores com carteira assinada no Brasil inteiro na pesquisa.
Ao observar esses dados, dá para notar que empregos ligados à área de serviços foram os mais afetados pela onda de demissões voluntárias.
Em um cenário em que cresceu o home office em todo o país, fiquei aqui me perguntando se os analistas de desenvolvimento de sistemas não abandonaram os seus empregos presenciais por vagas na modalidade home office ou para trabalhar para empresas estrangeiras ganhando em dólar.
Dúvidas à parte, destacamos que, em termos de divisão regional, o centro-oeste e sul do Brasil são áreas nas quais os pedidos de demissão são maiores do que em outras localidades e que a maioria dos que pedem desligamento são jovens, abaixo de 30 anos, e ocupam funções mais baixas na hierarquia das organizações.
Conclusão
Em um cenário marcado por uma pandemia, milhões de pessoas no mundo escolheram deixar seus empregos em prol de sua saúde e de suas famílias, sem contar nas mães que deixaram os seus empregos para cuidar dos filhos já que eles ficaram sem aulas presenciais.
Por essa razão, o equilíbrio entre vida pessoal e profissional e a priorização da saúde se tornaram aspectos-chave na permanência no emprego e isso demanda que muitas empresas repensem o ambiente de trabalho que oferecem aos trabalhadores.
Este artigo foi escrito por Caroline Brito e publicado originalmente em Prensa.li.