Eu preciso falar com você
Palavras são mágicas. Transcendem o tempo, o espaço, o físico e o imaterial. Um inédito "eu te amo" tem poder para emudecer o mundo por alguns instantes. Já ser surpreendido pela declaração inversa "eu não te amo mais" conseguiu vergar até os joelhos de Zeus, o exterminador de Titãs, deus dos deuses e senhor do Olimpo.
Ainda assim, poucas expressões são tão sísmicas para a saúde mental quanto "eu, preciso falar com você". Combinação de termos que faz qualquer namorado cerrar os olhos com pesar e funcionários levarem as mãos à cabeça. Gente que, se pudesse, sumiria do mapa na torcida de que o amanhã traga um bendito esquecimento.
No livro "Sobre a Morte e o Morrer", a psiquiatra suíça-americana, Elisabeth Kübler-Ross (1926 – 2004), formulou o que ficou conhecido como os cinco estágios do luto. Para a autora, negação, raiva, barganha, depressão e aceitação são as etapas normais para quem lida com a perda de um familiar. Para tanto e em paralelo, este autor propõe algo semelhante, mas diferente.
Estudande surpresa com a clareza e brilhantismo do Modelo Manzano - Photo by Ben White on Unsplash
Uma nova proposta
Se o paradigma Kübler-Ross aborda o que foi, o Modelo Manzano fala daquilo que será. Dos momentos, horas ou dias que antecedem a derradeira conversa anunciada. A propositura luso-brasileira com um toque boliviano, estabelece quatro estágios que envolvem o interior aflito daqueles que aguardam o apocalipse em forma de diálogo.
A esperança profética-advinha: o primeiro reflexo é procurar prever qual será o tema do colóquio e preparar respostas para cada situação imaginada. Cansaço mental e fadiga emocional tendem a se manifestar à medida que possibilidades vão sendo construídas. Ressalta-se que, mesmo que se consiga adivinhar, a desenvoltura e astúcia dos argumentos sumirão na hora H.
Autoavaliação contrita e consternada: nesse momento, o interlocutor mergulha em si mesmo em uma busca do que poderia ter sido o catalisador do aviso prévio. Traído pela memória e influenciado pela incerteza, cada palavra dita, bem como e eventos recentes são suspeitos primários e tendem a se confundir em uma sensação perene de culpa.
Falsa concentração: o indivíduo fingirá que não liga e que está seguro qualquer que seja o desenrolar da situação. Esse esforço funciona como espécie de Alt+Tab involuntário já que se lembrará e será lembrado que algo inesperado o aguarda.
Seja o que Deus quiser: cansado e atrasado com as demandas do dia, um espírito resignado surge e oferece constantes "tapinhas nas costas" que tiram a pessoa da letargia e permitem que ela seja minimamente funcional.
Para mais informações e um contato mais próximo com o inédito Modelo Manzano basta procurar este autor com as seguintes palavras: "eu preciso falar com você".
Imagem de capa: Photo by Hello I'm Nik on Unsplash
Este artigo foi escrito por Daniel Manzano e publicado originalmente em Prensa.li.