Existem mais “fadinhas” pelo nosso Brasil!
Natural de Imperatriz, do Maranhão, a jovem Rayssa Leal começou cedo no esporte. Com apenas 6 anos de idade, ganhou um skate de presente do pai e já começou a arriscar seus primeiros movimentos. A fama veio após um vídeo publicado por um dos skatistas mais famosos do mundo, Tony Hawk. Nessa gravação, Rayssa fez um heelflip (nome de uma manobra no skate). Como se não bastasse o fato de uma garota tão nova executando uma manobra de uma maneira tão bem feita, ela se destacou ainda mais por estar vestida de fadinha, o que lhe rendeu o apelido.
Entretanto, é possível (e lamentável) afirmar que o feito da garota é a exceção que confirma a regra. A falta de investimento em esporte escolar no Brasil perde milhares de novas potências em variadas modalidades, o que poderia, inclusive, aumentar o número no quadro de medalhas brasileiro. Além da formação de novos atletas olímpicos de maior potencial, um maior investimento nesse setor reflete também na sociedade como um todo, afinal esportes são capazes de transformar vidas. Como, por exemplo, ocorreu na Islândia, que há cerca de 20 anos ampliou o investimento e, consequentemente, os seus índices de criminalidade, álcool, drogas e violência na juventude diminuíram drasticamente.
É válido ressaltar que o nosso país investe alto em eventos esportivos e esportes de alto rendimento, uma vez que nos últimos 20 anos foram mais de 100 bilhões de reais aplicados nesse ramo. Todavia, é preciso entender que apesar do investimento na base escolar gerar frutos no alto rendimento, a aplicação só em alto rendimento dificilmente gera frutos na base. Além disso, o dinheiro é concentrado, em sua maioria, no futebol masculino. E, por incrível que pareça, o país do futebol só conseguiu conquistar uma medalha de ouro nas Olímpiadas em 2016, a única até então, enquanto modalidades como judô e vôlei já nos rendeu inúmeras medalhas ao longo dos anos. O que poderia ser alcançado, então, se houvesse menos disparidade nas aplicações dessas riquezas pelas mais diversas modalidades esportivas?
E, talvez, a dúvida que resta é: vale a pena gastar mais dinheiro público com desportos do que continuar construindo mais hospitais? Ainda que o momento de pandemia nos mostre que o número de alas hospitalares é pequeno, isso não deve ser considerado numa comparação normal. A pandemia afetou a todos os países, inclusive aqueles com altos índices no setor de saúde. Contudo, o incentivo ao desporto escolar cria cidadãos mais conscientes e menos sedentários, o que aumenta a imunidade e diminui o risco de contração de doenças coronarianas, obesidade, diabetes, entre outras. Dessa forma, fica a constatação que essa prática também é uma forma de investir em saúde, educação e segurança.
Portanto, é preciso ampliar a verba disponível para o setor de esporte escolar, a fim de melhorar diversas áreas da vida do cidadão brasileiro. E essa conscientização da sociedade acerca do tema abordado deve ser feita agora, quando estamos vivendo a motivação das Olímpiadas e o orgulho de nossas conquistas em Tóquio, ainda que pequenas quando comparadas a países como EUA e Japão. Cabe a mídia, divulgar a história dos nossos atletas vencedores como forma de sensibilizar a população acerca da carência brasileira em desportos e promover ações que incentivem a captação de novos talentos. E quanto ao setor público, a responsabilidade é de direcionar mais verba ao esporte de base, nas escolas, e apoiar ONG’s que captam jovens de periferia e os treinam em diversas modalidades.
Imagem de capa - Zachary Debottis - via Pexels
Este artigo foi escrito por Ícaro Teles e publicado originalmente em Prensa.li.