Fake news e eleições: nenhuma novidade
Imagem: A verdade saindo do poço. Jean-Léon Gérôme - 1896.
A internet criou um monstro: as fake news. O conceito divulgado nos últimos anos é muito atrelado a questões políticas, mas já existe há um tempo e foi utilizado ao longo da história para difamar opositores.
O termo começou a ser usado no século XIX para se referir a notícias falsas de grande circulação divulgadas com o intuito de mudar a opinião pública sobre um determinado fato ou pessoa.
Um exemplo mais distante
No Brasil, não faltam histórias que comprovam que as notícias falsas são algo atemporal. Se você não faltou às aulas de História na escola, deve se lembrar da Revolta da Vacina. Se não lembrar, eu posso recapitular: a revolta da vacina foi uma série de manifestações ocorridas na década de 1904 - mais precisamente durante 6 dias do mês de novembro - contra medidas sanitárias adotadas pelo governo Rio de Janeiro, então capital do Brasil naquela época.
O que isso tem a ver com fake news? Os antigos monarquistas do Brasil eram contrários à política feita pelo prefeito carioca, Pereira Passos, e o presidente Rodrigues Alves. Além do impacto social das mudanças urbanas, novidades contra a campanha de vacinação de Oswaldo Cruz contra diversas doenças foram alvo de polêmicas. Nos jornais circulavam fotos de pessoas mortas com legendas dizendo que foi consequência da vacina.
Depois que a revolta tomou as ruas e foi contida pelo governo do Rio, os principais presos foram pessoas moradoras de favelas daquela época. Não os monarquistas. Toda confusão armada foi incentivada por notícias falsas e a imprensa foi o principal meio de circulação para ver o circo pegar fogo.
Mudou alguma coisa com a internet?
Obviamente com as redes sociais espalhar uma notícia de veracidade e fonte duvidosa é muito mais fácil. Não precisa de pseudônimo nem conhecimento em algum jornal, você só precisa criar uma conta fake. Nem precisa saber muito de edição de imagem, vídeo ou áudio. Quantas notícias falsas partiram de notícias verdadeiras mas fora de contexto?
Em 2014, aconteceu algo semelhante no estado de São Paulo. Nas redes sociais começaram a rolar boatos de uma mulher que sequestrava crianças para um ritual macabro. Imagina que a população ficou em choque com tudo isso, ainda mais os pais de crianças pequenas. Assim começou a circular junto com a mensagem de alerta, a foto de uma mulher, mãe de dois filhos e religiosa. Ela foi espancada até a morte pelos próprios vizinhos que acreditaram ser ela a suposta sequestradora, está aí o poder das fake news.
Se antes a notícia demorava uma semana para atingir um bairro todo, agora ela demora segundos para atingir vários países simultaneamente. A melhor forma de combater as fake news é confrontando fontes e através da pesquisa em jornais confiáveis. Isso é mais fácil do que parece e evita que a mentira circule por aí.
Este artigo foi escrito por Amanda Casado e publicado originalmente em Prensa.li.