Falar que odeia política não tira sua responsabilidade
É muito comum, ao surgir a política como assunto em alguma conversa, alguém se esquivar com um breve "Odeio política", encerrando a possibilidade de levar o tema adiante e se colocando em uma posição de isenção.
É uma resposta fácil, uma saída para um assunto que pode ser espinhoso e levar a discussões mais complexas ou até mesmo uma forma de fugir de conflitos. Ao usar a carta do "odeio política", a responsabilidade pela sua posição é transferida para o sistema e dá ao interlocutor a possibilidade de não expor suas próprias posições.
Uma resposta rápida, fácil, indolor e COVARDE. Sim! Covarde porque simplesmente transfere sua responsabilidade. Você não é obrigado a aceitar todas as discussões propostas, não é obrigado a aceitar o assunto em todos os lugares e muito menos a amar a política. O que você precisa entender é que esse posicionamento de negação também é um posicionamento político e muitas vezes fruto de uma construção de pensamento forjada justamente para te fazer negar a importância da política na sua vida e transferir essa responsabilidade para outras pessoas.
"Como assim?", você deve estar se perguntando.
Grande parte de nós foi criada com a percepção de que a política é um ambiente tóxico, malvado e composto exclusivamente por vilões corruptos e mal intencionados. Crescemos vendo muito mais ênfase nos mal feitos do que nas benfeitorias. Fomos condicionados a enxergar a política somente como um ambiente de disputa pelo poder, uma verdadeira arena onde, teoricamente, vale tudo em benefício próprio. E, até certo ponto, temos razão em pensar assim.
E se você tivesse nas mãos a possibilidade de mudar isso? Faria melhor ou seria corrompido? Ou se ao menos tivesse a oportunidade de escolher pessoas mais preparadas para os cargos públicos. Seria melhor?
Então! Você tem!
Essa percepção de que a política é suja só beneficia quem já está lá e impede que novas lideranças surjam. A violência dos discursos e ações serve para impor uma distância maior entre você e a possibilidade de mudar. Portanto, cabe a você buscar mais informação e se interessar mais pelo que acontece no mundo real da política. Cabe a você romper esse preconceito e enxergar sua relação com seu vizinho, o que acontece na sua rua e os serviços disponíveis no seu bairro como parte do todo. Nem 1% do que acontece está nos noticiário, a vida real está no cotidiano e a política real também.
Entendendo isso, você verá que sozinho é muito difícil fazer qualquer coisa e a mudança vem da mobilização e organização. Assim você verá que é possível escalar seu ponto de vista até o âmbito global e que o universo político, apesar de complexo, pode ser compreendido e deve ser acessível a todos. Conceitos como oposição, representatividade e democracia devem fazer parte do nosso dia a dia e, aliados ao respeito e a uma noção de que nem sempre teremos a razão, nos tornarão cidadão melhores, mais conscientes e capazes de viver em sociedade.
Você pode até achar que odeia a política mas ela é parte de você. O fato de viver em sociedade te torna automaticamente um ser político importante.
Este artigo foi escrito por Carlos Gonçalves e publicado originalmente em Prensa.li.