Falo de desgraça
Falo de desgraça
De graça.
Cêis aí achando que eu tô de graça
Só porque não tô me vendendo
E continuo escrevendo
Como válvula de escape
Pras neurose que bate
Quando lembro dos que se foram,
Quantos conhecidos "mortos em combate"?
Quantas balas perdidas em corpos que ainda não foram achados?
Seus valores são comidos por traças.
Na noite carioca é bala que traça
E abate corpo.
Destrói sonhos.
É pedreiro, o catador, o aluno com uniforme...
Pensa.
O mano foi arrumar o telhado.
Desceu de lá pro necrotério.
Calma que o País Túmulo ainda espaço pra cemitério.
Não é sensacionalismo, é estatística.
Eu podia usar licença poética
Mas nem precisa.
Uma vez me disseram que eu escrevo "versos quebrados"
"poesia sem métrica"
Como seriam inteiros os versos
Se vejo o mundo virado do avesso?
Na era capitalista
Meus valores não tem preço.
Mas eu tenho apreço
Talvez por isso eu pareço
De outro tempo.
Diferente de vários
Não me contento
Com as migalhas que nos ofereceram.
São os meu que tão sofrendo.
São os meus que estão morrendo.
Somos nós que estamos crescendo
Sem Paz, sem pais.
Com pás
Colecionamos "aquí jaz"
Embora quiséssemos jazz.
Tô ciente que cêis nunca entenderam nada
E sempre temeram de tudo.
Mundo sujo
Por humanos injustos
Sem escrúpulos.
E o presidente assassino
Pouco se importa
Com quem tem o tom mais escuro.
JVS
Este artigo foi escrito por Jessé Vinicius e publicado originalmente em Prensa.li.