Família Dinossauros – Mais relevante que nunca
O Disney Plus costuma atrair seus assinantes com conteúdos da Marvel, Star Wars e Pixar, mas, se você é assinante do serviço de streaming, deveria usar sua assinatura para (re)ver Família Dinossauros.
Suspeito que a aprovação de 91% no Rotten Tomatoes se deve a leveza com que a série de aparência infantil aborda temas pesados. Onde mais você encontra “bonecos” debatendo sobre drogas, racismo, terraplanismo, grandes conglomerados exploradores, censura, sexualidade, assédio, consumismo e mudanças climáticas?
Família Dinossauros foi muito transmitida na TV aberta brasileira - e em todos os horários possíveis, passando pela grade de programação das emissoras Globo, SBT, Band e até mesmo no Canal Viva antes de chegar ao Disney Plus.
Para quem era muito novo para se lembrar, e para quem já se esqueceu, uma sinopse básica: Família Dinossauros conta a história de uma típica família de classe média-baixa norte-americana, com o diferencial que são dinossauros no supercontinente Pangea.
Inclusive aproveito para destacar o nome Dino da Silva Sauro, pois esse maravilhoso trocadilho só existe na versão brasileira. No original seu nome é Earl e seu sobrenome Sinclair é uma alusão a uma empresa do ramo petrolífero, dinossauros… petróleo… Pegou? Pois é, eu também acho Dino S. Sauro muito mais engraçado.
A história começa com esse pai de família que trabalha derrubando árvores, recebendo a notícia de que sua esposa Fran, uma dona de casa que sonha em fazer mais da vida, está grávida botou um ovo. Então um “Baby” está a caminho para ser o novo caçula e roubar a atenção dada aos filhos adolescentes Charlene e Bob.
As cenas onde Baby bate no pai com uma panela foram tão marcantes que lhe rendeu um Funko. (Imagem - Divulgação)
“Não é a mamãe!” - esse bordão costuma ser a primeira coisa que surge ao tentar puxar o programa da memória. Olhando de longe, parece um programa infantil como tantos outros da época ou mesmo de hoje, mas acredite, Família Dinossauros é um ponto muito fora da curva.
Todos os episódios podem ser assistidos por crianças, mas se você colocar um adulto ao lado, vai reparar em como o momento das risadas varia conforme a idade.
O bordão do Baby, as coisas que vivem na geladeira e o chefe tirano do Dino (que por acaso não é um tiranossauro) são ótimas para crianças.
Ao mesmo tempo em que cenas como “as noites de quinta são só para adultos” ou “—Quer que eu o destrua, senhor? —Não, é pra isso que temos advogados!” Faz o pessoal que já tem dentes sisos rir muito mais das situações expostas na tela.
“A terra é redonda” Silva Sauro, Charlene. 60,000,003 A.C.
Citando alguns plots para expor a grandiosidade da série, começo falando da Charlene desafiando toda a sociedade da época e sendo condenada à morte por dizer que a terra não é plana.
Em tempos onde a ignorância e a aversão à ciência se espalham, é importantíssimo o episódio onde ela prova, dando a volta ao mundo, que não existe isso de borda ou ponta do mundo. Nosso planeta é redondo como uma laranja.
Outro tema recorrente são as diversas analogias e metáforas para o preconceito na série, existe uma guerra totalmente sem sentido entre bípedes e quadrúpedes que alegam ter uma causa, mas é basicamente pelas diferenças fisiológicas.
Os mamíferos também são vistos como seres inferiores, que vivem em localidades ruins como os pântanos, onde cantam um blues que encanta Bob
A autêntica música do pântano. (Imagem - Divulgação)
Família Dinossauros também tem o tradicional episódio onde os seios crescem na puberdade e a personagem pede um sutiã pra mãe. Quando a cauda de Charlene cresce, ela busca conselhos com sua mãe. Andar ou não andar balançando a cauda por aí, eis a questão!?
Quer ajuda pra falar com seus filhos sobre temas delicados? Cada episódio de Família Dinossauros rende uma boa forma de falar sobre algo importante.
Quer se divertir às custas de um “poderoso megalossauro” que perde na argumentação pra todos na casa e rir de piadas de sogra ou de chefe abusivo? Família Dinossauros tá aí pras risadas bobas também.
Quer ver um programa feito há 30 anos com novos olhos e refletir sobre como nossos problemas enquanto sociedade permanecem basicamente os mesmos? Já sabe o que fazer, é só voltar pra me agradecer depois.
Não importa sua motivação, assistir Família Dinossauros será uma excelente experiência, fazendo você rir e refletir ao ponto de você tentar conseguir um daqueles bonecos do Baby que fala “Não é a mamãe! Não é a mamãe!”
Imagem de capa - Divulgação
Este artigo foi escrito por Gustavo Borges e publicado originalmente em Prensa.li.