Fatos e Narrativas X Liberdade de Opinião
Desde que o mundo é mundo, quando algum fato novo acontece, as notícias se espalham com rapidez. Neste processo, cada espectador interpreta e replica a notícia de acordo com suas crenças, tendências e preferências. É o antigo “telefone sem fio” que tinha o poder de transformar notícia em boato e boato em notícia. Atualmente, com o mundo conectado, pode-se dizer que as notícias se espalham quase “na velocidade da luz”, e o que antes seria apenas um “disse que disse”, agora ganha um novo nome e status: narrativa.
Sim, “narrativa” é a palavra do momento.
Ao saber de um novo fato, alguém o interpreta e julga de acordo com suas crenças, culturas, tendências e certezas particulares, e ao replicar em suas redes sociais, deixa sua opinião escancarada, doa a quem doer. Muitas vezes ao se deparar com fatos que não lhe agradam, as pessoas dão ênfases para pormenores e menosprezam partes importantes dos acontecimentos, para que a “notícia” se encaixe dentro daquilo que ela gostaria que fosse. Surgindo assim, uma narrativa. Uma versão particular de alguém sobre um fato verdadeiramente ocorrido.
Claro que todo mundo que publica alguma coisa, quer convencer, quer que as pessoas leiam e concordem com aquilo que escreveu, então surgem substantivos ou até mesmo adjetivos, acrescentados pelo autor da narrativa, para dar o viés daquilo que ele acredita. Às vezes são positivos, como diversidade, igualdade, empatia, herói, heroína, ícone, celebridade, etc. Mas na maioria dos casos de narrativas, os substantivos e adjetivos acrescentados são negativos, talvez porque o ser humano tem muita facilidade para julgar. Algumas palavras específicas acrescentadas às narrativas também estão na moda. São as críticas do momento. Palavras como, fascismo, discurso de ódio, crime, genocídio, misoginia, entre outros.
Mas, será que estas palavras estão sendo usadas de acordo com seu real significado? O fascismo, por exemplo, tem sido banalizado do seu verdadeiro significado e utilizado para denominar qualquer pessoa ou grupo de pessoas que discordam de algumas opiniões, que pensam diferente das tendências atuais, ou que tenham certa dificuldade em lidar com os pensamentos mais modernistas. Mas isso é mesmo fascismo?
De acordo com o dicionário www.dicio.com , “fascismo” é: Regime político e filosófico que, semelhante ao imposto por Benito Mussolini, na Itália em 1922, baseia-se no despotismo, na violência, na censura para suprimir a oposição, caracterizado por um governo antidemocrático e ditatorial.
Sendo assim, pelo que diz o dicionário, o simples fato de discordar não torna ninguém fascista. A não ser que a pessoa em questão aja com violência, censura, e queira eliminar os que pensam diferente, ela não é fascista. Mas e se, mesmo se depois de tantas explicações sobre as novas tendências, a pessoa optar em continuar com sua opinião anterior? ela é fascista? Não! Num mundo livre e democrático os seres humanos têm o direito de continuar com suas opiniões, mesmo que alguém tente convencer do contrário. Falar e pensar diferente não é crime, nem fascismo, é apenas liberdade de opinião. Desde que se tenha respeito pelas diferenças, ainda existe o direito de discordar. Talvez o fascismo esteja nos que acusam, pois querem subjugar e diminuir as opiniões alheias às suas, tornando-as crime, ou chamando os que pensam diferente de coisas que possam ofender ou envergonhar, ou até mesmo imputar crime.
Concluindo então que o fascismo vai muito além de divergência de opiniões, o que fica evidente é que a sociedade está doente. Está sofrendo da doença do ego, onde o indivíduo, ou grupo, se sente no direito de impor suas opiniões aos demais e se ofende caso não seja atendido. E, pior ainda, ofende a todos que não concordam com seu pensamento, podendo partir até para o extremo da violência, o que, segundo o dicionário, configuraria uma das características do fascismo.
Este artigo foi escrito por Cyntia Levi e publicado originalmente em Prensa.li.