“Felicidade Corporativa”: o que é isso agora?
Felicidade corporativa é conceito novo, mas não necessariamente inovador ( Imagem: nualaimages / Envato Elements)
A ideia de felicidade em si é controversa. Não o conceito exatamente, mas a aplicabilidade numa realidade tão adversa e díspar em relação às expectativas humanas. Nesse contexto, pensar em “Felicidade Corporativa” talvez não seja tarefa tão simples. Por isso, promover essa ideia seria muito mais.
Atualmente, as expectativas humanas estão em baixa, em especial em razão dos conflitos ao leste da Europa. As batalhas espalham efeitos por todo o planeta e em várias áreas de convivência.
Não é todo improvável que o novo mundo digital, o Metaverso, venha a se debruçar sobre a busca da felicidade corporativa. Provavelmente, não de imediato; contudo, a se observar a gama de bem-estar invocada pela publicidade referente, essa conceituação não escapará de seu oportunismo.
Felicidade Corporativa em seu universo
Possivelmente, o título deste artigo provoque alguma sensação de ironia ou crítica. Contudo, nenhum dos dois sentimentos está nas entrelinhas. Nelas, apenas a atividade de produção de conteúdo para que leitores construam suas próprias conclusões.
O universo das corporações é pleno de neologismos e conceitos ditos inovadores. Já houve espaço para jargões dos mais diversos interesses, como:
reengenharia organizacional
agregação de valor
proatividade inerente
alinhamento de expectativas
rompimento de paradigmas
sinergia funcional
Entre muitos outros. Via de regra, a “onda” dura não mais que um ou dois anos. Entretanto, serve para alimentar exatamente o dito acima: interesses. Normalmente, de palestrantes motivacionais, mas há outros mais envolvidos e muito menos… diga-se… honrável.
Felicidade em si
Não apenas a busca por felicidade, mas a compreensão do que seja este estado mental é antiga. Os filósofos clássicos já a debatiam e a estudavam. Por outro lado, convém ter em mente que certos conceitos eram percebidos de maneira diversa naquela época.
Felicidade corporativa depende uma série de fatores (Imagem: FabrikaPhoto / Envato Elements)
“Beleza”, por exemplo, era divulgada por Platão como manifestação moral. Ou seja, belo era alguém cuja moral estava atrelada ao bem e à verdade, conforme Helena Bagnoli, historiadora, jornalista e gestora de negócios.
Já Aristóteles notava honra como expressão de boa reputação por promover o Bem. E budistas veem felicidade no enfrentamento do sofrimento e suplantação de desejos com exercício mental.
A noção desse sentimento vai acompanhando o desenvolvimento na mente humana ao longo dos séculos. Filósofos e população em geral da Idade Média abandonaram esse conceito mantendo-a associada ao homem neste mundo. Lentamente, a vida religiosa foi deslocando essa percepção para situações mais voltadas ao futuro pós-morte.
Felicidade atual
Pensadores mais contemporâneos não têm consenso definido:
Márcia Tiburi: para a filósofa, felicidade não é mercadoria. Portanto, não é vendável, o que contraria a ideia do foco deste artigo que induz à felicidade corporativa. “Ela não cabe nas coisas, nem nas mais ricas, nem nas mais bonitas. Porque, quando a felicidade está, ela é como a morte, as coisas, assim como a vida, já não estão”., complica ela um pouco mais
Karnal: O pensador vê felicidade como um processo em construção histórica. Assim, é dependente de escolhas ocasionais e até diárias. Ele cita: “não acredito em destino, acredito em esforço, em construção"
Cortella: Mário S. Cortella parece concordar com Karnal: “Mas a felicidade é episódica, uma ocorrência eventual. A vida é carregada por momentos de turbulência”
Felicidade corporativa e outros jargões
Acima, você viu alguns jargões que ocasionalmente se agarram ao mundo corporativo; o do momento é Felicidade Corporativa. Especialistas em saúde mental que analisaram o termo não confirmam tratar-se de jargão no real sentido da palavra. Para eles, a ideia é mais abrangente, mais forte.
Jargões e seus efeitos estranhos - Crédito Imagem - rodapé
O entendimento é novo se mostrado de si por si mesmo; entretanto, para outros analistas de estratégias de comportamento, tudo é muito mais simples. Nada mais é que busca por conjunto de situações que resulte em bem-estar físico e emocional dos colaboradores de uma empresa.
De certa maneira, é o que gestores de RH responsáveis já fazem em seu dia a dia há muito tempo. Certamente, a esmagadora maioria dos trabalhadores de médias e grandes empresas já ouviu algo semelhante.
Entendendo friamente
Então, o que seria exatamente esse conceito? Para os criadores dessa “nova ideia”, “trata-se de preferir um trabalho significativo, relacionamentos saudáveis, oportunidades de crescimento e bem-estar”. Flávio Neves é “Chief Happiness Officer”, criador dessa frase.
Ao mesmo tempo em que Neves diz que “sua felicidade é sua responsabilidade. Não é do seu chefe, seus colegas de trabalho e nem da sociedade”, .alega que “a felicidade no trabalho não acontece simplesmente. É necessário um esforço focado e de longo prazo da administração e dos funcionários juntos”.
Renata Rivetti, diretora da Recconect, diz que “a felicidade corporativa é alcançada por meio de alguns desafios a serem cumpridos no ambiente organizacional”.
Há controvérsias
Para muitos psicólogos, sociólogos e antropólogos, todo esse pensamento é extremamente fluido. Ou seja, inter-contraditório tanto nas frases de Neves quanto na percepção da respeitadíssima diretora. Afinal, tudo pode ser resumido em uma ação única que a empresa deve desenvolver: treinamento e qualificação dos colaboradores.
O avanço das relações corporativas, pressionado, de certa forma, pela evolução da tecnologia, produz desconforto nos colaboradores que não acompanham o ritmo de mudanças. “Conhecimento” é base para crescimento pessoal; nesse cenário, é preciso atualizar-se quanto a técnicas e práticas referentes às funções desempenhadas.
Não o fazer provoca sensação de deslocamento da equipe e desesperança quanto a progresso dentro da empresa.
Treinar… atualizar… reciclar
Assim, treinamento de colaboradores torna-se importante porque cria oportunidade de ampliação da base de conhecimento e melhoria das habilidades. Dessa maneira, o colaborador se sente eficiente, útil e responsável pelo crescimento da empresa.
Portanto, merecedor de elogio e atenção por parte da equipe como um todo e dos superiores hierárquicos. É por essa razão que é fácil associar felicidade corporativa a treinamentos adequados da equipe.
Neologismos e jargões são momentaneamente eficazes num ambiente corporativo. Contudo, é importante que os empresários desenvolvam visão crítica sobre o que é oportunismo e o que é oportunidade.
Este artigo foi escrito por Serg Smigg e publicado originalmente em Prensa.li.