Flow e a quebra da polarização
Ninguém hoje discute que, após o surgimento da internet – e por que não, das redes sociais – a comunicação mudou e as pessoas podem expressar o que quiserem na internet. Alguns juristas defendem que as leis sejam adaptadas nos dias de hoje por causa da rede. O caso é: o ser humano está preparado para esse tipo de liberdade? Claro, a internet como forma de comunicação – um veículo direto – tem tendência de ser uma ferramenta de democratização como, também, tende à disseminação de mentiras e notícias falsas. Isso sempre vai cair na ética.
A ética nasce na antiguidade – na Grécia antiga – como modo de educação tendendo a mostrar para o cidadão grego, o que eles tinham como cultura. O ETHOS grego era seu espírito que, o filósofo Aristóteles – que viveu trezentos anos antes de Cristo – disse que só poderia existir de verdade se fosse prática.
Ora, para Aristóteles, não poderia existir uma ética só teórica e sim, uma ética pratica com a phronsis que, muitas vezes, se traduz em prudência. As tendências modernas sempre confundiram a prudência com a polidez, que nada mais é do que ser polido.
A polidez para o filósofo contemporâneo, André Comte-Sponville, pode ser a origem de todas as virtudes. Mas, para ele, também demostra uma virtude muito ambígua, pois, a polidez como virtude faz pouco caso da moral e a moral faz com a polidez. Para Sponville, de nada vale uma polidez para um nazista, já que eram homens cultos, iam em operas consagradas e tinham leituras sofisticadas das maiores obras literárias mundiais. Por outro lado, mataram milhões em campos de concentração e uma guerra mundial, mostrando, a meu ver, que o conhecimento não é o bastante para se encontrar a virtude.
Existem três tendencias para a virtude: conhecimento (como mudança de paradigma da realidade), virtude e liberdade. Quando você conhece como ponto de saber algo, começa a olhar a realidade muito mais além daquilo que se acredita ou que sente ser verdade. E, com o conhecimento, – o saber além das nossas crenças da realidade – tendemos a transcender aquele discurso e aquela realidade que se mostra falsa por si mesma.
Muitas vezes, na filosofia, temos que transcender aquilo que acreditamos, para fazer uma análise mais profunda daquilo que tende a ser verdade.
Com a tendência dos podcasts – trazida para o Brasil pelo Flow – se começa a ter outra tendência de comunicação. Não uma comunicação verticalizada onde o apresentador dizia o que queria e o público acatava sem meios de pesquisas e sem meios de se comunicar, mesmo a partir dos anos 80 e 90 (do século 20) onde as rádios abriram os telefones muito mais, começamos a ter voz. Qualquer um pode abrir um canal de podcast ou no YouTube e falar o que acha, sempre respeitando as diretrizes da empresa. Porém, o podcast volta com o glamour do rádio e como os rádios amadores faziam seus experimentos de opinião.
O Flow traz a fórmula criada por Joe Rogan (comediante) lá nos Estados Unidos, que mistura rádio e a TV em forma de bate papo (conversa informal) onde as pessoas podem falar o que quiserem. Só não deram conta do tamanho que tomaram durante a sua trajetória de três anos.
Uma fórmula que derrubou muitas coisas e muitos canais da mídia tradicional que ainda, insiste numa fórmula antiga que não conquista mais ninguém. Mas será mesmo que estamos preparados para essa liberdade? Pois, como vimos, tendemos a não aceitar mudanças e isso se confunde com o conservadorismo. No fundo – nossa cultura latina mostra – demoramos em assimilar mudanças.
Mudanças para onde? Existem conceitos há muito esquecidos dentro da sociedade e no meio político, a liberdade é um deles. Acostumados com uma narrativa só, a classe política vem enfrentando uma maior mudança de postura eleitoral. Uma mídia só não mudará o pensamento – mesmo que grande parte dos cidadãos brasileiros não tenha acesso a internet – de grande parte dos eleitores. Mas, seguindo o mundo inteiro, estamos polarizados desde 2013, quando as pessoas começaram a ter lados. O que parece que o ser humano tem tendências de pertencer a um lado, um clã (mesmo que não seja sanguíneo).
Com novas mudanças anunciadas nessa última sexta-feira (23), os Estudios Flow, como produtores de conteúdo, mostram que a tendência de podcast vem conquistando o público. Não mais por causa do meio onde a mensagem é feita, mas por conta do conteúdo que é mostrado.
E, nessa leva de polarização política, – e, porque não, religiosa – o Flow videocast, vem mostrando a quebra de parcialidade e vem conversando com todos os lados, como na ultima segunda-feira (26) com Ciro Gomes (PDT) e o ministro da Economia do governo Bolsonaro, Paulo Guedes na terça-feira (27).
Mas, qual a fórmula que levou grandes nomes da política – como o próprio presidente da república brasileira Jair Bolsonaro (PL) – irem lá conversar um pouco? Mostrar sua verdadeira face? Parece que a verdade é muito mais lucrativa do que a produção artificial.
Este artigo foi escrito por Amauri Nolasco Sanches Junior e publicado originalmente em Prensa.li.